A narrativa publicada, a seguir, está no livro Menino Tropeiro, de autoria do autor deste blog. Trata-se de um caso verídico, vivenciado por sua mãe, uma mulher que tinha sensibilidade paranormal, sensibilidade essa demonstrada em várias oportunidades, ao longo de sua curta existência, pois ela morreu com a idade de apenas 29 anos. A seguir, a narrativa do fato.
"Meu pai tinha uma letra muito bonita, apreciada por todos e ganhava alguns trocados fazendo cópias de certidões no cartório e também coletoria do sr. Otacílio Couto, situado no casarão, aos fundos da escola, do outro lado da estrada estadual. Esse trabalho era feito à noite e, muitas vezes, minha mãe o acompanhava com os filhos pequenos, eu e minha irmã Julieta. Ela ficava conversando na sala do casarão com a mulher de Otacílio.
Depois de uma dessas noitadas, quando a família, já altas horas, retornou à residência, minha mãe trazia ao colo minha irmã Julieta, que dormia. Ao chegarmos em casa, meu pai abriu a porta e minha mãe se adiantou para levar a criança para o quarto. Mal ela colocou o pé na varanda, recuou muito assustada e falou para meu pai:
– Heitor, tem alguém em casa.
– Como pode ter alguém em casa, mulher, se a porta estava fechada.
– Tem, sim. Eu vi um homem atravessando a varanda em direção ao nosso quarto.
Diante da convicção da mulher, meu pai entrou em casa, acendeu uma lamparina e penetrou no quarto. Percorreu, a seguir, os outros cômodos e não encontrou ninguém. Voltou-se para minha mãe e falou:
– Deves estar sonhando, mulher. Não encontrei homem nenhum.
– Pois eu vi. Era um homem gordo, de botas e vestia um sobretudo.
No dia seguinte, em contato com a mulher de Otacílio Couto, minha mãe descreveu a estranha aparição e obteve a informação a respeito de um homem com tais características, falecido na casa, alguns anos antes. A descrição do homem, feita pela vizinha, deixou dona Lina muito impressionada.
Nos dias seguintes, quando ela ficou sozinha com os filhos, à noite, enquanto meu pai trabalhava no cartório, aconteceram coisas inusitadas. Ela ouvia ruídos pela casa e pedras eram atiradas no telhado, que depois rolavam até o chão.
Numa noite dessas, quando meu pai chegou em casa, muito assustada, ela lhe relatou os fatos, mas foram por ele desdenhados. Tirou a roupa para dormir, deitou-se na cama e virou-se para a mesinha de cabeceira para apagar a luz da vela, mas, antes que o fizesse, um sopro forte a apagou e ele sentiu o deslocamento de ar em direção a seu rosto.
Desde então, passou a dar crédito aos relatos de dona Lina e ela resolveu fazer uma novena pela alma daquele homem que, provavelmente, vagava desesperada à procura do descanso eterno. Rezou muito nos dias seguintes e os fenômenos, com o passar do tempo, desapareceram. Daquela data em diante, minha mãe se tornou uma fervorosa adepta do culto às almas do purgatório, que precisavam de ajuda para atravessar o caminho até o paraíso."
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