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O livro 1808 de Laurentino Gomes (Editora Planeta) traz na
capa o seguinte texto: “Como uma rainha
louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão Bonaparte e
mudaram a História de Portugal e do Brasil”. No capítulo 13, o autor fala
especificamente do regente (depois rei) D. João VI e descreve algumas de suas esquisitices. Aqui,
reproduzimos algumas delas.
“ O Príncipe regente e, depois de 1816, rei do Brasil e de
Portugal, D. João tinha medo de siris, caranguejos e trovoadas. Durante as
frequentes tempestades tropicais do Rio de Janeiro, refugiava-se em seus aposentos na companhia do roupeiro
predileto, Matias Antônio Lobato. Ali, com uma vela acesa, ambos faziam orações
a santa Bárbara e são Jerônimo até que cessassem os trovões. Certa noite foi
picado por um carrapato na fazenda de Santa Cruz, onde passava o verão. O
ferimento inflamou e causou febre. Os médicos lhe recomendaram banho de mar.
Como temia ser atacado por crustáceos, mandou construir uma caixa de madeira,
dentro da qual era mergulhado nas águas da Praia do Caju, nas proximidades do
Palácio de São Cristóvão. A caixa era uma banheira portátil, com dois varões
transversais e furo laterais por onde a água do mar podia entrar. O rei
permanecia ali dentro por alguns minutos, com a caixa imersa e sustentada por
escravos para que o iodo marinho ajudasse a cicatrizar as feridas.
Esses mergulhos improvisados na Praia do Caju, a conselho
médico são a única notícia que se tem de um banho de D. João nos treze anos em
que permaneceu no Brasil. Quase todos os historiadores o descrevem como um
homem desleixado com a higiene pessoal e avesso ao banho. “Era muito sujo,
vício de resto muito comum a toda a família, a toda a nação”, afirmou Oliveira
Martins. “Nem ele, nem D. Carlota, apesar de se odiarem, discrepavam na regra
de não se lavarem.” A relutância da corte portuguesa contrastava com os
costumes da colônia brasileira, onde os cuidados com o asseio pessoal chamava a
atenção de quase todos os viajantes que por aqui passaram nessa época.”Apesar
de certos hábitos que aproximam da vida selvagem os brasileiros da classe
baixa, qualquer que seja sua raça, é para notar que todos eles são
notavelmente cuidadosos com a limpeza do corpo”, escreveu o inglês Henry
Koster, que morou em Recife entre 1809 e 1820."
Entre outras excentricidades do monarca, o autor se refere ao
seu gosto pelos famosos franguinhos, que costumava levar na algibeira de seu surrado casaco. Já vinham
desossados e assados na manteiga e ele os devorava com avidez, forçando,
naturalmente, seu intestino a funcionar em momentos impróprios. Mas o rei não
se incomodava com o fato, pois se prevenia, levando consigo uma cadeirinha com
um grande penico em baixo. No momento
oportuno, ele descia da carruagem, baixava os calções e ali, diante de todos,
fazia suas necessidades, mesmo que mulheres estivessem presentes.
Esse era o rei D. João VI, mas o escritor Laurentino Gomes
conclui, afirmando a importância dele para o Brasil, com a abertura dos portos
e o consequente desenvolvimento da economia brasileira,
transformando uma colônia esquecida, num reino e, depois,
num país independente com a proclamação da independência por seu filho, D. Pedro
I. Nascia o império brasileiro.
Laurentino Gomes escreveu uma trilogia extraordinária sobre
a história brasileira, com os livros: 1808,
1822 e 1889. É leitura imperdível. Você encontra os livros nas boas
livrarias. Esses livros foram escritos numa linguagem fácil e agradável, fruto
de uma pesquisa imensa. O leitor encontra nesses livros aquela história
brasileira que não lhe contaram na escola.