quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

SANTA CATARINA E O PERIGO NAZISTA



Tradições alemãs em Santa Catarina

                

Durante a Segunda Guerra Mundial, o Estado de Santa Catarina foi palco de diversos acontecimentos que vieram perturbar a tranquilidade de suas populações. Como o Estado tinha uma numerosa população constituída por imigrantes alemães e italianos, passou a ser alvo da vigilância das autoridades federais e estaduais, pois muitos desses imigrantes eram adeptos de Mussolini, mas principalmente de Adolf Hitler. Entre a população daquele estado corriam notícias e boatos sobre uma invasão alemã do Sul do Brasil, falava-se de espiões alemães infiltrados entre a população de origem germânica. Em Florianópolis, contava-se a história de um alemão, proprietário de uma empresa de pesca, que usava seus barcos para reabastecerem submarinos alemães que atracavam numa ilhota situada em alto mar. Diziam também que outros submarinos se aproximavam das praias do litoral catarinense e recebiam alimentos frescos das populações locais, formadas por imigrantes alemães e seus descendentes.
O governo federal proibiu que se falasse alemão na região, embora os velhos colonos alemães só soubessem falar esse idioma. Em Blumenau, alguns brasileiros mais revoltados, escondiam-se nas proximidades das casas de alemães para ouvir se falavam alemão e, então, denunciá-los às autoridades. O interventor Nereu Ramos fechou mil escolas que funcionavam nos povoados da zona rural, onde só se falava alemão, simplesmente porque os professores não sabiam português. Logo a seguir, reabriu as referidas escolas com professores brasileiros para que ensinassem a língua pátria aos filhos daqueles colonos. Na verdade, aquelas populações ficaram isoladas durante décadas do restante do Brasil e, só então, o governo brasileiro se dava conta do problema. Em Blumenau se contava a história de um preto velho, criado por uma família alemã que, durante uma reunião com membros da comunidade, preocupados com a guerra e suas consequências, ele teria dito: ”Agora, mais do que nunca, nós os alemães devemos ficar unidos”.
Quando um navio brasileiro era torpedeado por um submarino alemão, recrudescia o antagonismo entre brasileiros e imigrantes alemães, com manifestações de rua, invasão de propriedades. Em Lages, nem mesmo o convento franciscano, fundado por padres alemães, escapou da fúria popular numa tentativa de depredação do mesmo, o que não aconteceu diante da habilidade de seu guardião que veio receber os manifestantes, mostrando aos mesmos o quanto seus irmãos de hábito tinham feito pela cidade.
As pessoas sob suspeita de colaboração com o nazismo e o fascismo eram interrogadas pelos agentes federais e, conforme a situação, levadas para as unidades policiais onde suas vidas eram vasculhadas nos mínimos detalhes.
Àquela época eu, ainda adolescente, residia em Anita Garibaldi, um longínquo povoado no interior de Santa Catarina e assisti a abordagem desses agentes a um médico italiano que morava na localidade. Relato o fato em meu livro, Menino Tropeiro, conforme segue:
“Em 1939, quando começou a Segunda Guerra Mundial, dr. De Negri instalou em sua casa um rádio alimentado a bateria. Ele tinha duas, que mandava recarregar em Lages e, assim, podia acompanhar o desenvolvimento da guerra. Era um dos poucos aparelhos do lugar (talvez o único) e, por meio dele, sabíamos o que se passava lá fora. O jornal que chegava a Anita Garibaldi era um semanário, O Guia Serrano, editado em Lages, pelos frades franciscanos e, assim mesmo, chegava com atraso.
Giovanni De Negri era entusiasta de Mussolini, pois dizia que o Duce dera um progresso extraordinário à sua pátria, a Itália, opinião que era compartilhada por muita gente no Brasil. Acho que ele mantinha contatos com parentes na terra natal que também apoiavam o governo fascista. Em 1942, o Brasil rompeu relações com o Eixo e mais navios brasileiros começaram a ser torpedeados pelos submarinos alemães. A partir desse momento, cidadãos alemães e italianos começaram a ser vigiados pelos serviços secretos do governo Vargas, principalmente os membros mais influentes de cada comunidade, como era o caso do nosso prezado doutor.
Um sábado à tarde, meu pai e eu nos encontrávamos na casa do médico, quando um automóvel parou em frente ao portão. Do carro, saíram dois homens que bateram palmas à entrada. Automóvel em Anita Garibaldi era coisa rara naqueles tempos e o fato causou estranheza ao médico e àqueles que estavam com ele naquele momento. Como fora informado por alguns amigos da possibilidade de estar sendo investigado pelo Governo, pediu a meu pai que escondesse num galpão que ficava aos fundos de sua propriedade, perto do estábulo, uma caixa de correspondência que mantinha com a Itália. Enquanto o professor se deslocava para lá, ele se aproximou do portão e recebeu os visitantes com aquele seu sorriso característico, aparentando a maior tranquilidade.
Os homens disseram que eram do serviço de segurança do Governo Federal e que precisavam colher alguns depoimentos do médico, já que era de nacionalidade italiana e figura de destaque na região.
– Sou figura de destaque, em que sentido? – perguntou dr. Giovanni.
– Ora – disse o mais velho dos agentes –, sabemos que o sr. tem grande influência junto à colônia italiana...
– Se visitar doentes no lombo de um cavalo é ser influente, então, eu sou influente. Se exercer a medicina numa vasta região, sem contar com nenhuma estrutura, sem hospital nem farmácia, então eu sou influente e me orgulho disso.
– Sabemos que o sr. é um homem de grande prestígio, um médico conceituado, mas precisamos saber quais as ligações que mantém com o governo fascista, uma vez que estamos em guerra com a Itália.
Os agentes passaram um longo tempo na casa do médico, pediram para examinar sua correspondência com o exterior e ele lhes mostrou somente as cartas que mantinha com seus familiares, pois àquelas mais comprometedoras, de cunho político, meu pai já dera sumiço. Mas também não eram de conteúdo que pudessem comprometer a segurança nacional.
Depois que os agentes se retiraram, o médico ficou aliviado e passou a rir do ridículo da situação e falou para meu pai:
– Imagine, professor, eu aqui no meio desses matos, atuando como quinta coluna a serviço das forças do Eixo. Não sabia que era tão importante, assim.
– Mas não custa tomar alguns cuidados, doutor, pois existe no país um grande sentimento de animosidade contra alemães e italianos, por causa da guerra e por causa dos torpedeamentos de navios brasileiros. Eu soube que no litoral e em lugares como Blumenau, as pessoas foram até proibidas de falar alemão. Todas as escolas que eram mantidas pelos colonos alemães, com professores alemães, foram fechadas pelo interventor, dr. Nereu Ramos. Agora, foram reabertas e ali só lecionam professores brasileiros. 
– São coisas da guerra – concluiu o médico. – Já se fala que o Brasil vai mandar tropas para lutar na Europa.
As ponderações do professor contaram também com o apoio da mulher do médico, d. Talita, que estava muito assustada com a presença dos agentes federais em sua casa.
– Vamos esquecer o episódio – concluiu dr. De Negri – Amanhã é domingo e vou fazer uma grande macarronada. O professor e sua família estão convidados. Cáspite! – concluiu ele com uma expressão italiana que sempre usava quando queria ironizar ou se admirar de uma situação.
No dia seguinte, estávamos todos lá para nos deliciarmos com a famosa macarronada do médico. Ele mesmo preparava a massa e o molho com todos os ingredientes. Todos que a tinham provado diziam que até na Itália era difícil comer uma macarronada com aquele sabor. Cáspite."




                                           
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sábado, 17 de novembro de 2012

E, ENTÃO, O SOL PAROU ...SEGUNDO O LIVRO DE JOSUÉ


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                                                       Galileu Galilei

No dia 22 de junho de 1633, na cidade de Roma, se realizava uma reunião do Santo Ofício com o objetivo de julgar  Galileu Galilei por causa de sua teoria do heliocentrismo, segundo a qual a terra girava em torno do sol e não ao contrário, como se acreditava à época. Predominava, então, a teoria do geocentrismo, segundo a qual a terra era o centro do universo e,  em torno dela, girava o sol. Assim, ensinavam Aristóteles e Ptolomeu. Mas a Igreja defendia essa tese baseada principalmente na Bíblia, mais precisamente no Antigo Testamento, livro de Josué (Js 10.12-14), cujo texto mostramos a seguir:

“Então, Josué falou ao SENHOR, no dia em que o SENHOR deu os amorreus na mão dos filhos de Israel, e disse aos olhos dos israelitas: Sol, detém-te em Gibeão, e tu lua, no vale de Aijalom. E o sol se deteve, e a lua parou, até que o povo se vingou de seus inimigos. Isso não está escrito no Livro do Reto? O sol, pois, se deteve no meio do céu e não se apressou a pôr-se, quase um dia inteiro. E não houve dia semelhante a este, nem antes nem depois dele, ouvindo o SENHOR, assim, a voz de um homem; porque o SENHOR pelejava por Israel.” 

O curioso  é que Galileu baseava seus estudos nas teoria de um cônego católico, o polonês Nicolau Copérnico (1473-1543) que apresentava argumentos contundentes em favor da tese do heliocentrimo, sendo considerada  uma das teorias científicas mais importantes de todos os tempos e que marcou o início da moderna astronomia.

Para não ser condenado à fogueira, Galileu se retratou, mas, mesmo assim, foi condenado à prisão domiciliar e impedido de publicar suas obras. Conta-se que, ao ouvir a sentença do Santo Ofício, ele teria resmungado: “Epur si muove!”, cuja tradução é “E, no entanto, ela se move!”
A condenação de Galileu Galilei só foi reconsiderada pela Igreja em nossos dias, por iniciativa do papa João Paulo II que o absolveu em 1998.

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segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O PARAGUAI JÁ FOI POTÊNCIA MILITAR SUL-AMERICANA





O título desta matéria parece estranho, mas o Paraguai já teve o melhor exército sul-americano. Isso, foi antes da Guerra do Paraguai, quando o país enfrentou Brasil, Argentina e Uruguai. A opinião pública internacional, principalmente a europeia, era naturalmente, a favor do Paraguai, um pequeno país encrustado entre dois gigantes: Brasil e Argentina, mais o pequeno Uruguai. O fato é que eles não sabiam o que se passava naquela região. O texto que publicamos a seguir, extraído da coletânea Nosso Século, da Abril Cultural, nos dá a dimensão do problema, com os antecedentes que culminaram no maior conflito que o continente sul-americano conheceu.

Guerra do Paraguai: uma vitória feita de dívidas.

O filósofo francês Auguste Comte, ao fazer a galeria positivista dos benfeitores da humanidade, incluiu a figura do Doutor Gaspar Francia, fundador da nação paraguaia. Líder das campanhas que libertaram o Paraguai do domínio espanhol em 1811, Francia tornou-se Mandatário Supremo do país, concentrando em si toda a autoridade nacional. E sua ditadura, voltada para a ordem e o progresso - lema positivista -, tomou as terras dos grandes senhores rurais e eliminou a aristocracia: o povo praticamente trabalhava para o Governo, em regime comunitário.
O prudente isolacionismo do Doutor Francia, El Supremo, herdeiro laico do pulso jesuítico que formou o país, fechou o acesso do Paraguai aos países estrangeiros.
O sucessor de Francia, Carlos Antonio Lopez continuou sua oba, mas mostrou-se mais maleável com relação à diplomacia externa: embora se mantivesse a distância dos interesses britânicos (que dominavam absolutos, o resto da América do Sul), preferiu estreitar laços com outras potências europeias, como França e Prússia.
Com a morte de Carlos Antonio Lopez em 1862, chega ao poder seu filho, Francisco Solano Lopez. Nessa época, o regime político inaugurado por Francia dava seus frutos: o Paraguai progredia, como nenhuma outra nação da América do Sul. Havia indústrias e fundições, e o Exército do país, graças a missões militares estrangeiras, tornava-se o primeiro do continente.
Mas, encravado na América, o Paraguai dependia do Uruguai para escoar seus produtos pelo estuário do Prata. Em 1850, esses dois países firmaram um tratado em que o Paraguai se comprometia a intervir, caso a soberania uruguaia fosse ameaçada.
O cumprimento desse tratado provocou a Guerra do Paraguai (1865-1870), em que o país se confrontava com a Tríplice Aliança - Brasil, Uruguai e Argentina – alimentada por armas e capitais ingleses.
Em 1864, o Império intervém no Uruguai contra o governo do partido blanco, que pressiona os proprietários brasileiros estabelecidos na fluida fronteira entre os dois países. Apoiando a oposição colorada, que lhe oferece garantias, bloqueia Montevidéu. O Paraguai protesta, aprisionando um navio brasileiro em Assunção. O Império declara-lhe guerra.
Após efêmera invasão do território brasileiro (Rio Grande do Sul, Mato Grosso) as tropas paraguaias refluem para o próprio território. Apesar da aliança que se estabelece entre os governos do Rio de Janeiro, Buenos Aires e Montevidéu , a evidente superioridade paraguaia só aos poucos vai cedendo à investida dos invasores. Mas a guerra é lenta, com longas pausas na época das chuvas.
Em 1866, na Batalha de Curupaiti, brasileiros e argentinos sofrem grande derrota. A guerra se prolonga, e só em 1868 os aliados conseguem silenciar as fortificações paraguaias de Humaitá, o que lhes abre as portas de Assunção.
Após pelejas e escaramuças várias (em Acosta-Nhu – agosto de 1869 – desaparecem 3.500 soldados paraguaios recrutados entre a população de nove a quinze anos), a capital de Lopez  é ocupada (dezembro de 1869). Somente dois meses mais tarde terminaria o conflito, com a morte do ditador em Cerro Corá, onde valentemente recusa se entregar aos vencedores.
Em 1870, o Paraguai estava destruído, e morta a maior parte de sua população masculina. A história brasileira tomaria novo rumo: para fazer frente à guerra, o Exército imperial, que até então recrutava seus escalões superiores na elite escravocrata, teve que abrir seus quadros a outras parcelas da população, recrutando filhos de uma nascente classe média para posições de comando, e milhares de negros alforriados para os escalões inferiores, o que o tornou permeável a ideias abolicionistas e republicanas. A própria organização do Exército imperial foi alterada no esforço de guerra, pois antes ele não passava de um desarticulado corpo de milícias regionais. Tornou-se preciso unificá-lo, dando-lhe âmbito nacional.
Os seis anos de guerra aumentaram vertiginosamente a dívida externa brasileira para com a Inglaterra – fornecedora de armas e capitais para os combatentes. Preso a essa dívida e corroído por crescente inflação, o Império brasileiro não teria mais real estabilidade econômica.



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segunda-feira, 20 de agosto de 2012

IACOCCA, O EXTRAORDINÁRIO EXECUTIVO DA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA E SUAS ENCRENCAS DO HENRY FORD










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Lee Iacocca era filho de imigrantes italianos e construíu uma carreira profissional extraordinária, chegando aos cargos de presidente da Ford Motor Company e da Chryler. Na Ford, seu maior sucesso foi o lançamento do Mustang que se tornou um extraordinário sucesso de vendas no mundo inteiro. Na Chrysler, sua maior façanha foi salvá-la da insolvência. Eu sua autobiografia ele narra:
   ”Vocês vão ler a história de um homem que teve sucesso na vida, mas que, ao longo do caminho, também passou por períodos ruins. Na verdade, quando volto os meus olhos para os meus trinta e oito anos na indústria automobilística, o dia que aparece mais vivo na lembrança não tem nada a ver com carros novos, promoções ou lucros.
   Comecei minha vida como filho de imigrantes e fui construindo meu caminho até chegar à presidência da Ford Motor Company. Quando finalmente consegui, eu me senti nas alturas. Mas então o destino me disse:"Espere. Ainda não acabou. Agora você vai descobrir o que alguém sente quando é chutado do Monte Everest abaixo!"
   No dia 13 de julho de 1978, fui demitido. Eu tinha tinha sido presidente da Ford durante oito anos, e era funcionário da Ford há trinta e dois anos. Nunca tinha trabalhado em nenhum outro lugar. E agora, de repente, estava sem emprego. Era como um soco no estômago."
   Em sua autobiografia (Livraria Cultura Editora) ele narra  a sua trajetória de vida profissional, com os problemas enfrentados e faz uma descrição minuciosa de seu relacionamento com Henry Ford, o tempestuoso proprietário da Ford Motor Company. Leia a seguir. 

Distúrbios no Paraíso
               Até o mometo em que me tornei presidente, Henry Ford sempre tinha sido uma figura remota. Mas agora, nossos escritórios ficavam um ao lado do outro na Casa de Vidro e nós nos encontrávamos muito, embora em reuniões. Quanto mais eu conhecia Henry Ford, mais me preocupava com o futuro da empresa – e com o meu próprio futuro.
   A Casa de Vidro era um palácio, e nela Henry era o rei supremo. Cada vez que ele entrava no prédio, circulava a notícia: o rei chegou.  Executivos ficavam zanzando pelos corredores, esperando encontrar-se com ele. Se tivessem sorte, Mr. Ford poderia até perceber sua presença e dizer alô. Às vezes ele poderia até dignar-se a falar com eles.
   Sempre que Henry entrava em uma reunião, a  atmosfera mudava repentinamente. Ele tinha poder de vida e morte sobre todos nós. De repente, ele podia dizer: “Cortem a cabeça dele” – e muitas vezes o fazia. E mais uma carreira promissora na Ford ia por água abaixo, sem a menor chance de defesa.
   Para Henry, só importavam as coisas superficiais. Ele era obcecado pelas aparências. Se um sujeito usasse as roupas certas e usasse as palavras certas de elogio, Henry ficava impressionado. Mas, quem não tivesse a aparência a seu favor, era melhor desistir.
   Certa vez Henry me mandou demitir um determinado executivo que, segundo ele, era um “invertido”.
   “Não seja bobo”, eu disse. “O rapaz e amigo meu. É casado e tem um filho. Sempre jantamos juntos.”
   “Por que você está falando isso?”, eu disse.
   “Olhe para ele. Usa calças muito apertadas.”
   “Henry”, eu disse calmamente, “O que é que as calças dele têm a ver  com isso?”
   “Ele é esquisito”, disse Henry. ”Tem um jeito efeminado. Livre-se dele.”
      Acabei tendo que demitir um bom amigo. Eu o transferi da Casa de Vidro para o interior do país, odiando o que estava fazendo. Mas, afinal, depois a única alternativa foi mandá-lo embora.
    Este uso arbritário do poder não era apenas um defeito de personalidade. Era algo em que Henry realmente acreditava.
   Bem no início da minha presidência, Henry me falou sobre sua filosofia administrativa: “Se um sujeito trabalha para você, não o deixe ficar muito à vontade. Não o deixe sentir-se dono da situação. Faça sempre o contrário do que ele está esperando. Mantenha seu pessoal ansioso e inseguro”.
   Ora, é de se esperar por que cargas d´água o presidente da Ford Motor Company, um dos homens mais poderosos do mundo, se comportava como um pirralho frustrado. O que o tornou tão inseguro?
   Talvez a resposta esteja no fato de Henry Ford nunca ter tido que lutar por nada, em toda a sua vida. Talvez esta seja a perdição dos garotos ricos, que herdam o dinheiro que têm. Ficam perambulando pela vida, passeando entre flores, imaginando o que teria sido deles se não fosse o papai. Os pobres reclamam que ninguém lhes deu uma chance, mas o garotinho rico nunca sabe se deve a si mesmo alguma coisa do que realizou. Ninguém jamais lhe diz a verdade. Só lhe dizem o que ele quer ouvir.
   Eu tinha a impressão de que Henry Ford II, neto do fundador da Ford Motor Company, tinha passado a vida inteira com medo de pôr  tudo a perder.
   Talvez por isso ele se sentisse ameaçado. Talvez por que ele estivesse enxergando focos de rebelião no palácio. Se via duas pessoas conversando no corredor, imediatamente achava que estavam planejando uma conspiração!
   Não quero dar uma de psiquiatra, mas tenho uma teoria a respeito da origem dos temores de Henry. Quando ele era menino, seu avô sentia-se neuroticamente ameaçado por sequestradores. Aquelas crianças cresceram cercadas de portões fechados e guardas de segurança, com medo de todos que não fizessem parte da família.
   E assim Henry tornou-se um pouco paranóico. Por exemplo, odiava colocar no papel  qualquer coisa que fosse. Embora nós dois tenhamos dirigido a empresa juntos por cerca de oito anos, quase nada nos meus arquivos daquele tempo tem a sua assinatura. Henry, na verdade, até se gabava de não manter arquivos. De vez em quando queimava seus papéis.
   “ Esta porcaria só atrapalha”, dizia ele. “O sujeito que tem arquivo está querendo arranjar problemas. Os papéis acabam caindo na mão de pessoa errada, e você e a empresa têm que pagar caro.”
   Ele piorou ainda mais depois de Watergate, que o abalou muito. “Está vendo? Eu tinha razão – veja o que lhe pode acontecer!”
   Certa vez, numa das raras visitas que fez ao meu escritório, ele olhou para meus vários álbuns de recortes e arquivos. “Você é louco”, disse. “Um dia você vai ser crucificado por causa de toda essa porcaria.”
   Ele seguia o lema do avô. “A História é uma besteira”. Isto se tornou uma obsessão. Sua atitude era: destrua tudo o que puder.

                                              


terça-feira, 31 de julho de 2012

O TERROR NAZISTA NA OCUPAÇÃO DA POLÔNIA

Gioia Pura


O jornalista americano  William L. Shirer foi correspondente em Berlim do jornal Chicago Tribune no período de 1926 a 1941 e assistiu  à ascensão e queda do nazismo, sendo testemunha ocular de muitos episódios dessa fase da história alemã. Depois da guerra, teve acesso a milhares de documentos secretos sobre a história de Hitler e do nazismo que vieram à luz  com a queda do Terceiro Reich. Realizou uma pesquisa exaustiva sobre tema, da qual resultou o livro Ascensão e Queda do III Reich, em seis volumes, um livro extraordinário, publicado nos Estados Unidos em 1960 e, em 1964 no Brasil, inicialmente,  pela Editora Civilização Brasileira. Para termos uma ideia dos métodos empregados pelos nazistas nos paises conquistados, vamos extrair alguns tópicos da primeira edição em português, referentes às ações praticadas por eles na conquista da Polônia, episódio que deu início a Segunda Guerra Mundial.

Não havia decorrido muitos dias, após o ataque contra a Polônia, já meu diário ia acumulando anotações sobre o terror nazista no país conquistado. Saber-se-ia mais tarde que muitos outros diários estavam também repletos delas. Em 19 de outubro, Hassel relatou ter tido notícias sobre os “chocantes atos bestiais praticados pelas  S.S., especialmente contra os judeus”. Pouco tempo depois, ele registrava um fato narrado por um proprietário de Posen.

A última coisa que tinha visto fora um chefe distrital do partido, bêbedo, que ordenara que se abrissem as portas da cadeia; ele atirou contra cinco meretrizes e tentou violentar duas outras.

Em 18 de outubro, Halder anotou em seu diário os pontos principais de uma conversa que teve com o general Eduard Wagner, Chefe do Serviço de Intendência do Exército, que havia conferenciado com Hitler nesse dia, acerca do futuro da Polônia. Esse futuro seria cruel.
Não pretendemos reconstruir a Polônia... Não para ser um Estado modelo segundo padrões alemães. Deve-se impedir que a classe culta se estabeleça como classe dirigente. Deve-se manter um baixo padrão de vida. Escravos baratos... Cumpre fazer uma desorganização total! O Reich dará ao General-Governador os meios para executar esses plano diabólico.
O Reich deu-os.

E prossegue o autor do livro:
Pode-se fazer agora um breve relato do começo do terror nazista na Polônia, conforme revelam os documentos capturados aos alemães e as provas apresentadas nos vários julgamentos realizados em Nuremberg. Era apenas um precursor de atos atrozes e tenebrosos que os alemães eventualmente iriam infligir a todos os povos conquistados. Mas, do primeiro ao último, mais que em qualquer outro lugar, o pior foi na Polônia. Ali, o barbarismo nazista atingiu uma incrivel profundidade.

Pouco antes de ser desfechado o ataque contra a Polônia, Hitler informou os generais, na conferência de Obersalzberg, em 22 de agosto, que iriam acontecer coisas que “não seriam do agrado dos generais alemães” e preveniu-os de que “não deveriam interferir em tais questões e sim limitar-se a seus deveres militares”. Sabia do que falava. O autor logo ficou assoberbado, tanto em Berlim como na Polônia, de reletórios sobre os massacres nazistas. O mesmo se dava com os generais. Em 10 de setembro, com a campanha da Polônia, em livre curso, Halder anotou em seu diário um exemplo que logo se tornou conhecidíssimo em Berlim. Alguns brutamontes pertencentes a um regimento de artilharia das S.S., tendo feito cinquenta judeus trabalharem o dia todo no serviço de reparo de uma ponte, levaram-nos depois para uma sinagoga e, segundo as própria palavras de Halder, “massacraram-nos”...

O que restou da Polônia, depois que a Rússia se apoderou de seu quinhão a leste e a Alemanha anexou formalmente suas antigas províncias e alguma parte adicional do território a oeste, foi designado por um decreto do Führer, de 12 de outubro, como governo geral da Polônia. Hans Frank foi nomeado governador-geral... Frank era o exemplo típico do facínora intelectual nazista... Uma figura morena, guapa, elegante, pai de cinco filhos, sua inteligência e cultura contrabalançavam em parte seu primitivo fanatismo e até esse tempo fizeram-no um dos menos repulsivos elementos que cercavam Hitler. Por trás desse verniz civilizado, porém, estava o assassino frio. O diário de quarenta e dois volumes que manteve de sua vida e de sua obra, que foi exibido em Nuremberg foi um dos mais estarrecedores documentos a sairem do tenebroso mundo nazista, descrevendo o seu autor como um homem frio, eficiente, cruel e sedento de sangue. Aparentemente, não omitiu nenhuma de suas declarações de bárbaro.

“Os poloneses – declarou ele no dia seguinte à sua posse no novo posto – deverão ser escravos do Reich Alemão”. Certa vez, ao saber que Neurath, “Protetor” da Boêmia havia colocado cartazes anunciando a execução de sete estudantes universitários checos, Frank exclamou para um jornalista nazista: ”Se eu desejasse ordenar que se deviam colocar cartazes para cada sete poloneses fuzilados, não haveria florestas suficientes na Polônia para a fabricação de papel para esses cartazes”.

Em outra oportunidade, numa conferência, o mesmo Frank declarou.
“Devem ser destruídos os homens que possam exercer liderança na Polônia. Aqueles que os acompanharem... devem por sua vez, ser eliminados. Não há necessidade de sobrecarregar o Reich com isso... nenhuma necessidade de  enviar esses elementos para os campos de concentração do Reich”.
Seriam eliminados ali mesmo na Polônia.

Nessa conferência, conforme Frank anotou em seu diário, o chefe da Polícia de Segurança entregou-lhe um relatório sobre o progresso feito. Cerca de dois mil homens e várias centenas de mulheres – declarou – haviam sido presos “no começo da Ação Extraordinária de Pacificação”. A maioria já tinha sido “sentenciada sumariamente” – um eufemismo nazista para “liquidação”. Uma segunda leva de intelectuais estava agora sendo reunida para receber a “sentença sumária”. Ao todo, “cerca de 3.500 pessoas”, as mais perigosas da classe culta polonesa, seriam assim eliminadas.

Frank não se esqueceu dos judeus, embora a Gestapo se encarregasse diretamente da tarefa de exterminação. Seu diário está repleto de ideias e realizações sobre o assunto.
Num discurso posterior ele disse.

Meus camaradas!... Eu não poderia eliminar todos os piolhos judeus em apenas um ano. (“O público achou graça”, anotou ele nesse ponto). Mas, com o tempo e se me ajudarem, esse objetivo será atingido.

Mais tarde, em outra conferência.
No que diz respeito aos judeus, quero dizer-lhes com toda a franqueza que eles precisam ser eliminados de um modo ou de outro... Senhores, devo dizer-lhes que se libertem de qualquer sentimento de piedade. Precisamos aniquilar os judeus.

Em 9 de outubro, dois dias depois de assumir o último de seus postos, Himmler decretou que 550.000 dos 650.ooo judeus que viviam nas províncias polonesas anexadas, juntamente com todos os poloneses não apropriados para a “assimilação”, seriam deslocados para o território do governo geral, a leste do rio Vístula. Em um ano, 1.200.ooo poloneses e 300.000 judeus foram deslocados para o leste. Mas somente 497.000 Volksdeutsche  instalaram-se em suas terras. Foi um proporção melhor que a citada por Halder: dois poloneses e um judeu expulsos para cada alemão que lá se instalava.

Fala de Himmler:
... aconteceu na Polônia, a temperatura marcando quarenta graus abaixo de zero, onde tínhamos que evacuar milhares, dezenas de milhares, centenas de milhares; onde tínhamos que ser inflexíveis – devem ouvir isso, mas devem também esquece-lo imediatamente – e fuzilar milhares de poloneses importantes... Senhores! É muito mais fácil, em muitos casos, entrar num combate com uma companhia do que eliminar uma população obstrucionista e de baixo nível cultural ou fazer execuções ou evacuar um povo o expulsar mulheres a gritarem histericamente”.

E para terminar, Auschwitz.
Para superintender o novo campo e suprir a mão-de-obra escrava para a I.G Farben (grande fabricante alemão de produtos químicos), chegaram na primavera de 1940, a Auschwitz, um bando dos mais selecionados rufiões das S.S., entre eles Josef Kramer, que se tornaria mais tarde conhecido do público inglês como a “Fera de Belsen”, e Rudolf Franz Hoess, um criminoso que havia cumprido cinco anos de pena numa prisão – passou a maior parte da vida adulta primeiro como convicto e, depois, como carcereiro – e que em 1946, à idade de quarenta e seis anos, iria vangloriar-se em Nuremberg de que havia supervisionado, em Auschwitz, o extermínio de dois e meio milhões de pessoas, sem contar meio milhão que deixaram “sucumbir de inanição”.
Pois Auschwitz logo estaria destinada a tornar-se o mais célebre dos campos de extermínio – Vernichtungslager – que cumpre distinguir-se dos campos de concentração, onde uns poucos ainda puderam sobreviver. Não deixa de ser significativo, para se compreenderem os alemães, até mesmo os mais respeitáveis, no governo de Hitler, que uma figura tão ilustre e internacionalmente conhecida como a I.G. Farben, cujos diretores se distinguiam entre os principais homens-de-negócios da Alemanha, todos eles tementes a Deus, deliberadamente escolhessem aquele campo de morte como local apropriado para operações lucrativas.

(As primeiras edições do livro Ascensão e Queda do III Reich estão esgotadas, mas temos informações que a Editora AGIR relançou a obra em português.




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sábado, 28 de julho de 2012

NAIR DE TEFFÉ, UMA MULHER ADIANTE DE SEU TEMPO



                      
                        

Seu nome completo era Nair de Teffé von Hoonholtz. Nasceu em 10 de junho de 1886 na cidade de Petrópolis e faleceu em 10  de junho de 1981, no Rio de Janeiro, com 95 anos de idade. Era o dia de seu aniversário. Foi pintora, cantora, atriz e pianista. De 1913 a 1914, foi a primeira-dama do Brasil, casada com o presidente  Marechal Hermes da Fonseca. A publicação Nosso Século da Editora Abril, assim resumiu a  biografia dessa extraordinária mulher brasileira.

“ Nair de Teffé foi uma pioneira. Filha do Almirante Antônio Luís Hoonholtz, Barão de Teffé, estudou na França, como toda a boa moça de elite. Desde adolescente, sua inteligência e sua personalidade independente a levaram a quebrar os tabus da época. Falando vários idiomas, era apaixonada pelo teatro (revelando-se atriz de talento) e pela música popular (gostava de tocar violão, instrumento considerado pela elite como “coisa de populacho”). Para escândalo da “boa sociedade”, a jovem Nair costumava frequentar o bar do Jeremias, reduto da intelectualidade boêmia do Rio. Revelou-se também brilhante na caricatura – gênero em que se iniciou ainda menina, quando estudou num colégio de freiras em Paris e fazia “retratos” humorísticos de suas professoras. Aos 24 anos, já era famosa na imprensa colaborando em publicações como Gazeta de Notícias, Careta, Fon-Fon!, O Malho,  Le Rire, Fantasio, Excelsior (estas três últimas francesas). Primeira mulher a fazer caricaturas na imprensa brasileira, Nair de Teffé tornou-se conhecida em Paris e Londres pelo seu traço moderno, captando com argúcia e ironia o lado cômico da vida.

Em 1913, aos 27 anos, Nair se tornaria a primeira dama do Brasil. Ela própria conta seu namoro com o presidente Hermes da Fonseca: ”Papai avisou-me: ´Nair, hoje o Marechal Hermes vai chegar naquele trem que você batizou de trem dos maridos. Vamos à estação espera-lo´. (...)

[A cena se passa em Petrópolis, RJ, onde a elite passava o verão.] Quando o Marechal desembarcou, achei-o abatido, triste (...) [Quando me viu,] notei que seus olhos ficaram diferentes. Apertou minha mão e olhou-me com viva ternura. No dia 18, o Presidente telefonou, marcando um passeio para o dia 20, dia de São Sebastião. Veio acompanhado de seu filho Euclides, do Ajudante de Ordens e do cocheiro Luís. Saímos a passeio em companhia de papai, em direção ao Bairro Caxambu, onde meu selim virou e eu caí em pé. Estava em frente do grupo, distanciada de todos. O Presidente acelerou o seu cavalo, veio em meu socorro e perguntou-se gentilmente:´Machucou-se mademoiselle?´´Não!´ Antes que cheguem os outros, eu quero lhe falar uma coisa depressa. Tive um sonho, mas acho quase impossível a sua realização. Não devo dizer-lhe´. Emparelhamos os nossos cavalos e insisti para contar-me o sonho (...) E ele, encabulado, olhando para o chão, falou-me: “Estou encantado com a beleza de mademoiselle. Queria fazê-la minha esposa".

sexta-feira, 20 de julho de 2012

OS VELHOS TEMPOS DOS CARROS MOVIDOS A GASOGÊNIO

                                   

                                  
A Segunda Guerra Mundial passou mais ou menos ao largo da população da pequena Anita Garibaldi, uma pequena povoação perdida no planalto catarinense onde meu pai era professor primário e onde passei parte de minha infância e adolescência. A gente acompanhava o noticiário da guerra pelo rádio do dr. De Negri, o médico do lugar e amigo de meu pai.

A única coisa que chamava a nossa atenção para a guerra era a presença eventual na estrada estadual de carros movidos a gasogênio, pois a gasolina estava racionada em todo o país. Esses carros carregavam na traseira dois cilindros de metal, cada um com altura aproximada de um metro e meio por quarenta centímetros de diâmetro, um verdadeiro trambolho que chegava a um peso total de 100 quilos. Na base dos cilindros era aceso um fogo alimentado por carvão ou lenha que produzia uma mistura de gases, fazendo o motor funcionar. Esses carros andavam bem em terreno plano e descida, mas tinham dificuldade nas subidas. De qualquer maneira, quando um deles chegava a Anita Garibaldi, todo mundo se aproximava para observá-los. A vantagem devia ser o preço do combustível, pois lenha e carvão havia em todo lugar. Os proprietários desses veículos davam preferência a carvão de nó de pinho, material abundante na região e que era melhor para o motor, segundo diziam os entendidos.

Quando um pinheiro cai, o tronco dele vai aos poucos apodrecendo, mas no seu interior ficam os chamados nós de pinho que não se deterioram e são muito resistentes. Têm uma forma cônica com mais ou menos trinta a quarenta centímetros de comprimento. Seu interior é de cor avermelhada e produzem uma brasa viva e de maior duração, razão da preferência que lhes davam os motoristas para queima em seus automóveis.







quarta-feira, 11 de julho de 2012

A MORTE DE MARCO TÚLIO CÍCERO




Marcus Tullius Cicero era o seu nome em latim. Nasceu em Arpino em 3 de Janeiro de 106 a.C e faleceu em Formia a 7 de Dezembro de 43 a.C. É considerado uma das personalidades mais importantes da história romana, tendo sido filósofo, orador, escritor, político e advogado, além de grande defensor da República Romana. Viveu num dos momentos mais conturbados da história de R0ma, assolada pela guerra civil, entre Pompeu e Júlio César, resultando na derrota e morte do primeiro. Cícero posicionou-se em favor de Pompeu, mas, depois da vitória, Júlio César procurou atraí-lo para seu lado, face às suas qualidades extraordinárias  de homem público. Com o assassinato de Júlio César, dominavam a cena política romana, Otávio, herdeiro do ditador e Marco Antônio que tinha um profundo ódio a Cícero. Os últimos dias do grande político romano são narrados por Taylor Galdwell, consagrada escritora inglesa, radicada nos Estados Unidos, em seu magnífico livro: Um Pilar de Ferro (Editora Record), cujo texto apresentamos a seguir:
   “Devagar a luz brilhante e dourada abriu-se como uma cortina e por entre as dobras vibrantes estendeu-se a mão de um homem, firme e jovem, exprimindo amor em todas as suas curvas, em sua palma virada para cima, nos dedos que o chamavam. Era ao mesmo tempo a mão de um jovem e de um pai, acalentando, alcançando, protegendo. Ao vê-la, todo o coração de Cícero agitou-se com ansiedade, alegria e humildade. E, então, ele ouviu uma voz que parecia tocar as estrelas mais longínquas:
   “Não temas, pois estou contigo. Não desanimes, pois sou teu Deus. Quando tu passares por entre as águas eu estarei contigo, e os rios não te submergirão; quando andares por entre o fogo, não serás queimado e a chama não arderá em ti. Porque eu, o Senhor teu Deus, seguro a tua mão direita.”
   A luz apagou-se e a mão se retirou e, no entanto, Cícero não sentia mais frio, nem que estava abandonado e desesperado. Caiu num sono profundo e repousou como uma criança, o rosto na palma da mão, dormindo como dorme um bebê, com confiança e sem medo.
   Na manhã seguinte, ele levantou-se, e os escravos se espantaram ao ver a animação de seu rosto e sua expressão decidida.
   - Viajo hoje para a Macedônia - disse ele. Eles ficaram desanimados. Não obstante, prepararam tudo para ele. O mar estava mais revolto do que na véspera. Mas havia um barco para a Macedônia no cais e o barco de Cícero, remado por escravos fortes, dirigiu-se para ele. As ondas levantaram-se mais alto ainda. Cícero suspirou:
   - Temos de voltar para a vila – disse ele. – Amanhã pode ser mais propício.
   É Plutarco quem dá o relato mais eloquente do último dia do chefe da casa de Cícero:
   “Havia em Gaeta uma capela em homenagem a Apolo, não distante do mar, de onde um bando de corvos elevou-se, aos gritos, dirigindo-se para a embarcação de Cícero, quando ele se dirigia para a terra; pousando de ambos os lados do lais de verga, alguns dos corvos ficaram crocitando, enquanto outros bicavam as pontas das cordas. Todos a bordo acharam que aquilo era um sinal de mau agouro. Cícero desembarcou e, logo depois de entrar em casa, foi deitar-se na cama para descansar um pouco. Muitos dos corvos pousaram junto da janela, crocitando tristemente. Um deles pousou sobre o leito em que Cícero estava coberto e, com o bico, tentou pouco a pouco puxar a coberta do rosto dele. Os empregados vendo aquilo, culparam-se por ficar ali para ver o patrão ser morto e nada fazer para defendê-lo, enquanto que as criaturas irracionais chegavam para ajudar a cuidar dele em suas privações imerecidas. Portanto, em parte por súplicas, em parte à força, pegaram-no e carregaram-no na liteira em direção ao mar.
   “Mas, entrementes, os assassinos tinham chegado, Herênio, um centurião, e Popílio, um tribuno, a quem Cícero anteriormente defendera, quando ele fora processado pelo assassínio do pai. Com eles estavam soldados. Encontrando fechadas as portas da vila, eles as arrombaram. Quando Cícero não apareceu e os que estavam em casa disseram que não sabiam onde ele se encontrava, dizem que um jovem a quem Cícero dera uma educação liberal, um escravo liberto de seu irmão Quinto, chamado Filólogo, informou ao tribuno que a liteira estava a caminho do mar, no meio do bosque cerrado. O tribuno, levando consigo alguns homens, apressou-se para o ponto de onde ele deveria sair, enquanto Herênio corria pelo caminho atrás dele. Cícero o viu correndo e mandou que os servos baixassem a liteira. Depois, afagando o queixo, como costumava fazer com a mão esquerda, ele olhou com firmeza para seus assassinos, estando ele todo coberto de pó, os cabelos desgrenhados, o rosto abatido. Assim, a maior parte dos que estavam ali cobriu o rosto, enquanto Herênio o matava. Ele tinha posto a cabeça para fora da liteira e Herênio a degolou. Depois, por ordem de Antônio, também cortou-lhe as mãos, com as quais foram escritas as Filípicas.
    “Quando esses membros foram levados a Roma, Antônio estava presidindo uma assembleia para escolha de funcionários públicos. Quando ele soube da notícia, e viu a cabeça e as mãos, exclamou: ´Agora acabem-se as proscrições!´Mandou que a cabeça e as mãos fossem pregadas sobre o rostro, de onde falavam os oradores, espetáculo que os romanos contemplaram tremendo. Eles acreditaram ver ali não o rosto de Cícero, mas a imagem da própria alma de Antônio.”
   O corpo mutilado de Cícero foi enterrado no local onde fora assassinado.



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quinta-feira, 28 de junho de 2012

O RABINO E O ESTUDO DO TALMUDE

                                         


    O Talmude é o Livro Sagrado dos judeus que 
    estuda os registros referentes à lei, ética e costumes 
    da história do judaísmo.

Aaron Levenstein em seu livro USE A CABEÇA  (Editora IBRASA), fala dos cuidados que devemos ter diante da interpretação dos fatos. Segundo o autor, devemos tratar um fato como se fôssemos escolher uma esposa em potencial, conhecendo seu passado, sua família e outros detalhes de sua vida particular. O autor afirma que devemos ser cautelosos mesmo em acreditar naquilo que vemos, pois tanto a filosofia quanto a ciência têm demonstrado as limitações de nossas faculdades de observação. Dizemos “Ver para crer”, como se ver fosse conhecer. Para ilustrar suas  afirmativas e narra o seguinte episódio.

Certo jovem que desejava tornar-se um erudito talmúdico, pediu ao douto Rabino aceitá-lo como estudante. O sábio, após breve palestra, resolveu que o jovem não possuía a agudeza de intelecto necessária a estudo de natureza tão profunda. Mas o jovem insistiu, solicitando ao Rabino que pelo menos o submetesse a uma prova. “Pois bem, disse o Rabino, resolva este problema: Dois homens sobem ao telhado para consertar a chaminé, ambos caem por ela até o solo: o rosto de um deles fica limpo e o do outro, sujo – qual deles lava o rosto?
O estudante respondeu: “Logicamente, o que estava com o rosto sujo.”
“Não, disse o Rabino, é o que está com o rosto limpo.” E explicou: O de rosto sujo vê que o do outro está limpo e pensa que o seu também está; o de rosto limpo vê o do outro sujo e pensa que o seu também assim se encontra, e por isso vai lavá-lo.”
O jovem reconheceu que errara, mas pediu outra oportunidade. O Rabino argumentou que era irremediável. “Faça-me outra pergunta”, rogou o jovem, até que o Rabino cedeu. “Muito bem”, disse e propôs a mesma pergunta: “Dois homens subiram a um telhado etc, etc (...) qual deles lavou o rosto?”
Desta vez o estudante respondeu, “o que estava com o rosto limpo”.
“Não, disse o Rabino, o que estava com rosto sujo. Pois o que estava com o rosto limpo, disse  ao que estava com o rosto sujo: O seu rosto está sujo, e por isso ele foi lavá-lo”
Perseverante, o jovem rogou que se lhe desse uma última oportunidade e novamente o Rabino cedeu, dizendo: “Esta é decisiva. Se errar nesta pergunta, deverá retirar-se e deixar-me em paz.” Eis o seu problema: Dois homens subiram ao telhado para consertar a chaminé etc., etc (...) Qual deles lavará o rosto?”
A esta altura, o jovem desistiu e concordou que não se prestava para estudar o Talmude. “Mas diga-me, Rabino, qual a resposta certa?” O Rabino finalizou com impaciência: ”Olhe, dois homens sobem ao telhado para consertar a chaminé; caem dentro dela até o solo; o rosto de um deles está sujo, e o do outro, limpo. Pergunto-lhe se isso é possível.”