quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

SANTA CATARINA E O PERIGO NAZISTA



Tradições alemãs em Santa Catarina

                

Durante a Segunda Guerra Mundial, o Estado de Santa Catarina foi palco de diversos acontecimentos que vieram perturbar a tranquilidade de suas populações. Como o Estado tinha uma numerosa população constituída por imigrantes alemães e italianos, passou a ser alvo da vigilância das autoridades federais e estaduais, pois muitos desses imigrantes eram adeptos de Mussolini, mas principalmente de Adolf Hitler. Entre a população daquele estado corriam notícias e boatos sobre uma invasão alemã do Sul do Brasil, falava-se de espiões alemães infiltrados entre a população de origem germânica. Em Florianópolis, contava-se a história de um alemão, proprietário de uma empresa de pesca, que usava seus barcos para reabastecerem submarinos alemães que atracavam numa ilhota situada em alto mar. Diziam também que outros submarinos se aproximavam das praias do litoral catarinense e recebiam alimentos frescos das populações locais, formadas por imigrantes alemães e seus descendentes.
O governo federal proibiu que se falasse alemão na região, embora os velhos colonos alemães só soubessem falar esse idioma. Em Blumenau, alguns brasileiros mais revoltados, escondiam-se nas proximidades das casas de alemães para ouvir se falavam alemão e, então, denunciá-los às autoridades. O interventor Nereu Ramos fechou mil escolas que funcionavam nos povoados da zona rural, onde só se falava alemão, simplesmente porque os professores não sabiam português. Logo a seguir, reabriu as referidas escolas com professores brasileiros para que ensinassem a língua pátria aos filhos daqueles colonos. Na verdade, aquelas populações ficaram isoladas durante décadas do restante do Brasil e, só então, o governo brasileiro se dava conta do problema. Em Blumenau se contava a história de um preto velho, criado por uma família alemã que, durante uma reunião com membros da comunidade, preocupados com a guerra e suas consequências, ele teria dito: ”Agora, mais do que nunca, nós os alemães devemos ficar unidos”.
Quando um navio brasileiro era torpedeado por um submarino alemão, recrudescia o antagonismo entre brasileiros e imigrantes alemães, com manifestações de rua, invasão de propriedades. Em Lages, nem mesmo o convento franciscano, fundado por padres alemães, escapou da fúria popular numa tentativa de depredação do mesmo, o que não aconteceu diante da habilidade de seu guardião que veio receber os manifestantes, mostrando aos mesmos o quanto seus irmãos de hábito tinham feito pela cidade.
As pessoas sob suspeita de colaboração com o nazismo e o fascismo eram interrogadas pelos agentes federais e, conforme a situação, levadas para as unidades policiais onde suas vidas eram vasculhadas nos mínimos detalhes.
Àquela época eu, ainda adolescente, residia em Anita Garibaldi, um longínquo povoado no interior de Santa Catarina e assisti a abordagem desses agentes a um médico italiano que morava na localidade. Relato o fato em meu livro, Menino Tropeiro, conforme segue:
“Em 1939, quando começou a Segunda Guerra Mundial, dr. De Negri instalou em sua casa um rádio alimentado a bateria. Ele tinha duas, que mandava recarregar em Lages e, assim, podia acompanhar o desenvolvimento da guerra. Era um dos poucos aparelhos do lugar (talvez o único) e, por meio dele, sabíamos o que se passava lá fora. O jornal que chegava a Anita Garibaldi era um semanário, O Guia Serrano, editado em Lages, pelos frades franciscanos e, assim mesmo, chegava com atraso.
Giovanni De Negri era entusiasta de Mussolini, pois dizia que o Duce dera um progresso extraordinário à sua pátria, a Itália, opinião que era compartilhada por muita gente no Brasil. Acho que ele mantinha contatos com parentes na terra natal que também apoiavam o governo fascista. Em 1942, o Brasil rompeu relações com o Eixo e mais navios brasileiros começaram a ser torpedeados pelos submarinos alemães. A partir desse momento, cidadãos alemães e italianos começaram a ser vigiados pelos serviços secretos do governo Vargas, principalmente os membros mais influentes de cada comunidade, como era o caso do nosso prezado doutor.
Um sábado à tarde, meu pai e eu nos encontrávamos na casa do médico, quando um automóvel parou em frente ao portão. Do carro, saíram dois homens que bateram palmas à entrada. Automóvel em Anita Garibaldi era coisa rara naqueles tempos e o fato causou estranheza ao médico e àqueles que estavam com ele naquele momento. Como fora informado por alguns amigos da possibilidade de estar sendo investigado pelo Governo, pediu a meu pai que escondesse num galpão que ficava aos fundos de sua propriedade, perto do estábulo, uma caixa de correspondência que mantinha com a Itália. Enquanto o professor se deslocava para lá, ele se aproximou do portão e recebeu os visitantes com aquele seu sorriso característico, aparentando a maior tranquilidade.
Os homens disseram que eram do serviço de segurança do Governo Federal e que precisavam colher alguns depoimentos do médico, já que era de nacionalidade italiana e figura de destaque na região.
– Sou figura de destaque, em que sentido? – perguntou dr. Giovanni.
– Ora – disse o mais velho dos agentes –, sabemos que o sr. tem grande influência junto à colônia italiana...
– Se visitar doentes no lombo de um cavalo é ser influente, então, eu sou influente. Se exercer a medicina numa vasta região, sem contar com nenhuma estrutura, sem hospital nem farmácia, então eu sou influente e me orgulho disso.
– Sabemos que o sr. é um homem de grande prestígio, um médico conceituado, mas precisamos saber quais as ligações que mantém com o governo fascista, uma vez que estamos em guerra com a Itália.
Os agentes passaram um longo tempo na casa do médico, pediram para examinar sua correspondência com o exterior e ele lhes mostrou somente as cartas que mantinha com seus familiares, pois àquelas mais comprometedoras, de cunho político, meu pai já dera sumiço. Mas também não eram de conteúdo que pudessem comprometer a segurança nacional.
Depois que os agentes se retiraram, o médico ficou aliviado e passou a rir do ridículo da situação e falou para meu pai:
– Imagine, professor, eu aqui no meio desses matos, atuando como quinta coluna a serviço das forças do Eixo. Não sabia que era tão importante, assim.
– Mas não custa tomar alguns cuidados, doutor, pois existe no país um grande sentimento de animosidade contra alemães e italianos, por causa da guerra e por causa dos torpedeamentos de navios brasileiros. Eu soube que no litoral e em lugares como Blumenau, as pessoas foram até proibidas de falar alemão. Todas as escolas que eram mantidas pelos colonos alemães, com professores alemães, foram fechadas pelo interventor, dr. Nereu Ramos. Agora, foram reabertas e ali só lecionam professores brasileiros. 
– São coisas da guerra – concluiu o médico. – Já se fala que o Brasil vai mandar tropas para lutar na Europa.
As ponderações do professor contaram também com o apoio da mulher do médico, d. Talita, que estava muito assustada com a presença dos agentes federais em sua casa.
– Vamos esquecer o episódio – concluiu dr. De Negri – Amanhã é domingo e vou fazer uma grande macarronada. O professor e sua família estão convidados. Cáspite! – concluiu ele com uma expressão italiana que sempre usava quando queria ironizar ou se admirar de uma situação.
No dia seguinte, estávamos todos lá para nos deliciarmos com a famosa macarronada do médico. Ele mesmo preparava a massa e o molho com todos os ingredientes. Todos que a tinham provado diziam que até na Itália era difícil comer uma macarronada com aquele sabor. Cáspite."




                                           
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