segunda-feira, 18 de julho de 2022

COMO ERA FEITA A DERRUBADA DOS PINHEIROS EM CERTAS REGIÕES DO SUL DO BRASIL, NOS ANOS DE 30 E 40





Para o leitor ter uma ideia de como era feita a derrubada dos pinheirais no Planalto Catarinense, nos anos de trinta e quarenta, vou publicar aqui um capítulo do meu livro, As Torres das Três Virtudes. É uma obra de ficção, mas os fatos narrados são reais, pois as coisas aconteciam aos olhos da autoridades, sem que fossem tomadas medidas para preservação dessa extraordinária riqueza nacional. (R.H. Souza)

"Clarice estava àquela tarde, no escritório com o Professor Virgílio, onde faziam o levantamento das contas a pagar e a receber da fazenda, quando Isabel veio avisá-la que tinha na entrada da propriedade um  homem que queria falar com os proprietários da Fazenda Pedras Negras.

– Receba-o na sala de visitas, Isabel, que já irei encontrá-lo – disse. – Será que é mais um comprador de gado?

– É bem possível! – completou Virgílio.

Quando foi ao encontro do inesperado visitante, Clarice percebeu que se tratava de um indivíduo de baixa estatura, gordo, uns 45 anos de idade. Ao vê-la entrar na sala, ele se levantou e, sorridente, foi ao seu encontro. Falava com um forte sotaque italiano.

– Permita que eu me apresente, senhora. Meu nome é Victório... Victório Parri. Moro no Rio Grande do Sul e percorro as fazendas da região para fazer o levantamento dos pinheirais existentes...

– Para que esse levantamento, sr... Victório?

– Acontece que...mas como é mesmo seu nome, senhora?

– Clarice! Clarice Weber.

– Sim, dona Clarice, porque vou instalar aqui no Município de Campos Novos uma serraria movida a vapor, a última palavra em tecnologia, e estou propondo aos fazendeiros, que têm pinheirais nas suas terras um excelente negócio. Eu derrubo os pinheiros, arrasto eles até a serraria, serro as tábuas, vendo tudo e dou uma parti-cipação pra eles..

– Participação de quanto, sr. Vitório?

– Geralmente, de 20%, livre de qualquer despesa, pois o capital e o trabalho são de minha inteira responsabilidade.

– Aqui em Pedras Negras temos poucos pinheirais.

– Tem madeira de primeira, dona Clarice. Já observei, andando por aí.

– Os pinheiros que temos só são derrubados para uso da madeira na própria fazenda. Com eles, construímos casas para os empregados, fazemos cercas e currais. E, no lugar de um pinheiro derrubado, plantamos outro.

– A sra. é a proprietária da fazenda?

– Sim...eu e meu marido, mas quem administra sou eu. O que eu resolvo, ele assina em baixo.

– Posso lhe garantir, d. Clarice, que quase todos os fazendeiros do Município participam do nosso plano.

– Eu soube que muitos industriais vieram do Rio Grande do Sul para levar os nossos pinheirais. Do jeito que vão as coisas, em pouco tempo não restará mais nada. Aqui no Sul, há muitos anos atrás, pelo que sei, uma empresa estrangeira derrubou milhares de hectares de florestas de pinheiros e imbuias  ao longo da estrada   de  ferro  São Paulo-Rio Grande do Sul, como parte do pagamento pela construção da referida estrada. Devastaram uma faixa de 15 km de cada lado da ferrovia e tudo virou um grande deserto, com milhões de árvores abatidas, enviadas aos Estados Unidos, para construção de casas para os americanos,

– Nós não queremos fazer um deserto da sua fazenda, d. Clarice. Só vamos tirar uns pinheirinhos aqui e outros acolá.

– Agradeço muito o seu interesse, sr. Victório, mas não estamos interessados na sua proposta. Preferimos preservar as nossas áreas de florestas, principalmente os exemplares de araucária.

Clarice acabou de falar e se levantou, para indicar o fim da entrevista. Victório Parri se despediu meio sem graça e saiu pela porta da frente, onde um carro com motorista o esperava.

Ao comentar com Virgílio a visita do italiano, ouviu dele que há muito tempo se iniciara o cerco aos pinheirais das fazendas próximas e que serrarias eram  montadas  na região, com a concordância dos fazendeiros que, assim, ganhavam um dinheiro fácil sem pensar nas consequências futuras.

– Eles derrubam os pinheiros – acrescentou o professor – e depois mandam as tábuas para o litoral. Um comprador de gado me contou que, na estrada que vai de Lages para Florianópolis, existem filas de caminhões, descendo a serra, carregados de madeira, que descarregam nos portos catarinenses, de onde vão para diversas cidades brasileiras e até para o exterior.

– E o nosso governo não acorda para a situação. Temo que, no futuro, nossos filhos e netos só conheçam um pinheiro através de fotografia.

– Podes crer, minha cara, que isso acontecerá, pois a ganância fala mais alto.

Na hora do jantar, Clarice falou com o marido sobre a proposta do italiano e ele concordou plenamente com sua decisão.

– No seminário – disse ele – fui educado dentro de uma filosofia preservacionista, que mantenho até hoje. Todo progresso às custas da natureza deixa feridas profundas, que jamais cicatrizam. Os frades lá falavam muito de São Francisco, o fundador da Ordem, um homem que tinha profundo amor à natureza, amor esse expresso no famoso Cântico do Irmão Sol,  que tem uma estrofe que diz assim: “Louvado sejas tu pela terra, Senhor; Pois ela nos sustenta e produz fruto e flor; Flor dum fino matiz com que nós Te adoramos, fruto diverso e bom com que nos sustentamos”.

– Isso é maravilho! – disse Clarice. – Arranja-me uma cópia do Cântico do Irmão Sol, meu querido, que vou colocar num quadro lá no escritório

– O santo – prosseguiu o advogado– fala do sol, da lua, das estrelas, da água...

– Como ele fala da água?

 Júlio César fez uma pausa, depois declamou: “Louvado sejais sempre ó divino Senhor, Pela água, nossa irmã, a qual, com seu frescor, Pura como o cristal, fecundante e preciosa, Nos suaviza a sede e faz florir a rosa”.

Ela faz florir a rosa – continuou Clarice –, os pomares, faz crescer o trigo que alimenta o homem, as pastagens que nutrem os animais, as matas que alimentam e abrigam os pássaros.

– É isso aí, minha querida – concluiu o ex-seminarista–. Encontramos mais uma entusiasta do Poverello de Assis.

E o casal avançou pela noite, conversando sobre a preservação da natureza e como, na prática, deveriam atuar na fazenda para que a necessidade do lucro não prejudicasse o meio ambiente, face à sua importância no desenvolvimento dos seres vivos, coisas esquecidas por muitos proprietários de terras."




 

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domingo, 3 de julho de 2022

RETRATO DA VIRGEM MARIA, A MÃE DE JESUS, REVELADO A CHICO XAVIER PELO ESPÍRITO DE EMMANUEL

 


Segundo Chico Xavier, este retrato falado de Maria, Mãe de Jesus,  teria sido relevado através dele, pelo Espirito de Emmanuel, ao fotógrafo Vicente Avela, que, durante muito tempo fez retoques sucessivos até chegar à imagem atual. O acontecimento se deu na noite de primeiro de dezembro de 1984 no Grupo Espírita da Prece, em Uberaba, Minas Gerais.

Segundo declarações de Chico Xavier,  a fisionomia de Maria assim retratada, revela tal qual Ela é conhecida quando de Suas visitas às esferas espirituais mais próximas e perturbadas da crosta terrestre; como por exemplo, na Legião dos Servos de Maria, grande instituição de amparo aos suicidas descrita detalhadamente no livro Memórias de um Suicida, recebido mediunicamente por Yvonne A. Pereira.



                                                
.Chico Xavier com o retrato de Maria

quarta-feira, 29 de junho de 2022

JUS PRIMAE NOCTIS - O DIREITO À PRIMEIRA NOITE *

 


No livro as AS TORRES DAS TRÊS VIRTUDES, o autor deste blog narra um episódio um tanto inusitado referente ao provérbio latino Jus primae noctis, adotado por um fazendeiro, fato,que dizem as lendas, teria acontecido numa fazenda no Planalto Catarinense, na década de trinta.

*  O jus primae noctis teria sido um costume medieval que dava ao senhor feudal o direito de dormir com a noiva na primeira noite das núpcias, desde que os noivos fossem súditos do referido senhor. 


Leia o texto que segue do referido livro.

"Virgílio Monteiro acompanhava e contabilizava os lucros do patrão. E ele chegou também à conclusão, que estava na hora de mudar um pouco de rumo e constituir família. Já tinha amealhado um bom dinheiro ao longo dos anos e podia montar uma casa para nela acolher a amada de seu coração, e já tinha uma candidata. Era Sofia, a jovem auxiliar de Isabel na administração da casa da fazenda. Virgílio sabia que era correspondido e, embora, o seu namoro com a jovem fosse meio às escondidas, tinha convicção que seu pedido não seria rejeitado. Quando fez a proposta a Sofia, ela fez uma observação:

– Sim, eu concordo em me casar contigo, Virgílio, pois sei o quanto me amas e eu também te amo muito. Mas, casamento?... como isso será encarado pelo patrão? Sabes que nossa liberdade aqui é limitada.

– Eu falarei com ele e se não concordar, iremos embora. Tenho o suficiente para começarmos uma nova vida em qualquer lugar.

– Sabes que não é assim tão fácil. Sabemos demais para sairmos sem mais nem menos deste lugar.

– Fica tranquila, minha querida, que tudo dará certo.

Quando Virgílio expôs suas intenções a Libório Antunes, a reação do patrão foi positiva e ele falou:

– Ótima ideia, pois gosto muito que aqueles que trabalham para mim, fiquem  cada  vez  mais unidos. E  tem  mais,  eu custearei todas as despesas do casamento, vou lhe arranjar uma casa nos terrenos da fazenda e tu e tua mulher continuarão trabalhando para mim.

Virgílio foi aos saltos contar as novidades para a noiva.

            – O que está por trás de tanta bondade, Virgílio? Estou desconfiada, pois quando a esmola é muito grande... o santo desconfia.

          – Ele gosta muito da gente, minha querida, e quer que continuemos a seu serviço.

– Espero que estejas certo, Virgílio. Mas confia, desconfiando, meu querido

O casamento ficou marcado para dali a seis meses e se realizaria na própria fazenda. O juiz de paz de Campos Novos foi convidado, juntamente com o páraco da cidade, para a realização das cerimônias civil e religiosa.

          A festa de núpcias de Virgílio e Sofia foi um acontecimento na fazenda. A noiva estava lindíssima, num belo vestido de seda, comprado na cidade de Lages. Foi organizada uma grande festa, patrocinada por Libório Antunes dos Santos, com churrasco para todos os empregados, com muita comida e muita bebida. Foi organizado também um grande baile, animado por um conjunto de músicos, que veio especialmente de Abdon Batista. O baile entrou pela noite e Libório era um dos mais animados. Dançou com a noiva por diversas vezes, o que deixou Virgílio um tanto intrigado. O fazendeiro não se cansava de elogiar a beleza de Sofia e cochichava em seus ouvidos, enquanto dançava, deixando-a nervosa e constrangida. Quando voltou a dançar com Virgílio, a noiva pediu que saíssem mais cedo do baile e se retirassem para a nova casa, onde passariam a lua-de-mel. Disse não suportar mais os galanteios do patrão, que a convidava a toda hora para dançar. A coisa estava tão escancarada, que os participantes da festa comentavam entre si.

– Deves dar-lhe um desconto – disse o professor, sem convicção –, pois ele bebeu muito durante a festa e está bêbado.

– Espero que estejas certo, meu querido.

Próximo da meia-noite, os convidados começavam a se retirar e Virgílio se aprontava para conduzir a noiva ao leito nupcial, quando dele se aproximou Justino, o capataz da fazenda. Pediu que o acompanhasse até um quarto ao lado, pois tinha um assunto para lhe falar. O Professor ficou desconfiado e pediu que Sofia o aguardasse, que logo estaria de volta.

– Pedi que viesse até aqui – disse Justino, constrangido –, pois tenho para o senhor um recado do patrão.

– Que recado? – perguntou Virgílio.

– O patrão mandou avisar que a primeira noite é dele...

– Como... a primeira noite ...

– Sim, ele  diz  que  existe  um  costume antigo, que dá ao chefe, ao senhor, ao patrão, o direito de dormir a primeira noite com a noiva. Ele diz que é só a primeira noite.

– Justino, tu sabes o que estás me dizendo? – falou Virgílio, vermelho de raiva.

– Sei, perfeitamente, professor.  Será que o sr. acha que o patrão lhe preparou essa festa, lhe deu casa, mandou comprar o vestido da noiva... tudo de graça. Como paga, ele só quer uma noite com a noiva.

– Não admito – gritou Virgílio –, vou falar com ele.

– Eu, se fosse o senhor, ficava quieto e aceitava as coisas como são, porque a noiva já foi mesmo levada para o quarto dele. Ela deve ter esperneado bastante, mas acaba tendo que se conformar.

Virgílio deu um salto e se precipitou em direção à porta do cômodo em que estava  com Justino,  abriu-a  violentamente, mas  deu  de cara com dois capangas de Libório, que o aguardavam do lado de fora. Os homens o empurraram de volta ao interior do quarto e o fizeram sentar-se. Justino procurou acalmá-lo:

– Professor, procure se conformar. O sr. sabe que, quando o patrão quer uma coisa, ele sempre consegue. Não adianta ficar nervoso. Além disso, ele garante que é um direito dele.

Virgílio  baixou  a   cabeça  e   começou  a  chorar  baixinho. Estava desesperado diante da dura realidade que o atingia em cheio no dia em que pensava ser o mais feliz de sua vida. Sua noiva, sua querida Sofia, estava lá, no leito do maldito Libório Antunes, o homem que agora revelava toda a maldade de seu coração. Enquanto isso, ele estava ali, impotente, cercado por três capangas prontos a acabar com sua vida, se reagisse.

Depois de quatro horas de longa espera, quando o dia já começava a clarear, finalmente a porta do quarto de Libório se abriu e Sofia, cambaleante, se aproximou e atirou-se nos braços de Virgílio, em choro convulsivo. Justino que estava na sala, aproximou-se do casal e falou:

– Vou levar os dois para casa. Viram, tudo acabou e ninguém se machucou. É melhor assim.

Abraçado, o casal se dirigiu à porta da residência, sem dizer palavra, com Sofia amparada por Virgílio, enquanto Justino providenciava uma charrete para levá-los para o novo lar, que ficava a três quilômetros da sede da fazenda. Aquele  que,  para  o   casal,  deveria  ser  um  dia  de  muita   felicidade,  se tranformou no pior dia de suas vidas. O futuro para eles era um grande ponto de interrogação."

 

Naquela manhã, depois da noite de núpcias, Libório se levantou da cama mais tarde e se dirigiu à sala de jantar, para tomar o café da manhã. Isabel já o aguardava e foi a primeira a falar:

– Espero que o patrão tenha tido uma boa noite.

     – Dentro das circunstâncias, até que foi uma noite bem agradável.

– O patrão tem alguma recomendação especial para o dia de hoje?

– Tenho, sim. Quero que mantenhas vigilância constante sobre Sofia, a mulher de Virgílio. Acho que eles, depois do que aconteceu, pretendam fugir da propriedade e isso eu não permitirei. Ambos sabem de muitas coisas aqui da fazenda, que não devem ser conhecidas lá fora, senão perderemos o controle.

– Mas sozinha eu não posso vigiar os dois...

          – Exatamente! Cuidas de Sofia que de Virgílio, Justino e seus homens cuidarão.

Depois de proferir as últimas palavras, o fazendeiro tomou seu café, tranquilamente. Ao sair da sala de jantar, encontrou-se com Justino. O capataz lhe relatou que os recém-casados, depois que a jovem saíu do quarto do chefe, foram levados até sua nova residência, onde permaneciam até aquele momento, provavelmene dor-mindo.

– Deixa descansarem! – concluiu Libório. – Nada como um bom sono para curar as mágoas. Mais alguns dias e tudo estará esquecido, pois o tempo cicatriza todas as feridas.

Acabou de falar e montou em seu cavalo, para fazer a visita de rotina às dependências da fazenda, pois era adepto daquele ditado popular que dizia: “O que engorda o boi é o olho do dono”.




sexta-feira, 24 de junho de 2022

UM ACONTECIMENTO QUE CAUSOU UM GRANDE TRAUMA NA VIDA DE UM POBRE PROFESSOR



A narrativa que segue consta de meu livro MENINO TROPEIRO  e aconteceu no ano de 1937, na localidade de Anita Garibaldi, Santa Catarina, um povoado de colonização italiana, de população pacífica, mas onde alguns indivíduos praticavam atos de puro vadalismo. Leia o texto.

"Naqueles  dias sombrios  aconteceu  um  fato  que veio dar uma  reviravolta  em  nossas  vidas.  Houve um  grave desentendimento entre Euclides Granzotto e dr. De Negri. O velho Granzotto estava adoentado e o filho mais velho da família morava no povoado de São Pedro, próximo ao Rio Pelotas, na fronteira com o Rio Grande do Sul, onde tinha negócios. Quem na verdade dava as ordens em nome do clã era o segundo filho, Euclides Granzotto. Até  hoje  não sei  quais  foram as causas desse desentendimento entre De Negri e Euclides, mas meu pai ficou do lado do médico, a quem estava ligado por uma forte amizade. Diante da situação, resolvemos abandonar a casa onde morávamos, que era de propriedade dos Granzotto. Fomos provisoriamente para uma casa nos fundos da residência dos De Negri, onde ficaríamos até a poeira baixar.

Em conversa com o médico, meu pai se prontificou a servir de intermediário entre os litigantes, pois o lugar era pequeno e não valia a pena esse tipo de disputas. Dr. Giovani concordou e lá foi o professor ao encontro de Euclides Granzotto, cuja venda ficava aberta até o início da noite. A conversa entre ambos se desenvolveu em clima cordial e meu pai se retirou, acreditando ter aparado todas as arestas. Mas não era bem assim. Na verdade, ele estava sendo vítima de um golpe traiçoeiro. Ao atravessar um pontilhão de acesso à casa do médico, já era noite avançada, quando foi abordado por dois indivíduos armados de relhos, que iniciaram o ataque com estas palavras:

– Professor, o sr. vai levar uma surra pra não meter mais o nariz naquilo que não é da sua conta.

Das palavras, passaram ao ato e açoitaram meu pai por todo o corpo, sem lhe dar nenhuma oportunidade de defesa. Ele chegou em casa ferido no rosto, nos braços, nas costas, nas pernas. Dr. De Negri correu em seu socorro e o levou até o consultório onde, num clima de grande revolta, todos procuravam uma explicação para a prática covarde. Minha mãe chegou, em seguida, e, muito assustada, perguntou:

– Meu Deus, mas quem é o responsável por essa covardia?

Enquanto recebia atendimento médico, o professor fez um relato dos acontecimentos, desde a saída da reunião com Euclides Granzotto até o encontro com os dois vagabundos, ao ser surpreendido na escuridão da noite.

– Quem seriam os capangas que o atacaram, professor? – perguntou o médico.

– Um deles, tenho certeza, é o filho da dona da pensão. Estava escuro, mas reconheci sua voz.

Dr. Giovanni resolveu enviar, ao amanhecer, um emissário ao delegado responsável pela manutenção da ordem na região, um fazendeiro, que morava bem longe do povoado. Ele chegou na parte da tarde acompanhado de dois ajudantes. Visitou meu pai e se inteirou dos detalhes da emboscada. Em seguida, foi para a escola e mandou seus auxiliares buscarem o filho da dona da pensão, cujo nome acho que era Argemiro, um homúnculo de 1,50m de altura. Depois de conversar com o delegado uns dez minutos, ele entregou todo o esquema. Deu o nome do comparsa, um tal de Antônio e confessou que ambos foram contratados por Euclides Granzotto para  fazer o serviço. Eles atacaram meu pai para atingir indiretamente o médico, pois atacar o médico certamente criaria uma comoção geral junto ao povo da região, face ao prestígio desfrutado por ele.

O delegado procurou o mandante do crime, mas este negou enfaticamente que tivesse ordenado a emboscada.

– Imagine, delegado – falou Euclides –, o sr. acha que eu iria fazer uma coisa dessas? O professor é um homem muito conceituado e minhas sobrinhas são alunas dele.

O delegado saiu da reunião convencido da culpabilidade do suspeito. Segundo ele, Paulino Granzotto, o chefe da família, não tinha nada a ver com o fato, pois se encontrava acamado, vítima de grave enfermidade e não era homem de comportamento violento. Pelo contrário. O filho mais velho nem morava em Anita Garibaldi. Os outros filhos não tinham voz ativa nas decisões da família. A responsabilidade pelo atentado ao professor era integralmente de Euclides.

O inquérito  parou nesse ponto. Quem iria levar às barras de um tribunal o poderoso Granzotto? Na verdade, na região, apesar dos novos tempos, não existia justiça.  O juiz mais próximo ficava em Lages e o delegado era mera figura decorativa. O que determinava era a lei do mais forte. Ninguém foi punido. Um dos capangas, o tal de Antônio, morreu uns meses depois e meu pai o perdoou. Euclides Granzotto, segundo eu soube mais tarde, ingressou  na  política e chegou a ser prefeito da cidade Lages. Mas o episódio  marcou para sempre a população daqueles rincões. Ninguém tomou a defesa de meu pai, ninguém ergueu a voz para protestar. Essa era a dura realidade que feriu a nossa família, por ter atingido  de forma humilhante um homem honrado que,  através do ensino, sem medir sacrifícios, dedicava sua vida ao progresso daquela população."


       
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OPERAÇÃO KAABA – A sensacional narrativa do sequestro de um papa por terroristas islâmicos, no ano de 2035. 

O FILHO DE ANITA – uma narrativa repleta de mistério e suspense. Impróprio para pessoas impressionáveis. 

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quinta-feira, 23 de junho de 2022

O FRADE ALEMÃO QUE TINHA UMA DAS MAIORES COLEÇÕES DE SELOS DO BRASIL

 


Seu nome era Frei Cleto e, com a idade de 80 anos, vivia no Seminário São Luís de Tolosa, fundado pelos frades fanciscanos, na cidade de Rio Negro, Paraná. Frei Cleto iniciou sua coleção de selos ainda na Alemanha, em sua juventude e, chegando ao Brasil, deu  continuidade à mesma, correspondendo-se com vários países, em busca de seus preciosos selos. Em sua coleção estavam presentes preciosidades, como o Olho de Boi e Olho de Cabra, famosos selos nacionais,  além de outras rariedades estrangeiras.

Em sua humilde cela no convento, anexa ao seminário, Frei Cleto mantinha dezenas de pastas, nas quais guardava suas preciosidades filatélicas. Pessoas que entendiam do assunto e que conheceram a coleção do frade, diziam que ela era uma das mais valiosas do Brasil.

O que foi foi feito com os selos do velho frade, após a sua morte, não sabemos, mas, certamente foi dada a ela um destino condizente. Li, recentemente que, na cidade de Petrópolis, no convento franciscano, existe um serviço filatélico de venda de selos para ajudar missões religiosas na África. Talvez a coleção de Frei Cleto tenha ido parar lá. A conferir.
 





Prédio majestoso do antigo Seminário Seráfico 
São  Luis de Tolosa, onde hoje funciona a  Prefeitura
e numerosas secretarias do Município de Rio Negro, Paraná.
O prédio é cercado por um magnífico parque florestal, herança deixada pelos frades franciscanos, seguindo os passos de São Francisco de Assis, hoje patrono da ecologia.





terça-feira, 31 de maio de 2022

A RECEPÇÃO ATRAPALHADA D0 PROFESSOR HEITOR PARA NEREU RAMOS, GOVERNADOR DO ESTADO



                                               Foto de Nereu Ramos

No livro Menino Tropeiro, do autor deste blog, eu narro um episódio hilário, acontecido com meu pai, Heitor, com relação ao governador de Santa Catarina, à época, de nome Nereu Ramos que, mais tarde se elegou senador e durante um curto período de tempo, foi Presidente da República, durante a crise resultante do suicídio do Presidente Getúlio Vargas. Veja o texto, a seguir:
 

"No início do ano de 1940, o país vivia em pleno Estado Novo e Santa Catarina era governada pelo interventor Nereu Ramos. Ele era natural de Lages e, durante sua gestão, fez muitas obras no Município. Como professor do Estado, meu pai era getulista e apoiava o interventor.

Naquele ano, Nereu Ramos resolveu fazer uma viagem ao interior do Estado e visitar todos os distritos ao longo da estrada estadual, que ia até a fronteira de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul, delimitada pelo Rio Pelotas. Saindo de Lages, ele iria percorrer as localidades de Capão Alto, Campo Belo, Cerro Negro, Anita Garibaldi, Santo Antônio e São Pedro.

Como meu pai sabia escrever e tinha fama de bom orador, foi solicitado pelo pessoal de Anita Garibaldi para fazer o discurso de boas-vindas ao interventor. O mesmo fizeram os distritos de Cerro Negro e São Pedro. A caravana de políticos iria percorrer de automóvel os três lugares no mesmo dia. A solução para o problema foi meu pai acompanhá-la ao longo do caminho e pronunciar os discursos na chegada a cada lugar. Como não tinha muito o que dizer, preparou um texto único  e só trocava os nomes dos lugares no momento apropriado. Assim fez em Cerro Negro. Algumas horas depois, fazia o mesmo discurso em Anita Garibaldi. Quando chegou a São Pedro e começou a falar, foi interrompido pelo interventor com as seguintes palavras:

 –  Muito obrigado, professor, mas o sr. já falou muito hoje. Deixe que eu levo o discurso e leio em casa.

Neste momento, meu pai se deu conta do ridículo da situação. O pessoal da caravana riu bastante, mas o interventor o abraçou e disse entender perfeitamente o problema e ele não precisava se preocupar."





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domingo, 15 de maio de 2022

ALGUMAS CURIOSIDADES SOBRE O MAIOR COMPOSITOR DA HISTÓRIA DA HUMANIDADE



Ludwig Van Beethoven (1770-1827) é, sem dúvida, o maior composior da história da humanidade. Ele sofreu em grande parte de sua vida de uma surdez avassaladora, cuja origem é investigada pela ciência até nossos dias, que  atribui o mal a diversas doenças. Eu conheci um padre alemão, que passou grande parte de sua vida nas terras do compositor e afirmava que a tradição local atribuía a surdez de Beethoven a bofetadas dadas pelo pai, em sua juventude, pois o pai do compositor era um inveterado alcoólatra, que exigia do filho esforços insuperáveis. A surdez do compositor não impediu que ele produzisse mais de 200 composições entre sinfonias, concertos e outras modalidades musicais.

A doença de Beethoven era responsável por um temperamento agressivo. Quando seu irmão morreu, um filho dele ficou sob responsabilidade de Beethoven, que exigia demais do sobrinho. Este chegou a tentar o suicídio.

Ele também não era muito chegado à higiene. Conta-se que muitas vezes ele esquecia sob o piano um urinol com suas fezes matinais. Certa vez, chegou a ser preso por um guarda da cidade de Viena, onde vivia, por se encontrar com uma aparência  lastimável, com roupas sujas e em completo desalinho. O guarda, naturalmente, não sabia que aquele homem maltrapilho era Beethoven. Quando ele se identificou, foi solto, imediatamente, com pedidos de desculpas.

O temperamento do compositor era explosivo. Visitando uma exposição, onde o namorado de uma amiga sua expunha uma maquete, ele não gostou da mesma e a destruíu com um golpe de bengala.

Gravemente enfermo, foi visitado por um amigo que lhe perguntou se não queria a visita de um padre e ele foi categórico: "você deve estar brincando". Entretando, ele compôs sua missa solene, uma das mais famosas composições do gênero. 

O enterro de Beethoven foi acompanhado por mais de 200 mil pessoas, ao contrário de Mozart, que teve seu corpo lançado numa vala comum.

Um famoso compositor, após a morte de Beethoven, declarou que ninguém mais devia compor, pois o alemão tinha chegado ao ápice da criatividade musical e jamais seria superado.