Um acordeão de 80 baixos, como o da foto, funciona como uma verdadeira orquestra. Era uma desses que Fabrício tocava com muita maestria e que o tornara famoso ao longo da fronteira do Rio Grande do Sul/ Santa Catarina. |
"No dia 4 de dezembro se comemorava a festa da padroeira do lugar,
Santa Bárbara. Os líderes locais se reuniram para escolher o festeiro, que era o
responsável pela organização da efeméride. Naquele ano de 1940, dr. Giovanni e
a mulher foram os escolhidos e o casal se propôs fazer uma festa inesquecível.
Nossa família foi convocada para colaborar. Meu pai ficou encarregado do bar do
salão de festas e minha mãe do restaurante, a ser instalado num grande barracão
numa área próxima. As novidades agradaram aos moradores do lugar.
O escolhido para animar os bailes foi novamente o famoso
sanfoneiro Fabrício, o garanhão da fronteira. Ele estava no Rio Grande do Sul,
tocando numa festa, quando foi alcançado por um emissário de Anita Garibaldi. Prontamente,
atendeu ao chamado de meu pai, mas, desta vez, não ficou hospedado em nossa
casa, mas no pequeno hotel do lugar, pois a família estava toda envolvida com a
festividade e não tinha como atendê-lo.
Fabrício animou os bailes durante os três dias. Eles tinham
início na parte da tarde e entravam pela noite. Só que, no último dia dos
festejos, na hora de acertar o pagamento, houve um complicador. Todos os
pagamentos eram feitos pelo velho Granzotto, uma espécie de prefeito do lugar.
Ele era um homem de poucas falas e bastante ranzinza. Ao lhe ser apresentada a
conta do sanfoneiro, ele disse que não pagava, pois achava o
preço muito alto. Meu pai que estava
presente, ficou numa situação constrangedora, pois fora ele quem mandara chamar
Fabrício, a pedido dos organizadores da festa. Tentou argumentar, mas o homem permaneceu inflexível.
– Só pago – disse ele – se houver um bom desconto.
– O meu preço é este – argumentou Fabrício. – É o que eu
cobro em todos os lugares.
– Mas este preço eu não pago – concluiu o velho Granzotto.
Fabrício se retirou e resolveu não insistir, mas preparou
uma revanche. Ele tinha ainda que tocar no baile de encerramento e resolveu
fazê-lo para não decepcionar sua plateia. Subiu no estrado que ficava num plano
elevado no salão e executou as melhores peças de seu repertório. A notícia do
calote já correra entre os participantes da festa e todos estavam revoltados.
Já no final do baile, Fabrício parou de tocar e, dirigindo-se ao público,
falou:
– Antes de qualquer coisa, quero agradecer os
aplausos e o entusiasmo de todos vocês. Agradeço a acolhida que tive do povo de
Anita Garibaldi. Para encerrar essa festança de Santa Bárbara, compus uma
modinha que dedico ao povo do lugar.
Soltou os primeiros sons de seu famoso acordeão e, com voz
forte, cantou por seguidas vezes o seguinte:
Quando eu tava no Rio Grande
Me mandaram me chamar
Para Anita Garibaldi
Uma festa eu vim tocar
Depois de acabada a festa
Não quiseram me pagar
E não foi outra pessoa
Foi o chefe do lugar.
Me mandaram me chamar
Para Anita Garibaldi
Uma festa eu vim tocar
Depois de acabada a festa
Não quiseram me pagar
E não foi outra pessoa
Foi o chefe do lugar.
Assim, terminou, melancolicamente, a festa de Santa Bárbara.
O bom senso das pessoas dizia que a atitude tomada pelo
chefão do lugar fora injusta e que o sanfoneiro Fabrício não merecia aquele
desaforo, mas a modinha dele ficou famosa e todos a divulgaram pelo povoado e
cercanias.
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