quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

NOITE DE ENCOMENDAÇÃO DAS ALMAS



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A cena narrada a seguir, se passa na localidade de Cerro Negro, um povoado localizado no planalto catarinense e foi extraída do livro Menino Tropeiro de R. H. Souza. Estávamos no início dos anos trinta e minha família morava nessa  localidade, onde meu pai era professor primário. O povo da região mantinha tradições curiosas, entre as quais se destacava aquela da encomendação das almas, uma cerimônia realizada nas sextas-feiras da quaresma. A seguir, a narrativa. 

"Entre a gente nativa da região existia também um costume singular. Numa noite, dormíamos tranquilamente em nossa casa, quando fomos acordados por orações e cânticos, acompanhados do ruído de matracas à porta da escola. Minha mãe acordou assustada e perguntou a meu pai o que aquilo significava e ele respondeu:
– Fiquem todos quietos, porque se trata de uma cerimônia de encomendação das almas.
– Mas o que isso significa?
– Em noites da quaresma, o povo se reúne no cemitério e dali partem grupos de homens, mulheres e crianças. Visitam as casas. cantam e rezam pelas almas. As pessoas da casa devem ficar em silêncio e só abrir as portas depois de terminada a cerimônia. Aí, sim, podem receber os visitantes e lhes oferecer um café ou coisa parecida.
E assim, aconteceu lá em casa. Dona Lina correu para a cozinha, fez um café, cortou fatias de pão e levou tudo até a escola, onde os visitantes noturnos aguardavam em silêncio. Depois que terminaram de comer, se retiraram e foram atrás de outras residências do povoado, repetindo o mesmo cerimonial de cânticos e orações pelas almas sofredoras. Confesso que aquela cerimônia noturna tinha qualquer coisa de misterioso e impressionava as pessoas visitadas."



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