A chamada Guerra do Contestado (outubro de 1912 a agosto de 1916) foi um dos episódios mais violentos ocorridos no Brasil, quando 8 mil rebeldes foram mortos pela tropas federais e estaduais enviadas ao Sul, na zona disputada pelos Estados do Paraná e Santa Catarina, o chamado Contestado. Sob a liderança do monge José Maria, 20 mil caboclos (foto) se rebelaram, face ao grande desemprego gerado ao final da construção da estrada de ferro São Paulo/Rio Grande do Sul, com a desapropriação de centenas de propriedades, além de outros fatores causadores de grande miséria à população nativa.
Vamos publicar aqui um documento que bem espelha a balbúrdia que existia à época na região com a participação de caboclos, coronéis, imigrantes alemães, italianos e poloneses, além da presença dos investidores estrangeiros que construíam ferrovias e devastavam as florestas da região, como a Lumber, uma das muitas empresas de propriedade do famigerado Percival Farquhar, que mandava e desmandava na região. O documento de que falamos é um edital afixado num pequeno armazém, na cidade de Calmon, na região do Contestado, e que nos dá uma ideia da situação em que vivia o povo da região. A língua portuguesa nunca foi tão maltratada como nesse documento.
“ Editalos. Aos moradores da Fazenda da Lumbros. Faço sientos que tudos aquellos que vírus o presente editalos fica proibitos de carregaros espingarda e facó nas cinturas, quando vieres fazer compros neste negocio. Fica também proibito beberos cachaça quando estiveros presente estrangeiros bé vestidos do porto. Os cabuks que desrespetaros estos será ponhados prá fora da fazenda e metidos nos cadeios, também comunico-los de nem unos sobre-bereteros e seus kabuks té direito a reclamaçó dos precios deste negocio e né tão poco compraros do porto e né permitos que otros negociantes ponhas budega entre o estaçó de San Juó e o rio Caçadores.
Ass. Nicola Codagnoni. Md. Fiscalos da Lumbros e Inspetoro de Quarteiró”.
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