sexta-feira, 24 de junho de 2022

UM ACONTECIMENTO QUE CAUSOU UM GRANDE TRAUMA NA VIDA DE UM POBRE PROFESSOR



A narrativa que segue consta de meu livro MENINO TROPEIRO  e aconteceu no ano de 1937, na localidade de Anita Garibaldi, Santa Catarina, um povoado de colonização italiana, de população pacífica, mas onde alguns indivíduos praticavam atos de puro vadalismo. Leia o texto.

"Naqueles  dias sombrios  aconteceu  um  fato  que veio dar uma  reviravolta  em  nossas  vidas.  Houve um  grave desentendimento entre Euclides Granzotto e dr. De Negri. O velho Granzotto estava adoentado e o filho mais velho da família morava no povoado de São Pedro, próximo ao Rio Pelotas, na fronteira com o Rio Grande do Sul, onde tinha negócios. Quem na verdade dava as ordens em nome do clã era o segundo filho, Euclides Granzotto. Até  hoje  não sei  quais  foram as causas desse desentendimento entre De Negri e Euclides, mas meu pai ficou do lado do médico, a quem estava ligado por uma forte amizade. Diante da situação, resolvemos abandonar a casa onde morávamos, que era de propriedade dos Granzotto. Fomos provisoriamente para uma casa nos fundos da residência dos De Negri, onde ficaríamos até a poeira baixar.

Em conversa com o médico, meu pai se prontificou a servir de intermediário entre os litigantes, pois o lugar era pequeno e não valia a pena esse tipo de disputas. Dr. Giovani concordou e lá foi o professor ao encontro de Euclides Granzotto, cuja venda ficava aberta até o início da noite. A conversa entre ambos se desenvolveu em clima cordial e meu pai se retirou, acreditando ter aparado todas as arestas. Mas não era bem assim. Na verdade, ele estava sendo vítima de um golpe traiçoeiro. Ao atravessar um pontilhão de acesso à casa do médico, já era noite avançada, quando foi abordado por dois indivíduos armados de relhos, que iniciaram o ataque com estas palavras:

– Professor, o sr. vai levar uma surra pra não meter mais o nariz naquilo que não é da sua conta.

Das palavras, passaram ao ato e açoitaram meu pai por todo o corpo, sem lhe dar nenhuma oportunidade de defesa. Ele chegou em casa ferido no rosto, nos braços, nas costas, nas pernas. Dr. De Negri correu em seu socorro e o levou até o consultório onde, num clima de grande revolta, todos procuravam uma explicação para a prática covarde. Minha mãe chegou, em seguida, e, muito assustada, perguntou:

– Meu Deus, mas quem é o responsável por essa covardia?

Enquanto recebia atendimento médico, o professor fez um relato dos acontecimentos, desde a saída da reunião com Euclides Granzotto até o encontro com os dois vagabundos, ao ser surpreendido na escuridão da noite.

– Quem seriam os capangas que o atacaram, professor? – perguntou o médico.

– Um deles, tenho certeza, é o filho da dona da pensão. Estava escuro, mas reconheci sua voz.

Dr. Giovanni resolveu enviar, ao amanhecer, um emissário ao delegado responsável pela manutenção da ordem na região, um fazendeiro, que morava bem longe do povoado. Ele chegou na parte da tarde acompanhado de dois ajudantes. Visitou meu pai e se inteirou dos detalhes da emboscada. Em seguida, foi para a escola e mandou seus auxiliares buscarem o filho da dona da pensão, cujo nome acho que era Argemiro, um homúnculo de 1,50m de altura. Depois de conversar com o delegado uns dez minutos, ele entregou todo o esquema. Deu o nome do comparsa, um tal de Antônio e confessou que ambos foram contratados por Euclides Granzotto para  fazer o serviço. Eles atacaram meu pai para atingir indiretamente o médico, pois atacar o médico certamente criaria uma comoção geral junto ao povo da região, face ao prestígio desfrutado por ele.

O delegado procurou o mandante do crime, mas este negou enfaticamente que tivesse ordenado a emboscada.

– Imagine, delegado – falou Euclides –, o sr. acha que eu iria fazer uma coisa dessas? O professor é um homem muito conceituado e minhas sobrinhas são alunas dele.

O delegado saiu da reunião convencido da culpabilidade do suspeito. Segundo ele, Paulino Granzotto, o chefe da família, não tinha nada a ver com o fato, pois se encontrava acamado, vítima de grave enfermidade e não era homem de comportamento violento. Pelo contrário. O filho mais velho nem morava em Anita Garibaldi. Os outros filhos não tinham voz ativa nas decisões da família. A responsabilidade pelo atentado ao professor era integralmente de Euclides.

O inquérito  parou nesse ponto. Quem iria levar às barras de um tribunal o poderoso Granzotto? Na verdade, na região, apesar dos novos tempos, não existia justiça.  O juiz mais próximo ficava em Lages e o delegado era mera figura decorativa. O que determinava era a lei do mais forte. Ninguém foi punido. Um dos capangas, o tal de Antônio, morreu uns meses depois e meu pai o perdoou. Euclides Granzotto, segundo eu soube mais tarde, ingressou  na  política e chegou a ser prefeito da cidade Lages. Mas o episódio  marcou para sempre a população daqueles rincões. Ninguém tomou a defesa de meu pai, ninguém ergueu a voz para protestar. Essa era a dura realidade que feriu a nossa família, por ter atingido  de forma humilhante um homem honrado que,  através do ensino, sem medir sacrifícios, dedicava sua vida ao progresso daquela população."


       
Estes livros estão à venda, por um preço simbólico, na amazon.com.br e você pode ler seus conteúdos no computador, tablet celular e outros. Para isto, basta clicar no link de cada livro e terá, logo, um resumo completo da obra. Se ler o resumo, vai ler o livro, temos certeza, porque todos eles são de leitura imperdível. R.H. Souza é ator do blog scripta e virtual, com mais de 150mil acessos. Agora, estamos ao alcance de leitores na área internacional, na qual o nosso blog já tem muitos participantes.

OPERAÇÃO KAABA – A sensacional narrativa do sequestro de um papa por terroristas islâmicos, no ano de 2035. 

O FILHO DE ANITA – uma narrativa repleta de mistério e suspense. Impróprio para pessoas impressionáveis. 

MENINO TROPEIRO – As aventuras de um menino, no interior da Região Sul do Brasil. 

PROVÉRBIOS LATINOS – Sã0 440 dos mais famosos prevérbios da cultura humanística, com a tradução, pronúncia e exemplos de seu uso correto.  

 Para  comprar os livros, acesse amazon.com.br

 





Nenhum comentário:

Postar um comentário