A narrativa que segue consta de meu livro MENINO TROPEIRO e aconteceu no ano de 1937, na localidade de Anita Garibaldi, Santa Catarina, um povoado de colonização italiana, de população pacífica, mas onde alguns indivíduos praticavam atos de puro vadalismo. Leia o texto.
"Naqueles dias sombrios aconteceu um fato que veio dar uma reviravolta em nossas vidas. Houve um grave desentendimento entre Euclides Granzotto e dr. De Negri. O velho Granzotto estava adoentado e o filho mais velho da família morava no povoado de São Pedro, próximo ao Rio Pelotas, na fronteira com o Rio Grande do Sul, onde tinha negócios. Quem na verdade dava as ordens em nome do clã era o segundo filho, Euclides Granzotto. Até hoje não sei quais foram as causas desse desentendimento entre De Negri e Euclides, mas meu pai ficou do lado do médico, a quem estava ligado por uma forte amizade. Diante da situação, resolvemos abandonar a casa onde morávamos, que era de propriedade dos Granzotto. Fomos provisoriamente para uma casa nos fundos da residência dos De Negri, onde ficaríamos até a poeira baixar.
Em
conversa com o médico, meu pai se prontificou a servir de intermediário entre
os litigantes, pois o lugar era pequeno e não valia a pena esse tipo de
disputas. Dr. Giovani concordou e lá foi o professor ao encontro de Euclides
Granzotto, cuja venda ficava aberta até o início da noite. A conversa entre
ambos se desenvolveu em clima cordial e meu pai se retirou, acreditando ter
aparado todas as arestas. Mas não era bem assim. Na verdade, ele estava sendo
vítima de um golpe traiçoeiro. Ao atravessar um pontilhão de acesso à casa do
médico, já era noite avançada, quando foi abordado por dois indivíduos armados
de relhos, que iniciaram o ataque com estas palavras:
–
Professor, o sr. vai levar uma surra pra não meter mais o nariz naquilo que não
é da sua conta.
Das
palavras, passaram ao ato e açoitaram meu pai por todo o corpo, sem lhe dar
nenhuma oportunidade de defesa. Ele chegou em casa ferido no rosto, nos braços,
nas costas, nas pernas. Dr. De Negri correu em seu socorro e o levou até o
consultório onde, num clima de grande revolta, todos procuravam uma explicação
para a prática covarde. Minha mãe chegou, em seguida, e, muito assustada, perguntou:
–
Meu Deus, mas quem é o responsável por essa covardia?
Enquanto
recebia atendimento médico, o professor fez um relato dos acontecimentos, desde
a saída da reunião com Euclides Granzotto até o
encontro com os dois vagabundos, ao ser surpreendido na escuridão da noite.
–
Quem seriam os capangas que o atacaram, professor? – perguntou o médico.
–
Um deles, tenho certeza, é o filho da dona da pensão. Estava escuro, mas reconheci
sua voz.
Dr.
Giovanni resolveu enviar, ao amanhecer, um emissário ao delegado responsável
pela manutenção da ordem na região, um fazendeiro, que morava bem longe do
povoado. Ele chegou na parte da tarde acompanhado de dois ajudantes. Visitou
meu pai e se inteirou dos detalhes da emboscada. Em seguida, foi para a escola
e mandou seus auxiliares buscarem o filho da dona da pensão, cujo nome acho que
era Argemiro, um homúnculo de 1,50m de altura. Depois de conversar com o
delegado uns dez minutos, ele entregou todo o esquema. Deu o nome do comparsa,
um tal de Antônio e confessou que ambos foram contratados por Euclides
Granzotto para fazer o serviço. Eles
atacaram meu pai para atingir indiretamente o médico, pois atacar o médico
certamente criaria uma comoção geral junto ao povo da região, face ao prestígio
desfrutado por ele.
O
delegado procurou o mandante do crime, mas este negou enfaticamente que tivesse
ordenado a emboscada.
–
Imagine, delegado – falou Euclides –, o sr. acha que eu iria fazer uma coisa
dessas? O professor é um homem muito conceituado e minhas sobrinhas são alunas
dele.
O
delegado saiu da reunião convencido da culpabilidade do suspeito. Segundo ele,
Paulino Granzotto, o chefe da família, não tinha nada a ver com o fato, pois se
encontrava acamado, vítima de grave enfermidade e não era homem de
comportamento violento. Pelo contrário. O filho mais velho nem morava em Anita
Garibaldi. Os outros filhos não tinham voz ativa nas decisões da família. A
responsabilidade pelo atentado ao professor era integralmente de Euclides.
O inquérito parou nesse ponto. Quem iria levar às barras de um tribunal o poderoso Granzotto? Na verdade, na região, apesar dos novos tempos, não existia justiça. O juiz mais próximo ficava em Lages e o delegado era mera figura decorativa. O que determinava era a lei do mais forte. Ninguém foi punido. Um dos capangas, o tal de Antônio, morreu uns meses depois e meu pai o perdoou. Euclides Granzotto, segundo eu soube mais tarde, ingressou na política e chegou a ser prefeito da cidade Lages. Mas o episódio marcou para sempre a população daqueles rincões. Ninguém tomou a defesa de meu pai, ninguém ergueu a voz para protestar. Essa era a dura realidade que feriu a nossa família, por ter atingido de forma humilhante um homem honrado que, através do ensino, sem medir sacrifícios, dedicava sua vida ao progresso daquela população."
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