terça-feira, 31 de janeiro de 2023

DUAS HISTÓRIAS PORTUGUÊSAS, COM CERTEZA

 


As duas histórias que vou contar a seguir, foram publicadas em 1950 pela revista Flama, uma revista portuguesa fundada pela Juventude Escolar Católica, em Lisboa no ano de 1937 e encerrando suas atividades em l976. Eis os relatos:

MANOEL, O EMPREGADO DA FAZENDA DO PAI DE ANÍBAL

Aníbal era um jovem universitário que estudava em Lisboa. Seu  pai era proprietário de um pequena fazenda no interior de Portugal, onde cultivava uva e criava alguns cavalos de raça. Andando um dia por uma rua de Lisboa, o universitário passou em frente a um quartel de policia, onde, naquela momento era feita a troca da guarda da corporação. Aníbal foi surpreendido, pois um dos guardas não era nada mais nada menos que um criado da fazenda de seu pai, de nome Manoel.

- O que fazes aqui, Manoel? - exclamou, espantado,  o jovem universitário.

- Ora, patrão, tive que mudar de vida, pois lá na fazenda não tinha mais lugar para mim.

- Não estou entendendo...

- Agora lá está tudo tranquilo, mas o seu cavalo...

- Desembucha logo, Manoel... o que aconteceu com o meu cavalo?

- Não é que ele morreu queimado, patrão.

- Queimado, como?

- Ora, com o incêndio da estrebaria.

- Como isso aconteceu, fala logo, pois estou ficando nervoso...

- Pois o fogo veio da casa.

- Como? Nossa casa queimou? Como isso aconteceu?

-  Foi uma vela acesa, que caiu do caixão e tocou fogo na cortina da sala, que se espalhou por toda a casa...

- Caixão... que caixão... quem estava no caixão?

- A senhora sua mãe.

- Então, minha mãe morreu, Manoel. Fala logo... de que ela morreu?

- Morreu de desgosto.

- Desgosto... desgosto por quê:

- Ora, desgosto pela morte de seu pai.

- Então, meu pai também morreu?

- Não, ele se matou. Percebendo que estava falido, com os credores batendo à sua porta, pegou uma garrucha e deu um tiro na cachola. Mas fora isso, patrão, tudo por lá,  agora, está na maior tranquilidade. O senhor não  precisa se preocupar.


UM PRESENTE PARA A NAMORADA DE JOAQUIM

Joaquim era um jovem português que levava uma vida muito difícil, com muito trabalho e pouco dinheiro. Aquela tarde ele andava pela cidade, muito preocupado, pois era aniversário da Maria, sua namorada, uma bela cachopa e ele não tinha dinheiro para lhe comprar um bonito  presente. Mas eis que o destino veio em seu auxílio. Ao passar em frente a uma loja, ficou observando um balconista, trepado numa escada, arrumando umas bonitas jarras de cristal, numa prateleira. Mas o rapaz, de repente se desequilibrou e deixou cair uma das jarras, que se espatifou de encontro ao assoalho da loja. Joaquim, então, teve uma ideia brilhante. Entrou na loja e falou para o desastrado balconista.

- Amigo, vamos fazer um negócio com os cacos dessa jarra...

- Que negócio?

- Pegas esses cacos e os coloca numa caixa e faz um embrulho para  presente. Daqui uma hora eu volto aqui e pego o embrulho e você receberá uma boa gorjeta. De acordo?

- Perfeitamente - respondeu o balconista.

Joaquim, conforme o combinado, retornou à loja e pegou o pacote, num belo embrulho feito pelo zeloso balconista, que recebeu a prometida gorjeta feita por Joaquim, que, alegre, se dirigiu a casa da namorada. As chegar, bateu palmas e Maria vaio recebê-lo, muito sorridente. Para entrar na casa, Joaquim precisava subir por uma escada que tinha uns dez degraus, degraus esses que faziam parte de seu plano maquiavélico. Ele subiu acelerado pela escada ao encontro da namorada, mas eis que tropeçou e caiu, deixando a caixa voar longe com o presente.

- Maldição! exclamou. O teu presente, meu amor, está dentro da caixa. É uma bonita jarra de cristal, que acabei de comprar para você. Acho que se quebrou.

- Não tem importância, meu amor - respondeu Maria. O que vale é a intenção.

Joaquim pegou a caixa e abriu o pacote, enquanto Maria o observava, curiosa. Mas, ao abrir a caixa, veio a surpresa. O  zeloso balconista tinha feito vários embrulhos com cada pedaço da jarra, o que dava uns oito o nove pacotinhos. Maria, então percebeu o embuste e entrou chorando em casa e bateu com a porta na cara de Joaquim que, desolado voltou para a rua a passos cambaleantes, pois o feitiço virara contra o feiticeiro. E o namoro com Maria terminou em cacos como a jarra do presente,

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