domingo, 23 de junho de 2013

OS COLONOS ITALIANOS E SUAS FESTAS EXÓTICAS



                  

No meu livro, Menino Tropeiro, descrevo alguns costumes exóticos dos italianos, residentes no Planalto Catarinense,  mais precisamente no povoado de Cerro Negro, hoje um importante município da região. O ano era 1934. Eis a narrativa:

"Pouco a pouco meu pai estabeleceu relações com o povo do lugar e as pessoas o procuravam para resolver diversos problemas. Passou a ser convidado a visitar residências e fazendas onde lhe dispensavam acolhida respeitosa. Mantinha também boas relações com a comunidade italiana local que tinha algumas tradições curiosas, como a passarinhada e a batida surpresa.

A passarinhada se realizava em determinado dia e consistia num grande almoço, cujo prato principal era uma macarronada acompanhada de carne de pequenos pássaros. Dias antes, os garotos saíam pelos matos atrás de todo tipo de passarinho que abatiam com suas fundas certeiras. Caçavam centenas de pássaros que eram depenados e cozidos, servidos com o macarrão, acompanhado de vinho. Confesso que a primeira vez que minha família participou desse almoço, senti repugnância e não comi. Certamente, hoje, tal costume seria abominado pelos ecologistas, mas os tempos eram outros.

A batida surpresa era outro curioso costume dos italianos  e  que  consistia  no   seguinte:  quando    um membro da comunidade, de poder aquisitivo razoável, fazia aniversário e deixava a data passar em brancas nuvens, sem convidar os amigos para um almoço ou jantar ou mesmo para umas canecas de vinho, o pessoal aguardava a chegada da noite, quando ele e a família já estivessem dormindo. Aproximavam-se em silêncio da residência, momento em que alguém batia à porta, enquanto rojões estouravam no céu e as sanfonas tocavam músicas típicas italianas. Todos gritavam o nome do aniversariante e lhe davam os parabéns.

Enquanto se fazia grande algazarra em frente à casa da vítima, um grupo de homens invadia os fundos da residência, atrás de galinhas, patos ou perus que eram levados até a cozinha onde as melhores cozinheiras do povoado os preparavam para o jantar em honra do homenageado. Corriam  também  até as adegas e traziam garrafas ou pequenos barris de vinho, enquanto o povo, dentro da casa, dançava animadamente. O ponto alto da comemoração era o jantar, durante o qual se faziam discursos e se levantavam brindes em honra do dono da casa que, na maioria das vezes, ainda em trajes de dormir, assistia a tudo atordoado, acompanhado de seus familiares".



                                   






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terça-feira, 11 de junho de 2013

PAPA FRANCISCO, SEGUINDO OS PASSOS DO “POVERELLO”


O papa Francisco tem dado demonstrações contundentes de sua intenção de fazer mudanças radicais na Igreja Católica, voltando-a integralmente para os pobres, seguindo os passos de Jesus de Nazaré e tomando como exemplo, São Francisco, o
poverello * de Assis.

Como Cardeal Primaz da Argentina, ele levava uma vida de pobreza e simplicidade, morando num pequeno apartamento, fazendo a própria comida, dispensando as suntuosas limousines para se locomover na cidade portenha.

Hoje, no Vaticano, Francisco dispensou as luxuosas instalações do apartamento pontifício, preferindo um simples apartamento na Casa de Marta, onde se hospedam bispos e cardeais em visita ao Vaticano. Dispensou também as suntuosas vestes usadas  pelos papas nas grandes cerimônias na Basílica de São Pedro, a maioria delas ostentando metros e metros de tecidos bordados com fios de ouro e cravejados de pedras preciosas.

A figura do papa  Francisco lembra aquele pontífice retratado no livro, As Sandálias do Pescador, de Morris West, em que o papa Kiril I se reúne com os cardeais da Cúria Romana e propõe a venda de todos os bens da Igreja para ajudar a combater uma grande fome na China. O filme, baseado no livro, teve a magistral interpretação do Ator Anthony Quinn, no papel de Kiril I.

Nas últimas décadas, os papas já vinham se livrando de alguns símbolos de ostentação. O último papa a usar a Tiara (tríplice coroa) foi o papa Paulo VI, que renunciou ao uso da mesma, sendo ela comprada pelos católicos americanos e o dinheiro doado a países pobres da África. Paulo VI foi aquele papa que disse que a fumaça de Satanás estava penetrando na Igreja por alguma fenda.

Anteriormente, a Igreja já tinha abolido o uso dos longos mantos púrpura usados na sagração de um cardeal, assim como a liteira que transportava o papa durante as cerimônias na Basílica de São Pedro, também chamada de sede gestatória, hoje substituída pelo papamóvel.




Na verdade, o papa Francisco segue os passos de São Francisco que, no ano de 1210, viajou até Roma com seus seguidores  para buscar a aprovação do Papa Inocêncio III  para o seu modo de vida. Ali, ele ficou escandalizado com o luxo e a pompa que rodeavam as pessoas do clero romano. Quando aquele bando de maltrapilhos entrou pelas dependências do Vaticano, foram impedidos pelos guardas de prosseguir, mas o Papa mandou que eles se aproximassem, pois reconheceu em Francisco a figura que lhe apareceu em sonhos, amparando as colunas da Igreja de Latrão que ameaçavam ruir. A Igreja de Latrão era a mãe de todas as igrejas do mundo. O papa viu no Poverello um enviado de Deus para salvar sua Igreja, dominada pela riqueza e pelo pecado de seus membros.

À semelhança do Poverello,  estaria o papa Francisco destinado a amparar as colunas da moderna igreja, ameaçadas de desmoronamento por perigos internos e externos?

* Poverello, pobrezinho em italiano.







             

quarta-feira, 5 de junho de 2013

HENRY FORD, UM CABEÇA DURA


Quando foram lançados nos Estados Unidos em 1922 os primeiros carros da Ford, produzidos em série, o Modelo T, conhecido popularmente no Brasil como Ford Bigode, não oferecia outra opção aos consumidores. Ou compravam o carro ou ficavam com suas antigas charretes e carroças. O sucesso do modelo foi tal que a metade dos carros que rodavam pelas estradas americanas era formada pelo famoso Ford T. Henry Ford, um gênio da mecânica, o inventor da linha de montagem, propiciou  uma enorme capacidade de produção às suas numerosas fábricas, espalhadas pelo mundo inteiro. 

Mas, como na vida nada é permanente,  logo entraram outros fabricantes de automóveis no mercado, produzindo novos modelos, atendendo a outras faixas de consumidores, pois o Ford T era um carro popular. Anos mais tarde, o próprio Modelo T, fabricado para percorrer estradas ruins de antes da guerra, começou a se tornar obsoleto, porque era de aparência rústica e os consumidores,  agora, queriam produtos mais sofisticados e confortáveis. As estradas eram melhores e compradores de maior poder aquisitivo estavam no mercado. Havia até uma piada sobre o modelo T: “Um Ford é como uma banheira: é útil, mas ninguém quer ser visto dentro dela”. 

Henry Ford, empolgado com o sucesso do modelo T, não queria lançar novos modelos. Chegou ao ponto de dizer que os compradores poderiam escolher qualquer cor para seus carros, desde que fosse o preto. Logo, ele teve que lançar um novo modelo (o modelo A) e em cores diversas, porque o consumidor já tinha outras opções, pois outros fabricantes, como a General Motors e a Crysler,  ameaçavam o seu império. A teimosia de Henry Ford, não acreditando no poder do consumidor, quase levou seu império à ruína. Ele entendia muito de mecânica, mas pouco de marketing.

Dois aspectos da vida de Henry Ford mancham a sua biografia. Era o anti-semitismo exacerbado  e a simpatia pelo nazismo. Existia uma mútua admiração entre ele e Adolf Hitler.

Ford Bigode