quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

QUEM FOI O INVENTOR DO PRESÉPIO?







O inventor do presépio foi são Francisco de Assis. O fato aconteceu na localidade de Greccio, na Itália, no ano de 1223. Conta-se que, naquele ano, o Poverello resolveu celebrar o natal de uma maneira inusitada. Solicitou a um amigo seu, de nome João, homem de posses, que lhe arrumasse um local com uma manjedoura, além da vaquinha e do burro. Na noite de natal, o povo chegou iluminando a paisagem com tochas. No local foi celebrada missa por um sacerdote e São Francisco que era diácono (não quis ser ordenado sacerdote por não se julgar digno), fez uma pregação que emocionou os presentes. Conta-se que, ao tomar em seus braços a imagem do menino, este lhe sorriu, o que foi testemunhado por muitas pessoas presentes. Seus biógrafos relatam que, enquanto fazia sua pregação, ao pronunciar  o nome do menino, o santo passava a língua pelos lábios como se estivesse degustando um mel de sabor celestial e que, ao pronunciar a palavra Belém, sua voz parecia o balido de um cordeiro.
Em razão daquela celebração do natal em Greccio,  São Francisco é considerado o criador do presépio como conhecemos hoje, uma tradição que se espalhou por todo o mundo cristão.


terça-feira, 20 de dezembro de 2011

EM GUARDA PARA A DEFESA DAS AMÉRICAS








                                 

Na minha adolescência, durante a Segunda Guerra Mundial, eu trabalhava numa farmácia em minha cidade natal, Lages, Estado de Santa Catarina. Eu acompanhava a guerra através de uma revista que era distribuída gratuitamente, sob o título: Em Guarda para a Defesa das Américas. A referida revista era publicada pelo governo americano e tinha por objetivo unir os povos das Américas contra os países do Eixo. Na verdade, os americanos precisavam da cooperação de todos, principalmente das matérias primas que alimentavam sua gigantesca indústria bélica. A revista era muito bem impressa, pelo sistema de rotogravura,  e trazia reportagens sobre a guerra, cenas de combate, vitórias dos aliados, matérias sobre os grandes generais americanos, como George S. Patton. Em Guarda era publicada em português e também em espanhol, distribuída em diversos países sul-americanos. Foi através dela que eu me informava sobre o que acontecia no mundo lá fora, durante a grande guerra, cujas consequências sentíamos nos longínquos campos de Lages, pois havia racionamento de carne e de outros produtos, principalmente de gasolina, com o surgimento dos carros a gasogênio que trafegavam lentamente pelas estradas do interior, movidos a carvão vegetal, cuja combustão produzia o gás que alimentava os motores dos diversos tipos de veículos.
A cooperação brasileira com os americanos era evidente, principalmente pela cessão pelo governo brasileiro da base aérea de Natal através da qual os americanos fizeram uma verdadeira ponte aérea para o Norte da África para abastecer os aliados durante o conflito. Era um projeto gigantesco que movimentava em torno de 500 aeronaves por dia que seguiam carregados de armas e munições, além de alimentos,  rumo ao continente africano. A seguir, o Brasil entrou na guerra com o envio da Força Expedicionária Brasileira que lutou na Itália, ao lado de americanos e aliados.
E existia um outro grande projeto de mútua cooperação entre os dois países, do qual pouco se fala e que tinha por objetivo a produção de alimentos. Para tanto, um grupo de agrônomos brasileiros  foi levado aos Estados Unidos para ali absorverem as mais avançadas práticas agrícolas. Os americanos sabiam que, se a guerra se prolongasse além do ano de 1945, eles não teriam mais condições de produzir alimentos em quantidade suficiente para abastecer a Europa devastada. O Brasil, então, foi escolhido para participar desse esforço de guerra, com o aproveitamento de suas imensas áreas agricultáveis. Conheci um agrônomo que, àquela época, fez parte da equipe que  foi enviada aos Estados Unidos e me disse que o projeto era grandioso e faria o Brasil dar um gigantesco salto na sua produção de alimentos, fato que só iria acontecer quase meio século depois.
A revista Em Guarda foi o retrato de uma época.



             

terça-feira, 29 de novembro de 2011

50 ANOS DE LUZ NAS TREVAS

       



 Frei Anselmo Fracasso mora hoje no 
  convento de Santo Antônio, Rio de Janeiro.

Num determinado dia do ano de 1950, um grupo de jovens seminaristas do seminário franciscano Santo Antônio, situado em Agudos, São Paulo, conversava animadamente durante o recreio. Os assuntos eram os estudos, os problemas e dificuldades enfrentados, a atuação dos professores, os esportes e outros  de menos importância. Entre esses alunos estava um jovem gaúcho, simpático, bem falante com muitos amigos no recém inaugurado seminário, cuja construção  estava em andamento com muitos anos para ser concluída. O nome desse jovem era  Irahy Fracasso. Em determinado momento da conversa, ele falou que estava com dificuldade de visão e que não estava conseguindo ver nem mesmo o que os professores escreviam no quadro negro das salas de aula. Quando ele acabou de falar, o grupo ficou por alguns momentos em silêncio até que um dos companheiros o advertiu:
- Fracasso (era assim que 0 chamavam), você precisa ver isso com muita urgência. Procure o padre prefeito e peça que o levem imediatamente a um oculista, em Agudos. Com a vista não se brinca.

Esse diálogo foi o ponto de partida para o grande e prolongado calvário do jovem Irahy. Consultando um oculista em Agudos, esse percebeu que se tratava de um problema grave de visão para o qual ele não tinha solução. Aconselhou que o levassem a Campinas, São Paulo, para ser examinado num renomado centro oftalmológico de fama nacional e internacional que funcionava na cidade. Isso foi feito e os especialistas daquele centro constataram  que o problema não tinha mais solução, pois a visão do jovem Fracasso estava totalmente comprometida pela ação de uma terrível bactéria resistente aos medicamentos da época.  Uveíte é o nome dessa doença, responsável pela maioria dos casos de cegueira em todo o mundo.

Quando a notícia chegou a Agudos, a consternação dos companheiros de Fracasso foi muito grande. Todos rezaram por ele, pois  achavam que chegara o fim da linha para o jovem seminarista. Mas aconteceu exatamente o contrário: mergulhado nas trevas, ele encontrou a luz.

Irahy aprendeu a linguagem dos cegos, o braile, e conseguiu apoio de seus superiores para continuar seus estudos. Fez o curso de filosofia e teologia, conseguiu autorização de Roma para ser ordenado sacerdote, o que era proibido pelo Código Canônico,  tornando-se o primeiro padre cego do Brasil e o segundo do mundo, pois só existia um outro na Alemanha, nas mesmas condições. Ao entrar para a ordem franciscana, recebeu o nome de Frei Anselmo e, depois de ordenado, foi designado para o convento de Santo Antônio, no Rio de Janeiro, onde reside há quase meio século, exercendo seu apostolado, dando assistência espiritual a numerosas pessoas que  o procuram com os mais variados problemas. Nesse período, tornou-se um autor consagrado com numerosos livros publicados no Brasil e no exterior, sendo um conferencista muito solicitado em todo o país. Seus livros têm repetidas edições, sendo que um deles – Ajude seu filho a ser feliz – já está em sua 34ª. Edição.

O título de um dos livros de Frei Anselmo Fracasso bem expressa toda a sua trajetória de vida:” 50 anos de luz nas trevas – Deixei de enxergar e comecei a ver.”

Ainda em sua juventude, Irahy foi atingido por uma grande tragédia familiar. Foi o assassinato de seu pai, vítima de uma covarde emboscada. No site do convento de Santo Antônio, do Rio de Janeiro, encontramos a narrativa emocionada do episódio feita pelo próprio Frei  Anselmo  ao jornalista Moacir Beggo, além da história completa de sua vida, com a relação de seus livros. 
Acesse, pois vale a pena:
(www.conventosantoantonio.org.br/.../entrevistafranselmo.../index.ph...)






terça-feira, 22 de novembro de 2011

COMO CONHECI FREI JOSÉ MOJICA



No ano de 1950, nascia a televisão no Brasil, com a inauguração da TV Tupi de São Paulo. Para essa inauguração, foi convidado um personagem famoso no mundo musical. Era o frade franciscano Frei José Francisco de Guadalupe Mojica, conhecido simplesmente como frei Mojica. A essa época, eu estudava no Seminário Santo Antônio dos padres franciscanos, em Agudos, São Paulo. Frei Mojica visitou o educandário, fez palestra para os seminaristas e nos proporcionou um show com suas mais belas canções. Ele era uma pessoa simpática, alto, olhos verdes, um boa pinta que ainda arrancava suspiros das mulheres por onde passava, apesar de trajar o humilde hábito franciscano.
Ele fez palestra para os seminaristas, presenteando o seminário com uma imagem de Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira do México, sua terra natal. Fez um resumo de sua carreira artística antes de se tornar frade, carreira essa marcada pelo sucesso e pela riqueza. Quando sua mãe faleceu, entrou em profunda depressão e resolveu se desfazer de todos os seus bens e entrar para o seminário franciscano de Cusco, no Peru. Depois de ordenado padre, foi residir no convento franciscano da mesma cidade.
A mãe de Jose Mojica, Dona Virginia Montenegro,  tinha sido a grande companheira e incentivadora de sua vida. Ele não conheceu o pai, um médico, que mantivera um relacionamento com sua mãe, abandonando-a depois, por ser um homem casado e com filhos.  
No show que realizou nas dependências do seminário Santo Antônio, Frei Mojica cantou muitas de suas canções famosas, como Maria a la-Ô, Jura-me, Solamente una vez, Besame Mucho, a maioria de sua autoria. Seus confrades peruanos tiraram proveito de sua fama e permitiram que ele se apresentasse em muitos países, angariando fundos para a construção de um seminário em Arequipa, o que ele conseguiu com relativa facilidade, tal a popularidade que desfrutava nos países sul-americanos. Apesar de ter se tornado um frade franciscano, foi autorizado pelos superiores a cantar as dolentes canções românticas que o tornaram famoso em todo o mundo, o que ele fazia com a maior naturalidade, embora alguns de seus confrades franciscanos, mais antiquados, torcessem o nariz para essa atividade, dita mundana, de Frei Mojica.
A carreira de José Mojica foi marcada pelo sucesso, como cantor, compositor e ator. Participou de dez filmes nos Estados Unidos, seis no México e um na Argentina. Cantou óperas e realizou espetáculos, exibindo sua maravilhosa voz como grande cantor popular. Foi muito incentivado por Enrico Caruso, a maior celebridade do mundo operístico, àquela época.
Como frade franciscano, ele costumava dizer: "Eu tive em abundância tudo o que a juventude persegue, por isso digo que todo o ouro do mundo, a fama, o poder, o aplauso e o prazer não equivalem a uma hora a serviço de Deus”. Em 1958, escreveu um livro intitulado Yo Pecador que foi um grande sucesso editorial, sendo também transformado em filme. Nesse livro, ele narra a trajetória de sua vida até se tornar um frade franciscano.
José Mojica  Faleceu em 20 de setembro de 1974, na cidade de Lima, Peru.


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Estes livros estão à venda, por um preço simbólico e você pode ler seus conteúdos no computador, tablet celular e outros. Para isto, basta clicar no link de cada livro e terá, logo, um resumo completo da obra. Se ler o resumo, vai ler o livro, temos certeza, porque todos eles são de leitura imperdível. R.H. Souza é ator do blog scripta e virtual, com mais de 150mil acessos. Agora, estamos, também, ao alcance de leitores na área internacional, na qual o nosso blog já tem muitos leitores,

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quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O RIO DE JANEIRO E A IMPLACÁVEL ROLETA DO TEMPO









Em 1956, quando cheguei ao Rio de Janeiro, a cidade ainda era a capital da república e tinha uma intensa atividade econômica e cultural. Naqueles dias, o presidente da república era Nereu Ramos,  um conterrâneo meu, da cidade de Lages. Assumiu a presidência, sob estado de sítio, depois do suicídio de Getúlio Vargas, e nela permaneceu de 11 de novembro de 1955 a 31 de janeiro de 1956, quando Juscelino Kubitschek assumiu o poder, sob os auspícios do General Teixeira Lott que garantiu a posse dos eleitos.

Com a mudança da capital federal para Brasília, aliado a outros fatores, o Rio de Janeiro sofreu prejuízos irreparáveis. Só na área da mídia, grandes foram as perdas ao longo dos anos. Vejamos os nomes de alguns órgãos de imprensa e comunicação que desapareceram. Jornais: Correio da Manhã, O Jornal, Diário de Notícias, Jornal do Brasil, Jornal do Comércio, O Jornal, Última Hora, Luta Democrática. Revistas: O Cruzeiro, Cruzeiro Internacional, Manchete, Fatos e Fotos, Mundo Ilustrado, Revista do Rádio e outras de menor circulação. Emissoras de televisão: TV Tupi, TV Continental, TV  Excelsior, TV Manchete, TV Rio.
Hoje, os meios de comunicação do Rio de Janeiro se concentram praticamente nas Organizações Globo, um gigantesco conglomerado, mas a cidade perdeu em definitivo sua diversidade cultural na área da informação.
Na área do comércio, as perdas também foram significativas. Sumiram do mapa importantes empresas comerciais, como Mesbla, uma gigantesca organização que tinha até uma foto de todos os prédios da empresa no Brasil que eles chamavam orgulhosamente de A Cidade Mesbla. Já tinham desaparecido a famosa Casa Canadá, o Grupo Ducal, O Rei da Voz, Lojas do Charque, Os Supermercados Disco, pioneiro na área de auto serviço, Casa José Silva, Casas Tavares. Depois, desapareceu o grupo Casas da Banha, com lojas que, do Rio de Janeiro, se espalharam por diversos estados. Com a mudança da capital para Brasília, muitas empresas multinacionais que aqui tinham suas diretorias, mudaram-se para São Paulo.
Mas, como dizia o comercial de uma transportadora: O mundo gira e a Lusitana roda.


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terça-feira, 25 de outubro de 2011

A FANTÁSTICA HISTÓRIA DOS SINOS DA CATEDRAL DE LAGES


Autor: R.H. Souza
(Dramatização baseada em fatos e personagens reais, mostrando a verdadeira epopeia que foi a construção da catedral de Lages, com a instalação de seus famosos sinos, numa época em que os recursos eram precários). Foto extraída do site:
 
Naquela manhã de setembro de 1915, o fazendeiro Oscar de Brito, do alto da varanda de sua casa, contemplava a paisagem, formada pelos imensos campos de sua propriedade, onde milhares de reses pastavam sob a temperatura tépida daquele dia. O inverno tinha sido rigoroso e fora preciso levar os animais para as grandes invernadas que ficavam nos limites de sua fazenda, situada nos campos de Lages. Agora, com a chegada da primavera, as pastagens cresciam abundantes e o gado, em pouco tempo, estaria pronto para o abate. Compradores não lhe faltavam e eles chegavam de toda a região. Muitos vinham do litoral de Santa Catarina, subiam a serra do Rio do Rastro em busca da carne suculenta dos rebanhos da região serrana. As manadas, então, eram tangidas até o litoral, através da serra, e dali para os grandes centros consumidores do país.  
Enquanto admirava a paisagem, o fazendeiro tomava o seu chimarrão matinal, um hábito que o acompanhava desde a mocidade. Era um ritual diário que ele praticava com prazer. Uma criada da fazenda trazia uma chaleira de ferro com a água quente, enquanto ele colocava a erva-mate na cunha de porongo, ricamente adornada com adereços em prata. Depois, colocava a água quente no recipiente e, através da bomba, também de prata, sorvia o líquido amargo, mas comprovadamente benéfico para a saúde.
Depois de tomar três cuias de chimarrão, Oscar de Brito dirigiu-se para o grande salão da fazenda, onde iria tomar o café da manhã, em companhia da esposa, Dona Alice, momento em que eles colocavam a prosa em dia.
- Sabe, Oscar – disse Alice, enquanto servia o café para o marido – Esta noite eu tive um sonho muito estranho.
- Estranho, como?
- Eu estava num grande descampado, sob um céu cheio de estrelas, quando ouvi o toque de vários sinos que vinha de muito longe. Só que era um som diferente... muito diferente do que estamos acostumados a ouvir. Aliás, um som que parecia uma música... uma música divina.
- Deve ser o jantar de ontem que te fez mal, minha querida – comentou o fazendeiro.
- Ontem, eu não comi nada que pudesse me fazer mal. Só sei que foi um sonho muito estranho que me deixou um pouco atordoada.
- Esqueça...porque um sonho é simplesmente um sonho.
Quando terminou o café, Oscar de Brito trocou de roupa e se preparou para montar seu cavalo preferido, pois estava na hora de fazer a ronda da fazenda. Ele confiava em seus empregados, tinha um capataz muito competente, mas trazia sempre em mente aquele antigo provérbio: “O que engorda o boi é o olho do dono”. E as preocupações de um fazendeiro como ele, eram numerosas, principalmente com a alimentação e a saúde de seu rebanho. Tinha que ficar atento às numerosas doenças que podiam atingi-lo, como a aftosa, a brucelose, o carbúnculo, além de carrapatos e bernes que também  acarretavam prejuízos aos animais.
Algumas semanas mais tarde, o casal de fazendeiros descansava na grande varanda da casa, quando entrou um peão para avisar que tinha um padre no portão da fazenda. Ele queria falar com o proprietário. Oscar de Brito mandou que o empregado introduzisse no salão o visitante e comentou com a mulher:
- Se é padre, deve vir atrás de dinheiro. Sei que estão visitando diversas fazendas da região para levantar fundos para a construção da Catedral de Lages. É negócio de muito dinheiro.
 - E tu não achas que a nossa cidade deva ter uma bonita catedral? Será uma igreja dedicada à Nossa Senhora dos Prazeres, de quem sou muito devota.
- Sim, concordo contigo. Os padres não estão construindo a catedral para eles, mas para a cidade. Dizem que será uma obra extraordinária que vai  levar 10 anos para ser concluída. Será toda em pedra... aliás o que não falta na região ... daí o nome da própria cidade: Lages ... lages são pedras...
Nesse ponto, a conversa foi interrompida com a entrada do visitante. Era um frade, de estatura mediana, de pele muito clara e cabelos alourados, indicando sua origem germânica. Vestia o tosco burel de frade franciscano, bem amarrotado, pelas andanças que fazia em lombo de burro, de fazenda em fazenda, em buscas de recursos para a construção da grande obra de sua vida: a Catedral de Lages. Dona Alice introduziu o visitante no recinto, enquanto ele se apresentava:
 - Bom dia, Sr. Oscar e Dona Alice. Louvado seja Jesus Cristo!
- Para sempre seja louvado – respondeu Dona Alice!
- Meu nome é Frei Gabriel... Gabriel Zimmer. Sou o pároco da paróquia Nossa Senhora dos Prazeres de Lages...
- Sei quem é o senhor – falou Oscar. É o responsável pela construção da nova catedral.
- Isso mesmo.
- Já ouvi falar muito de seu trabalho. Dizem que por onde passa, constrói uma igreja.
- Sim, fui responsável por algumas construções nas paróquias que dirigi. Acho que o nosso Salvador merece uma casa digna de seu nome.
- Não há dúvida – completou Dona Alice.
- Bem, Reverendo - falou Oscar -, a que devemos a honra de sua visita?
- É o assunto de que falávamos: a nova catedral. Como os amigos sabem, iniciamos a sua construção há cinco anos, ela está bem adiantada, mas ainda tem muita coisa por fazer. Meu confrade, Frei Egydio Lother, o arquiteto construtor, tem feito um trabalho extraordinário, com muita competência. Enquanto ele se dedica à construção, eu trato de levantar o dinheiro para a obra.
- Sei - disse Oscar - que  muitos fazendeiros da região contribuíram com elevadas somas.
- Exatamente. O nosso orçamento total é de trezentos e quarenta e cinco mil contos de réis, fora o custo dos sinos. E esses, que serão em número de três, deverão estar à altura da construção e seu preço representará 10 por cento do total da obra.
- Isso daria quase 35 mil contos de réis – falou Oscar.
- Aproximadamente... mas os preços de cada sino são diferentes, dependendo do peso de cada um. O menor, que pesa 610 kg,  já foi doado por Dona Julinha Ramos. O Médio tem 920 kg e  é um presente de Dona Baselissa Alves de Brito.
- Sei quem é – completou Oscar.
- Bem ­- concluiu Frei Gabriel –, falta agora o mais pesado, que terá 1.520 kg com um custo de 17 mil contos de réis. É para a compra desse sino que estou visitando novamente os fazendeiros, pedindo contribuições. Sei que o seu preço é muito elevado e deve ser rateado entre diversos doadores.
- Onde vai fundir esses sinos, Frei Gabriel – perguntou Oscar?
- Serão fundidos na Alemanha, na cidade de Bochum, onde existe empresa especializada que produz os melhores sinos do mundo. Aliás, quase tudo o que teremos na nova catedral, virá da Alemanha: decoração, altares, confessionários, vitrais, órgão, imagens de santos e outros materiais.
- Mas como o reverendo trará esses sinos através da serra?. O senhor deve conhecer os perigos da Serra do Rio do Rastro, com suas curvas e despenhadeiros. Eu já perdi muito boi ali quando mandei gado para o litoral.
- Sei desses perigos, mas tudo foi muito bem planejado. Cada sino virá numa carreta preparada previamente, puxada por diversas juntas de mulas, sob o comando de carreteiros de inteira confiança. É gente acostumada a esse tipo de viagem. Eles irão, inclusive, examinar previamente as estruturas das pontes por onde passarão as carretas para ver se aguentam o peso dos sinos, que estarão entre os maiores do mundo.
- Frei Gabriel - disse Dona Alice -, o senhor não está construindo somente uma catedral, mas escrevendo uma epopeia que ficará entre os episódios mais importantes da história da nossa região serrana.
- Faço isso para a maior glória de Deus, Dona Alice, pois não tenho outra motivação. Hoje, sou o pároco de Lages, amanhã poderei ser removido para outro lugar, de acordo com as determinações de meus superiores.
- Admiro seu espírito empreendedor, frei Gabriel - falou Oscar - e espero que permaneça em Lages ate o término da sua obra.
- Mais importante do que a minha presença é a do arquiteto, Frei Egydio, pois ele é o cérebro da construção. O projeto dele se inspirou na monumental catedral de Magdeburg (templo de São Maurício e Santa Catarina), considerada a primeira construção gótica da Alemanha, erguida por volta do ano de 1209. A minha função é garantir os recursos financeiros para a obra, o que, graças a Deus, estou conseguindo. Devo isso à bondade do povo lageano, principalmente de seus fazendeiros. Tudo indica que ficarei à frente do empreendimento até sua conclusão.
- É o que todos esperamos – concluiu Dona Alice.
Como estava na hora do almoço, o casal de fazendeiros convidou o frade para partilhar com eles a refeição, o que ele aceitou com satisfação, pois a peregrinação, em lombo de burro, de fazenda em fazenda, exigia todo o seu estoque de energia. E nada melhor para recuperá-la do que uma farta refeição como era preparada na fazenda do casal Oscar de Brito e Alice. Quando veio a sobremesa, Oscar falou:
- Frei Gabriel, estou inteirado de todo o projeto da futura catedral e acho que ela merece sinos de qualidade europeia. Iremos contribuir para a compra do sino principal. Quanto ao valor da minha contribuição, vai depender de alguns levantamentos que farei nos próximos dias. Dentro de 10 dias, estarei em Lages e prometo levar o dinheiro em espécie para que o Sr. feche o contrato com essa fundição da cidade de... como é mesmo o nome?
- Bochum
          - Isso mesmo... Bochum. Nunca esquecerei esse nome. O Sr. pode voltar tranquilo para a sua paróquia que não lhe faltará o dinheiro para comprar esse sinão de tonelada e meia, cujas badaladas espero ouvir, um dia, ecoando por esses campos e coxilhas da nossa querida terra. Ademais, acho que a mão de Deus guiou o reverendo até nossa fazenda, porque minha mulher teve um estranho sonho dias atrás... Conta para ele, Alice.
Dona Alice, um tanto encabulada, narrou para o frade, muito atento, o sonho que tivera, quando, sob um céu estrelado, ouvira badalas de sinos como ela jamais ouvira.
- Até hoje - concluiu –, fico toda arrepiada quando me lembro do sonho.
- Um anjo de Deus deve ter lhe demonstrado os maravilhosos sons que os sinos da futura Catedral de Lages farão ecoar sobre a paisagem, alcançando os mais longínquos rincões. Esqueci de lhes dizer que cada sino terá um nome e representará uma nota musical. O sino maior, de 1.520 kg e badalo de 87 kg, terá o nome de Cristo Salvador e tocará a nota Mi da escala musical. O casal Oscar e Alice serão os seus  padrinhos.  O sino médio, de 920 kg e badalo de 66 kg, terá o nome de Santa Maria e tocará a nota Sol. Finalmente, o menor, de 610 kg e badalo de 48 kg, terá o nome de nosso pai São Francisco. Sua nota será o Lá. A combinação das três notas, segundo conceituados músicos, produzirá sons harmoniosos.
Aquela tarde, quando Frei Gabriel chegou a Lages, dirigiu-se imediatamente ao canteiro de obras da nova catedral, onde encontrou seu irmão de hábito, frei Egydio, a quem transmitiu os resultados de sua jornada.
- Estive com um casal de fazendeiros, Oscar de Brito e Alice Wendhausen. Estou certo que farão uma boa contribuição para a compra do sino principal. Se faltar alguma coisa, já tenho gente que também contribuirá.
 - Com isso – disse frei Egydio – estarão praticamente assegurados os recursos para a conclusão da obra. Laudetur Jesus Christus!
- Para sempre seja louvado!
Depois de uma longa conversa com Alice, Oscar de Brito resolveu fazer um levantamento de suas reservas monetárias que eram guardadas em espécie no grande cofre que  tinha no escritório, pois, àquela época, não existia banco na região. As trocas comerciais eram feitas na base do toma-lá-dá-cá. Depois de um tempo, contando o dinheiro que tinha no cofre, Oscar de Brito dirigiu-se à mulher e falou:
- Minha velha, acho que podemos patrocinar sozinhos o grande sino de Frei Gabriel. Fiz uns levantamentos e temos dinheiro suficiente para a empreitada.
- Acho ótimo, meu querido. Assim, quando não estivermos mais aqui, o badalar daquele sino vai lembrar sempre a Nossa Senhora dos Prazeres que fomos nós os padrinhos dele e ela estenderá sobre nossas cabeças o seu manto celestial, permitindo que nossas almas descansem na paz do Cristo Salvador...
- Estou de acordo contigo, minha querida. Deus sempre nos deu muito mais do que precisamos e está na hora de retribuirmos um pouquinho pelo muito que recebemos. Amanhã, partirei para Lages com o dinheiro para a aquisição do sino Cristo Salvador .
As obras da catedral de Lages prosseguiram e, em 24 de dezembro de 1920, foram batizados os três sinos, sendo os mesmos içados para o alto das grandes torres de pedra. No natal de 1921, Frei Gabriel declarou concluídas as obras da catedral, isso 10 anos depois de seu início. Alguns dias depois, em 1º; de janeiro, foi realizada a consagração da nova matriz pelo bispo de Florianópolis, D. Joaquim Domingues de Oliveira. Nessa oportunidade, os sinos tocaram pela primeira vez diante da multidão extasiada que acorreu para assistir à cerimônia, sendo que a onda sonora alcançou os mais longínquos recantos da região.
Dona Alice e o marido vieram assistir à cerimônia de consagração da nova matriz. Quando ouviu os sinos tocarem, Dona Alice se emocionou. Virou-se para o marido e falou:
- Foi este o som que ouvi em meu sonho naquela noite, Oscar... sim foi exatamente este.
- Agora, acho que Deus, à vezes, nos manda um recado através dos sonhos. Foi o teu relato que me convenceu a contribuir para essa grandiosa obra de Nosso Senhor Jesus Cristo Salvador.
Em 18 de outubro de 1929 foi instalada definitivamente a diocese de Lages, sendo seu primeiro bispo Dom Daniel Hostin. Passados mais de 90 anos e a Catedral de Nossa Senhora dos Prazeres com seus magníficos sinos continua se destacando na paisagem da cidade serrana. Em 05 de abril de 1990, a Lei Orgânica do Município de Lages, declarou-a como seu patrimônio cultural.
(Se você quiser ouvir os maravilhosos sons dos sinos da Catedral de Lages, chame pelo google:  
Sinos da Catedral de Lages SC.wmv-YouTube  e encontrará um vídeo com a respectiva gravação.









       

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domingo, 9 de outubro de 2011

A HISTÓRIA DE UM SOLDADO ALEMÃO PRESO NA RÚSSIA








                                            Foto de Frei Conrado, no final de sua existência


Em 1951, eu estudava no Seminário Santo Antônio, em Agudos, São Paulo, quando recebemos um novo aluno, vindo da Alemanha, de nome Johannes Peter Rosbach. Sua chegada foi precedida da informação que ele era egresso dos campos de prisioneiros da Rússia, onde vegetara durante cinco longos anos, depois da fragorosa derrota alemã, em Leningrado, na Segunda Guerra Mundial. Rosbach estudava num seminário franciscano situado na cidade de Garnstock, na Bélgica, quando foi convocado para servir ao exército alemão. A chegada do novo colega, naturalmente, despertou a curiosidade dos alunos do educandário. Quando ele chegou, percebemos que se tratava de uma pessoa de mais idade do que a média dos alunos do seminário. Estava magro e abatido, com uma fome crônica. Era capaz de devorar um cacho inteiro de bananas e se tornou um apreciador incondicional da fruta brasileira, rara na Europa durante a guerra e inexistente nos campos de prisioneiros russos.

Aos poucos, fomos tomando conhecimento das vicissitudes do soldado alemão, na frente de batalha. Em janeiro de 1943, os exércitos alemães se posicionaram na fronteira russa ao longo de 2.900 km. No dia 8 de janeiro, foi dada a ordem de avançar. Os canhões dispararam e as tropas alemãs penetraram território russo a dentro. Durante vários dias percorreram dezenas de quilômetros sem encontrar viva alma. Joannes fora designado para o setor de intendência e participou da repetidas vitórias alemãs até o cerco a Leningrado. Quando chegou o inverno, a roleta da sorte começou a girar em favor dos russos, até a rendição alemã em 1943, quando 90.ooo alemães foram feitos prisioneiros. Estavam morrendo à míngua, sem combustível, sem alimentos e roupas para suportar as terríveis temperaturas do inverno russo. Não se renderam antes graças à teimosia e estupidez de Hitler. Joannes conta que se formou uma fila imensa de vários quilômetros, com prisioneiros famintos e maltrapilhos que eram conduzidos por uns poucos guardas russos que ficavam a uma boa distância um do outro. Os camponeses russos tinham um ódio implacável dos alemães (e com razão). Escondidos à beira do caminho, saltavam sobre a fileira de prisioneiros e arrastavam um ou mais infelizes para o mato, onde os massacravam. Para se defenderem, quando atacados, eles gritavam em altos brados, chamando a atenção dos guardas que acorriam em seu socorro.

Nas prisões russas, os prisioneiros foram designados para trabalhos diversos. A comida era escassa e de péssima qualidade. Nas refeições, os prisioneiros recebiam uma espécie de mingau que, jogado contra a parede da prisão, ali ficava grudado. Mas a população russa também era vítima da fome e muitas pessoas se compadeciam do sofrimento dos prisioneiros. Johannes  contou que mulheres russas muitas vezes traziam pedaços de pão que ofereciam aos mais enfraquecidos. Mas os alemães também usavam de esperteza quando tinham oportunidade. Num dos relatos, Johannes contou  que, em determinado período, um grupo de prisioneiros foi designado par descarregar vagões de carga que, entre muitas mercadorias, traziam máquinas de costura. Eles, então, tiravam das máquinas uma pequena peça que impedia que elas funcionassem, vendendo-as, depois, aos compradores das mesmas em troca de comida.

A dedicação de Johannes no cumprimento de suas tarefas, chamou a atenção do comandante da prisão que o designou para prestar serviços em sua residência , onde teve uma acolhida amigável por parte da mulher do militar. Entre suas principais tarefas, ele devia cortar lenha para a lareira da casa e prestar serviços externos. Ele tinha liberdade de ir e vir, porque ninguém se preocupava com a fuga dos prisioneiros, pois estavam a milhares de quilômetros de casa e não tinham forças para longas caminhadas. Agora, pelo menos, ele recebia uma refeição decente.

Depois de 5 anos de dolorosa expectativa, os russos decidiram libertar 5.000 prisioneiros alemães, sendo que mais de 80 mil nunca voltaram. Entre os que voltaram estava o nome de Johannes Peter Rosbach. Ele retornou à Bélgica para o seminário em Garnstock, preparando-se para vir para o Brasil. Ali, foi  entrevistado pelo brasileiro Frei Evaristo Arns (futuro cardeal-arcebispo de São Paulo) para verificar seu nível de instrução, depois de tantos anos afastados dos estudos. E frei Evaristo mandou para seus superiores no Brasil, a seguinte mensagem: "Ele conheceu as maiores provas que a Providência costuma impor a um missionário e não se deixou vencer por elas".
No seminário, fiz amizade com Johannes e fui testemunha das grandes dificuldades que tinha para acompanhar os estudos, pois  ainda falava português com grande dificuldade. O contato com sua personalidade afável, dissiparia aquela imagem que todos temos do soldado alemão na segunda guerra mundial, a de um ser humano cruel e insensível, pronto para matar. Tínhamos combinado escrever em parceria um livro de memórias, relatando suas peripécias durante a guerra, mas, como eu deixei o seminário tempos depois, o projeto não se concretizou.

No Brasil, Johannes prosseguiu seus estudos, ingressando na Ordem Franciscana com o nome de frei Conrado. Foi ordenado padre, exercendo seu ministério em diversas cidades brasileiras, onde era amado pela sua simplicidade e bondade. Faleceu com a idade de 87 anos.



   




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domingo, 25 de setembro de 2011

A MORTE DO CAPELÃO MILITAR

                                             




Foto deFrei Orlando, capelão militar, que acompanhou a Força Expedicionária Brasileira à Itália, na Segunda Guerra Mundial. À  época, o autor estudava no Seminário Seráfico São Luiz de Tolosa, na cidade de Rio Negro,. Paraná. No livro – As Torres das Três Virtudes – R.H. Souza faz um relato sobre a morte do capelão. Eis a narrativa:

"Depois da guerra, quando os pracinhas brasileiros retornaram da Europa, visitou o seminário um frade franciscano de nome Frei Alfredo Setaro que tinha sido capelão militar junto à Força Expedicionária Brasileira. Chegou em seu uniforme militar, no posto de capitão. Era um frade muito inteligente e proferiu palestras para os seminaristas, narrando episódios que presenciou durante a guerra. Algumas de suas narrativas foram mal recebidas por alguns padres alemães mais exaltados, principalmente quando ele se referiu ao comportamento de soldados brasileiros no trato de alguns prisioneiros alemães, como aquele que teve um soldado da FEB ao encontrar um alemão, apavorado, escondido debaixo de uma cama, numa casa bombardeada. Ele pegou o prisioneiro pelo nariz e o arrastou até junto do pelotão que os recebeu às gargalhadas.

Frei Alfredo também narrou um episódio que deixou a plateia emocionada. Referia-se à morte de seu confrade, Frei Orlando, também capelão militar. Ele seguia num jipe dirigido por um soldado , em companhia de outros militares,  em visita aos postos avançados em Monte Castelo, quando o veículo teve uma das rodas travada por uma pedra. Todos desceram do jipe e um soldado italiano que acompanhava o grupo começou a bater na pedra com a coronha de seu fuzil,  momento em que a arma disparou e atingiu o capelão no coração, matando-o na hora.
– Vejam – concluiu o palestrante. – O nosso querido Frei Orlando escapou de bombardeios e de outros perigos que cercavam as tropas, para morrer estupidamente diante da imprudência e irresponsabilidade daquele soldado. Isso aconteceu em 20 de fevereiro de 1945, quase ao final da guerra.  Mas tenham certeza que a memória de nosso confrade será sempre lembrada pela dedicação e fervor com que exercia seu ministério, jamais se furtando em assistir qualquer moribundo, por mais perigosas que fossem as circunstâncias".

O governo brasileiro instituiu frei Orlando como patrono do Serviço de Assistência Religiosa do Exército, criado, em caráter permanente, por decreto-lei, no ano de 1946.


    Foto de Frei Alfredo Setaro. Ele e frei Orlando usavam o uniforme de capitão, 
o posto mais elevado entre os capelães militares que acompanhavam a Força   Expedicionária Brasileira






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domingo, 18 de setembro de 2011

A SÁBIA SETENÇA DO GOVERNADOR SANCHO PANÇA



Sancho Pança, o fiel escudeiro de D. Quixote, é um personagem fantástico na obra de Miguel de Cervantes. Ele encarna a sabedoria do povo, é um homem prático, em contraposição às alucinações de seu patrão. Numa das passagens da obra, os dois personagens se hospedam no castelo de nobres espanhóis que alimentam as loucuras do cavaleiro da triste figura e de seu escudeiro. Sancho Pança é nomeado o hipotético “governador” de uma ilha onde, para surpresa de todos, ele dá demonstrações de sabedoria e espírito prático, principalmente no julgamento das desavenças entre seus súditos. A seguir, vamos resumir um desses julgamentos, com as devidas adaptações no linguajar:

Uma mulher entra no tribunal agarrada ao braço de um rico pastor, enquanto, aos brados, acusa o homem de tê-la violentado, dizendo que ele serviu-se de seu corpo, tirando-lhe aquilo (a virgindade) que ela conservava ao longo dos anos, defendendo-a de mouros e cristãos, do povo do lugar e de estrangeiros.
Sancho Pança, virou-se para o acusado e perguntou-lhe o que tinha a dizer. O homem respondeu:
- Senhores, sou um pobre porqueiro. Esta manhã fui vender quatro cevados e quando voltava para minha aldeia, encontrei esta boa mulher e o diabo fez com que mantivéssemos relações. Paguei-lhe um bom dinheiro, mas ela, não satisfeita, agarrou-me e me trouxe até aqui, acusando-me de estupro, o que nego sob juramento.
Então, o governador perguntou-lhe se trazia consigo algum dinheiro e o homem  respondeu que trazia vinte ducados de prata numa bolsa de couro. Sancho mandou que ele entregasse o dinheiro à mulher, o que o homem fez muito a contragosto. A mulher pegou o dinheiro e agradeceu muito, pedindo a Deus pela saúde  do governador que se preocupava pelas órfãs necessitadas e donzelas. Saiu do tribunal segurando a bolsa com as duas mãos, mas antes examinou se as moedas eram mesmo de prata. Sancho, então,  falou para o homem que tinha os olhos cheios de lágrimas:
- Bom homem, correi atrás daquela mulher e tirai-lhe a bolsa, mesmo com o uso da força e voltai com ela aqui.
O homem se precipitou ao encalço da mulher e, depois de uma desesperada luta, não conseguiu arrancar-lhe a bolsa com o dinheiro. Voltaram ambos. Ela, com a saia levantada e com a bolsa no colo, enquanto bradava:
- Justiça de Deus e do mundo! Veja Vossa Mercê, senhor governador, a pouca vergonha e o pouco receio deste desalmado que, no meio da povoado e no meio da rua, me quis tirar a bolsa que Vossa Mercê me mandou dar.
Sancho pegou a bolsa e a devolveu ao porqueiro, enquanto dava sua sentença:
- Mana minha, se mostrásseis o mesmo alento e valor, que mostrastes na defesa desta bolsa, ou só a metade, para defender vosso corpo, nem as forças de Hércules vos violentariam. Ide com Deus e, em má hora, e não pareis nem nesta ilha, nem em seis léguas de contorno, sob pena de duzentos açoites. Ide já, repito, desavergonhada e embusteira.
A mulher saiu cabisbaixa e descontente e o governador disse para o homem:
- Ide com Deus para o vosso lugar e com o vosso dinheiro, e daqui por diante, se não quereis perde-lo, evite a vontade de namorar com ninguém.
O homem agradeceu-lhe penhorado e foi-se embora, enquanto os circunstantes ficaram admirados pela justeza das sentenças de seu novo governador.



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OPERAÇÃO KAABA – A sensacional narrativa do sequestro de um papa por terroristas islâmicos, no ano de 2035. Link: 

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MENINO TROPEIRO – As aventuras de um menino, no interior da Região Sul do Brasil. 

PROVÉRBIOS LATINOS – Sã0 440 dos mais famosos prevérbios da cultura humanística, com a tradução, pronúncia e exemplos de seu uso correto.  

 


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