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No meu livro, Menino Tropeiro, descrevo alguns costumes exóticos dos italianos, residentes no Planalto Catarinense, mais precisamente no povoado de Cerro Negro, hoje um importante município da região. O ano era 1934. Eis a narrativa:
"Pouco a pouco meu pai
estabeleceu relações com o povo do lugar e as pessoas o procuravam para
resolver diversos problemas. Passou a ser convidado a visitar residências e
fazendas onde lhe dispensavam acolhida respeitosa. Mantinha também boas
relações com a comunidade italiana local que tinha algumas tradições curiosas,
como a passarinhada e a batida surpresa.
A
passarinhada se realizava em determinado dia e consistia num grande
almoço, cujo prato principal era uma macarronada acompanhada de carne de
pequenos pássaros. Dias antes, os garotos saíam pelos matos atrás de todo tipo
de passarinho que abatiam com suas fundas certeiras. Caçavam centenas de
pássaros que eram depenados e cozidos, servidos com o macarrão, acompanhado de
vinho. Confesso que a primeira vez que minha família participou desse almoço,
senti repugnância e não comi. Certamente, hoje, tal costume seria abominado
pelos ecologistas, mas os tempos eram outros.
A batida surpresa
era
outro curioso costume dos italianos e que consistia
no seguinte: quando um membro da comunidade, de poder aquisitivo razoável, fazia
aniversário e deixava a data passar em brancas nuvens, sem convidar os amigos
para um almoço ou jantar ou mesmo para umas canecas de vinho, o pessoal
aguardava a chegada da noite, quando ele e a família já estivessem dormindo.
Aproximavam-se em silêncio da residência, momento em que alguém batia à porta,
enquanto rojões estouravam no céu e as sanfonas tocavam músicas típicas
italianas. Todos gritavam o nome do aniversariante e lhe davam os parabéns.
Enquanto se fazia grande
algazarra em frente à casa da vítima, um grupo de homens invadia os fundos da
residência, atrás de galinhas, patos ou perus que eram levados até a cozinha
onde as melhores cozinheiras do povoado os preparavam para o jantar em honra do
homenageado. Corriam também até as adegas e traziam garrafas ou pequenos
barris de vinho, enquanto o povo, dentro da casa, dançava animadamente. O ponto
alto da comemoração era o jantar, durante o qual se faziam discursos e se
levantavam brindes em honra do dono da casa que, na maioria das vezes, ainda em
trajes de dormir, assistia a tudo atordoado, acompanhado de seus familiares".
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