Era o ano de 1944, quando a revista O Cruzeiro se consagrava como o mais importante órgão da imprensa brasileira, com tiragens semanais de mais de 300 mil exemplares, com distribuição a nível nacional. Era editada no Rio de Janeiro sob os auspícios do grupo Diários Associados, liderado por Assis Chateaubriand. Entre seus colaboradores se destacavam o jornalista David Nasser e o fotógrafo Jean Manson.
David Nasser tinha uma coluna semanal, lida por milhares de pessoas e também realizava reportagens como fotógrafo Jean Manson, de nacionalidade francesa, que se radicara no Brasil e teve relevante papel na formação de uma nova geração de fotógrafos na imprensa brasileira.
David Nasser e Manson tiveram a ideia de realizar um reportagem com Chico Xavier, cujo objetivo era desmascarar o medium caipira que estava assombrando a nação com a psicografia de escritores brasileiros falecidos, como Humberto de Campos. A família do escritor estava movendo um processo contra Chico, exigindo o pagamento de direitos autorais referentes aos livros publicados que, segundo o medium, eram de autoria do escritor falecido, sendo ele apenas seu psicógrafo. Para tranquilidade de Chico, a ação não teve sucesso.
Para fazer a reportagem, Nasser e Manson embarcaram num avião dos Diário Associações e se dirigiram a cidade de Pedro Leopoldo, em Minas Gerais, onde Chico Xavier vivia.
Durante a viagem, Nasser e Manson combinaram com o piloto do avião o seguinte: na presença do medium, os dois jornalistas se apresentariam como dois repórteres americanos e o piloto, como intérprete da dupla. E assim foi feito. Chico Xavier os recebeu como sua costumeira amabilidade e eles fizeram diversas fotos, com o medium, inclusive, numa banheira, como vemos na imagem acima, pois o objetivo era ridicularizá-lo, ao máximo. Terminada a tarefa, os três se despediram e Chico presenteou os dois jornalistas com o livro, Parnaso do Além Túmulo, psicografado por ele, com 200 poemas de 56 autores do Brasil e Portugal. A dupla guardou os livros na mochila e não deu a mínima atenção para os mesmos. No Rio de Janeiro, David Nasser escreveu o texto e foram publicadas as fotos de Mazon e a reportagem atingiu em cheio os objetivos: ridicularizar o medium brasileiro, enganado que fora pelos "repórteres" americanos, pois caíra inocentemente na armadilha que lhe prepararam. Se tivesse, mesmo, os poderes espirituais que os espiritas lhe atribuíam, teria se dado conta da situação. Pelo menos era assim que os dois entrevistadores pensavam, mas estavam redondamente enganados
Jean Manson
Alguns dias depois da famosa reportagem, David Nasser estava em seu apartamento, degustando um charuto cubano, acompanhado de um legítimo uísque escocês, quando o telefone tocou. Era Jean Manson que, muito nervoso, assim falou:
- Amigo, você já abriu o livro que o Chico nos deu?
- Não abri e nem sei onde ele está...
- Procure-o e abra... agora, por favor.
Nasser correu para a biblioteca e encontrou o livro jogado numa gaveta. Abriu-o e, na primeira página, leu estarrecido: Ao caríssimo irmão David Nasser, Emanuel. No livro de Jean Manzon estava escrito: Ao caríssimo irmão Jean Manson.
Assim, terminava uma das maiores farsas, criadas pela imprensa brasileira, pois o medium fez o feitiço virar contra os feiticeiros. Era ele o dono da situação.
Alguns anos mais tarde, David Nasser visitou Chico Xavier, não na função de jornalista, mas como mero observador. Chico o recebeu com amabilidade e não tocou no assunto da reportagem, mas David também não se desculpou pela malandragem. Oh tempora, oh mores, como diziam os romanos.
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