quinta-feira, 31 de outubro de 2013

FUI ALUNO DO ADVOGADO DO DIABO


                                                       
                                                                                             

No ano de 1960, eu estudava na Faculdade Nacional de Direito no Rio de Janeiro, onde lecionava direito penal o professor Oscar Stevenson, que tinha como assistente da cátedra, um renomado advogado de nome Leopoldo Heitor, popularmente conhecido como o Advogado do Diabo. Esse advogado dava aulas práticas de direito penal, aos sábados, oportunidade em que ensinava aos alunos todos os macetes de um criminalista, na defesa de seus clientes, mesmo que, em determinados casos, arranhasse os limites da ética profissional. Falava das muitas artimanhas que o causídico podia adotar, no decurso do processo, para confundir a outra parte ou até mesmo o magistrado, sempre com o objetivo maior de livrar o cliente da condenação. Numa aula que assisti, lembro-me de um exemplo que ele deu: em determinadas circunstâncias, o advogado podia juntar ao processo algo completamente disparatado, como um artigo de jornal, sem nenhum vínculo com a causa, para deixar o advogado da outra parte baratinado, perdendo boa parte de seu tempo para tentar descobrir a razão daquela inclusão.
Leopoldo Heitor ficara famoso face à sua atuação no chamado crime do Sacopã, que teve grande repercussão na imprensa de todo o país. Ele era um sujeito bem falante e ganhara a confiança do professor Oscar Stevenson que o convidou para seu assistente na cátedra de direito penal na Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil. Segundo relatos de alunos da faculdade, Leopoldo Heitor passou a frequentar a casa do catedrático, com quem rapidamente se desentendeu. Segundo boatos no meio acadêmico, Leopoldo Heitor teria tentado seduzir ou teria mesmo seduzido uma jovem bem próxima do professor, o que, naturalmente, não posso confirmar. O fato é que Oscar Stevenson foi o primeiro a denunciar Leopoldo Heitor pelo sumiço da milionária Dana de Teffé.

Segundo o jornalista e escritor Carlos Heitor Cony, Dana de Teffé era de origem judaica, com cidadania tcheca, passando  por vários países antes de chegar ao Brasil. Além de bailarina clássica, ela teria sido espiã de alemães, russos, ingleses e mexicanos. 
Aqui, casou-se com o embaixador brasileiro Manuel de Teffé  von Hoonholtz, tornando-se uma mulher muito rica. E 1951, mudou-se com o marido para o Rio de Janeiro. Após separar-se do embaixador, ela contratou o advogado Leopoldo Heitor de Andrade Mendes para administrar sua fortuna. Foi nesse momento que ela entregou o ouro ao bandido, pois, munido de uma falsa procuração, Leopoldo Heitor conseguiu botar a mão na fortuna de sua cliente. Advogado e cliente teriam também mantido  uma relação amorosa, pois Leopoldo Heitor era famoso também pelas suas conquistas no mundo feminino.
Durante uma viagem pela Via Dutra, em companhia de Leopoldo Heitor, Dana de Teffé desapareceu, misteriosamente. O advogado foi preso, julgado e condenado por assassinato. Ele alegava que ambos tinham sido assaltados e que Dana fora sequestrada.  Conseguiu fugir da prisão, e somente anos mais tarde foi recapturado. A condenação do primeiro julgamento foi anulada e, num segundo julgamento, ele obteve absolvição. O motivo parece ter sido a falta do corpo. Ele levava muito a serio aquele princípio jurídico: “sem cadáver, não existe crime”. O fato é que o corpo de Dana nunca foi encontrado.
Ele conseguiu que seu julgamento fosse feito na cidade de Rio Claro, onde  tinha um sítio e também onde desfrutava de grande popularidade. Ele fez sua defesa e conseguiu a absolvição.
Depois de solto, o Advogado do Diabo voltou à sua banca de advocacia, no Rio de Janeiro, exercendo a profissão até sua morte em 2001. Casou-se por três vezes e teve dez filhos. Sua imaginação fértil continuava insistindo no sequestro de Dana de Teffé e dizia por aí que, com outro nome, ela estaria vivendo num país da cortina de ferro e que um dia,  reapareceria.
(Na foto acima, Dana de Tefé e Leopoldo Heitor, assunto que ocupou as páginas da imprensa nacional durante longo período)

                                                                                                                                

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quarta-feira, 9 de outubro de 2013

EM MEMÓRIA DE MINHA IRMÃ, MARIA APARECIDA SOUZA TRIPODI (1942-2013)


                                       NOSSA SENHORA APARECIDA, PADROEIRA E RAINHA DO BRASIL



( Texto extraído do livro Menino Tropeiro, de R.H. Souza)

"E aconteceu novamente o inevitável. Minha mãe ficou grávida de mais um filho. Era o de número cinco, excluindo aquele que ela perdera dois anos antes. Desta vez, a gravidez era em condições  difíceis,  pois  ela  ficava a  maior parte do dia sozinha em casa com os dois filhos pequenos, enquanto minha irmã e eu íamos para a escola com meu pai. João, o empregado, fora embora,  porque  também  precisava ajudar sua família nos trabalhos da lavoura. Se ela tivesse um problema repentino, quem iria socorrê-la? Nos dias em que não estava bem, eu faltava a aula para ficar em casa de plantão. Meu pai passou a considerar que a mudança para o sítio tinha trazido mais males do que benefícios. Agora, sem a ajuda de João, não tinha mais ninguém para trabalhar na lavoura e o mato tomava conta das plantações.
No dia 7 de maio de 1942, minha mãe teve uma menina, a quem deu o nome de Maria Aparecida, em homenagem à padroeira do Brasil, de quem era muito devota. Quem realizou o parto foi uma senhora que morava num sítio a dois quilômetros do local. Nesse dia, eu fiquei de plantão, com um cavalo preparado para chamar a parteira. Quando minha mãe sentiu as primeiras dores, parti a galope atrás da boa senhora e, duas horas depois, ela já estava a postos, momento em que meu pai também chegava da escola. Graças a Deus, tudo correu bem.
Mas, depois do parto, dona Lina não era mais a mesma pessoa. Tinha problemas intestinais, passava por crises graves de saúde. Uma noite, ela estava tão mal que meu pai me chamou e perguntou se eu tinha coragem de ir até Anita Garibaldi e chamar o dr. De Negri.
 Eu disse que sim e me pus logo a caminho. Estava muito escuro e caía uma chuva fininha que penetrava os ossos, além do frio, pois era o mês de julho, em pleno inverno. Pelo caminho eu pensava se o médico iria atender ao chamado, depois daquela confusão na casa de Silvério entre minha mãe e d. Talita. As famílias não se falavam há muito tempo.
Ao chegar em Anita Garibaldi, fui até a casa do médico, mas ele não estava. D. Talita, sua mulher, me atendeu  bem,  mas  informou  que  ele tinha ido visitar um doente e ainda não retornara, mas era esperado em casa naquela noite. Fiquei desesperado e voltei para casa onde o estado de saúde de minha mãe se agravara.
Depois de algum tempo de hesitação, meu pai resolveu retornar comigo à casa do doutor e, quando lá chegamos, graças a Deus ele ali se encontrava. Imediatamente, pegou sua maleta e nos acompanhou pelos caminhos tortuosos que iam dar em nossa casa. Numa descida, cujo chão estava escorregadio, ele tropeçou num pequeno arbusto e caíu. Embora, todo arranhado, disse que não tinha acontecido nada e avançamos rapidamente. Ao chegarmos em casa, encontramos minha mãe ainda com muitas dores na barriga. O médico a examinou e depois lhe deu uma injeção que a fez dormir por um longo período. Já era dia claro e dr. Giovanni continuava de plantão, pois estava preocupado com o estado da paciente. Reunido com meu pai na pequena sala, ele falou:
– Professor, o estado de saúde de sua mulher é muito preocupante.  É melhor todos voltarem a residir no povoado, pois aqui nesses matos podemos fazer muito pouco  por ela.
– Eu já tinha pensado nisso – disse meu pai. – Mas a Lina é teimosa e não quer abandonar suas plantações.
– É melhor ficar sem as plantações do que sem a vida. Aqui, fica difícil lhe dar assistência médica. O sr. tem o exemplo de hoje.
– Vou falar com o Silvério, pois o casarão onde morávamos lá na vila, continua vazio. Vou lhe pedir permissão para voltarmos, imediamente, para lá.
– Faça isso, professor. É para o bem de toda a família, pode acreditar.
Apesar do problema com a vaca, Silvério não  fez nenhuma objeção e algumas semanas depois, a família voltava ao ninho antigo. Era a quarta mudança que fazíamos no pequeno povoado naquele esquema de vida de ciganos. Deixamos para trás a casa do sítio que era fria e úmida e voltamos para o casarão bem confortável, com todos os cômodos com forro de madeira e as paredes calafetadas com ripas pregadas sobre a junção das tábuas para impedir a entrada do vento e do frio. A grande vantagem, agora, é que estávamos a duzentos metros da escola e dona Lina contava com a assistência de todos a qualquer hora.
E a família tomou também uma decisão importante: vaca emprestada, nunca mais. E eu, depois de um tempo, voltei a tocar o Angelus, três vezes ao dia, pois na minha ausência ninguém se candidatara para a realização da sagrada tarefa.
A rotina voltou a tomar conta do povoado. A única saudade que eu tinha do sítio, era a abundância de lenha. Bastava sair da casa que, por todos os lados havia galhos secos em profusão. Bastava arrastá-los para o pátio e botar o machado pra funcionar. No sítio também havia muita fartura de pinhão, mas tínhamos muitas vezes que disputá-los com os porcos que os criadores soltavam no mato, na época de produção do fruto, mais precisamente no inverno. Durante esse período, o vento debulhava as pinhas e os suínos, espertos, dormiam debaixo dos pinheiros e quando o dia clareava, o alimento estava ao alcance de seus dentes. Quem chegasse mais tarde, ficava a ver navio".

                                        

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

NEILA ALCKMIN – UMA EXTRAORDINÁRIA VIDENTE







No ano de 1989, o Brasil tinha 22 candidatos à presidência da república. Entre eles se destacavam Collor, Lula e Guilherme Affif Domingos. Dona Neila Alckmin, uma consagrada vidente mineira, de Conceição do Rio Verde, vaticinou a vitória desse último candidato, o que não aconteceu, sendo a mesma ridicularizada por numerosos veículos de comunicação. O fato, entretanto, não diminui a importância dessa extraordinária vidente, face aos numerosos acertos ao longo de sua vida, sendo consultada frequentemente por políticos mineiros, como Juscelino Kubitshek e Trancredo Neves. Em tempo: o famoso código da Bíblia também indicava Affif Domingos como vencedor daquela eleição. 

   Entre os fatos mais comentados na história de Dona Neila Alckmin, está aquele relacionado a um acidente de avião ocorrido no ano de 1980, quando uma aeronave de pequeno porte bateu no pico do Frade, em Paraty, Rio de Janeiro. Apesar das numerosas buscas, os destroços do avião não foram encontrados, até que os parentes das vítimas recorreram a Neila e ela mostrou num mapa a localização exata dos mesmos, onde, efetivamente, foram encontrados. As vítimas do acidente eram o irmão e a cunhada de Milu Vilella que, à época, confirmou o fato aqui narrado. 

       Entre os episódios que mais se destacam na biografia de Neila Alckmin está a indicação de jazidas de petróleo na Bacia de Campos, o que ela fez, a pedido do Ministro César Cals, das Minas e Energia, nos anos 80. O mapa com os pontos a serem prospectados, foi enviado à Petrobrás, cujos técnicos o desdenharam, mas, depois, sob pressão das circunstâncias, furaram os poços de onde jorrou petróleo em abundância. Ela afirmava que, no subsolo do território brasileiro, existiam grandes jazidas do ouro negro, talvez já vislumbrando a descoberta do pré-sal, cuja exploração, segundo especialistas, colocará o Brasil entre os maiores produtores mundiais.

      O pai do empresário Eike Batista, Elieser Batista, que também foi Ministro das Minas e Energia nos anos 60 e participou de diversos cargos em governos posteriores, tinha em sua gaveta um mapa feito pela vidente Neila Alckmin, onde ela assinalava numerosos pontos do território nacional com a presença dos mais variados tipos de minérios. Esse mapa foi passado ao filho Eike e, segundo relatos, através dessas indicações, o empresário brasileiro teria garimpado respeitável fortuna. Mas, quem poderia confirmar a assertiva, seria o próprio Eike. 

      Hoje, não dispomos de muitos dados biográficos de Neila Alckmin. Sabe-se que, depois daquele vaticínio  sobre a eleição presidencial, ela se negou, até sua morte, a fazer qualquer previsão de cunho político.


 Circula na Internet uma previsão sobre a presidente Dilma, atribuída a Leila Alckmin, mas ficou evidenciado que se trata de um texto espúrio, sem nenhum fundamento.