sexta-feira, 2 de outubro de 2020

ELE ANEXOU AO BRASIL UMA ÁREA EQUIVALENTE AO ATUAL TERRITÓRIO DA ESPANHA


                 




Sem disparar um só tiro, um homem conquista
sozinho quase 500 000 quilômetros quadrados
de território: é o Barão do Rio Branco


A estrela de José Maria da Silva Paranhos Junior, barão do Rio Branco, iluminou por longos anos, os caminhos  da política externa do Brasil. Servindo na Guerra do Paraguai(1865-1870), quando tinha 20 anos, tornou-se amigo de Floriano Peixoto, com quem praticava esgrima. Monarquista e barão do império, a proclamação da República não produziu sequer uma arranhão em sua promissora carreira. Ao contrário, quando a queda da Monarquia já era um fato consumado. Dom Pedro II pedia que comunicassem "ao Rio Branco que ele é um bom servidor do país (...), que ele continue a trabalhar pelo Brasil (...) Eu passo e o Brasil fica".
E, nomeado ministro das Relações Exteriores em 1902, a vida pública do Barão sobreviveria à de Rodrigues Alves e Affonso Pena, presidindo a política externa brasileira durante toda a década.

Como chanceler, Rio Branco empenhou-se vigorosamente em projetar  o nome do Brasil no plano mundial e em resolver os problemas fronteiriços herdados do Império e dos tempos coloniais. Já em 1895, graças à sua argúcia e a seus conhecimentos históricos, o Barão obtivera uma vitória para o Brasil no caso da disputa com a Argentina pelo antigo território das Missões, com 30 621 quilômetros quadrados.

Em 1900, tendo como mediador o Governo suíço, o Brasil teve ganho de causa na questão com a França, envolvendo uma parte do Amapá, zona de litígio com a Guiana Francesa. Cerca de 250.000 quilômetros quadrados foram então incorporados ao território nacional. Depois, vieram as questões do Acre, da lagoa Mirim e do rio Jaguarão, além da pendência com o Peru e torno de uma vasta região da Amazônia, todas elas enfrentadas pelo Barão, já no cargo de ministro das Relações Exteriores (em que permaneceu por três governos sucessivos)).

Se em relação à lagoa Mirim e ao rio Jaguarão o litígio com o Uruguai encontrou fácil solução por meio de uma proposta salomônica do Ministro Rio Branco, que chegou a contentar os próprios uruguaios; se na questão da disputa com o Peru, envolvendo mais de 48 000 quilômetros quadrados da Amazônia, a tese do ministro - que defendia o direito brasileiro do uti possidetis sobre a região- foi vitoriosa; se isso aconteceu em relação aos dois conflitos, no caso com o litígio com a Bolívia, em torno do Acre, a questão era mais complexa. Com seus 143 000 quilômetros quadrados situados entre o Brasil e a Bolívia, numa região de difícil demarcação, o Acre fora sempre um pomo de discórdia a separar os dois países.

Em 1900, os Estados Unidos apoiavam as reivindicações territoriais do Governo boliviano.  Em troca, a Bolívia concedia a uma empresa anglo-norte-americana, o Bolivian Syndicate, um abatimento de 50% nos impostos sobre exportação de borracha, durante dez anos. Depois de algumas tentativas fracassadas de rebelião, a população acreana acabou por levantar-se em armas sob a chefia do caudilho gaúcho Plácido de Castro. Conhecedor das táticas de guerrilha, veterano da rebelião federalista de 1893 no Rio Grande do Sul, onde lutara ao lado dos maragatos, Plácido de Castro, de vitória em vitória, terminou por colocar em cheque a dominação boliviana. Enquanto a luta armada prosseguia, o Barão do rio Branco procurava, pela diplomacia, dar fim ao conflito. Em novembro de 1903, Rio Branco finalmente conseguiu impor  os seus pontos de vista, assinando com o representante boliviano  o Tratado de Petrópolis, pelo qual o Brasil estabelecia sua soberania sobre o Acre, mediante o pagamento de uma indenização de 2 milhões de libras esterlinas à Bolívia.

Homenageando as habilidades diplomáticas do Barão, Joaquim Nabuco comentou: "O árbitro era obrigado a dar ao Brasil ou tudo ou nada, e ao Barão do Rio Branco devemos o ter nos dado tudo...

(Texto transcrito do Nosso Século - Editora Abril - copyright 1980).

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