sábado, 29 de julho de 2017

NA MINHA ADOLESCÊNCIA CONHECI UM FAMOSO AVARENTO.




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Na minha adolescência, que passei numa cidade catarinense, conheci um famoso avarento, figura de destaque junto à população do lugar. Seu nome era Rambuski. Diziam que ele tinha em casa um cofre recheado de grandes somas, mas levava uma vida miserável. Morava numa velha casa com as paredes todas rachadas. vestia-se mal, usando sempre um casado velho que tinha sido de seu pai. Comia mal, uma comida que ele mesmo preparava. Esmola para pobre nem pensar. Falavam que  ele, ao andar pela cidade, andava pelo meio da rua de terra batida, evitando as calçadas, para não gastar a sola do sapato. Era viúvo e tinha um filho, de nome Samuel, rapaz que ficava revoltado com a avareza do papai. Ele contava aos amigos que, aos domingos, recebia do pai uma moeda equivalente hoje a cinco reais, com a recomendação:
"Vê se não sai por aí gastando feito um tresloucado".
   Com o passar do tempo,  o filho do nosso amigo avarento, descobriu a chave do cofre do papai e lhe roubou a quantia de 20 contos de réis, uma fortuna para a época. Pegou o dinheiro e fugiu. Mas, com tanto dinheiro no bolso, o nosso jovem se envolveu em muitas aventuras com mulheres, festanças e vida desregrada. O fato é que o dinheiro acabou e ele resolveu, como o filho pródigo da Bíblia, retornar à casa paterna, pedindo perdão ao "querido papai". Rambuski perdoou o filho e voltou aos antigos hábitos. Todo domingo lhe dava a tradicional moeda de valor ínfimo, com a antiga recomendação: "Vê se não não sai por aí, gastando feito um tresloucado". 
    O tempo passava e, na calada da noite, Samuel percebeu que Rambuski continuava botando muito dinheiro no velho cofre, dinheiro que ele não sabia de onde vinha. E um diabinho veio soprar em seu ouvido: "Aproveita, Samuel. Descobre onde o velho guarda a chave do cofre e dá-lhe um novo golpe. Só que, desta vez, pega muito mais... Ele está velho e logo vai morrer e esse dinheiro certamente vai ser todo seu. Faça isso antes que algum ladrão entre na casa e esvazie o cofre. Aí, quem vai ficar na merda é você".
   As palavras do diabinho tiveram um efeito imediato no comportamento de Samuel e o momento apropriado não demorou a chegar. Era inverno, um inverno rigoroso e Rambuski pegou uma gripe muito forte e caiu de cama, gravemente enfermo. O filho quis chamar um médico, mas papai achou que era uma despesa desnecessária. Ele não estava ali para encher o bolso do esculápio. Era assim que ele designava o médico do lugar.
   Durante uma noite em que o velho avarento dormia profundamente, abatido pela doença, Samuel revirou os cômodos da casa e encontrou a chave do cofre, escondida dentro de um penico, que ficava debaixo da cama de Rambuski. A chave estava numa pequena sacola e o velho avarento achava que ali ninguém iria encontrá-la. Samuel abriu o cofre e ficou espantado. Não tinha mais espaço para nada. Estava recheada com pacotes de notas de 100 mil réis, a moeda da época. Samuel encheu uma maleta com o preciso tesouro e fugiu de casa naquela mesma noite, tomando diversas conduções até o litoral do Estado, onde embarcou num navio, rumo ao Rio de Janeiro. Quando contou o dinheiro, ficou espantado. Estava de posse  de oitenta contos de réis, uma grande fortuna. Fugiu e nunca mais voltou. E o velho Rambuski, amargurado, morreu pouco tempo depois.



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