"No início do ano de 1940, o país vivia em pleno Estado Novo e Santa Catarina era governada pelo interventor Nereu Ramos. Ele era natural de Lages e, durante sua gestão, fez muitas obras no Município. Como professor do Estado, meu pai era getulista e apoiava o interventor.
Naquele
ano, Nereu Ramos resolveu fazer uma viagem ao interior do Estado e visitar
todos os distritos ao longo da estrada estadual, que ia até a fronteira de
Santa Catarina com o Rio Grande do Sul, delimitada pelo Rio Pelotas. Saindo de
Lages, ele iria percorrer as localidades de Capão Alto, Campo Belo, Cerro
Negro, Anita Garibaldi, Santo Antônio e São Pedro.
Como
meu pai sabia escrever e tinha fama de bom orador, foi solicitado pelo pessoal
de Anita Garibaldi para fazer o discurso de boas-vindas ao interventor. O mesmo
fizeram os distritos de Cerro Negro e São Pedro. A caravana de políticos iria
percorrer de automóvel os três lugares no mesmo dia. A solução para o problema
foi meu pai acompanhá-la ao longo do caminho e pronunciar os discursos na
chegada a cada lugar. Como não tinha muito o que dizer, preparou um texto
único e só trocava os nomes dos lugares
no momento apropriado. Assim fez em Cerro Negro. Algumas horas depois, fazia o
mesmo discurso em Anita Garibaldi. Quando chegou a São Pedro e começou a falar,
foi interrompido pelo interventor com as seguintes palavras:
–
Muito obrigado, professor, mas o sr. já falou
muito hoje. Deixe que eu levo o discurso e leio em casa.
Neste momento, meu pai se deu conta do ridículo da situação. O pessoal da caravana riu bastante, mas o interventor o abraçou e disse entender perfeitamente o problema e ele não precisava se preocupar."