sexta-feira, 12 de junho de 2020

A ROSA DE OURO PARA A PRINCESA ISABEL


                     
  A morte brutal do negro americano George Floyd desencadeou uma avassaladoura reação no mundo inteiro, com passeatas e protestos nos Estados Unidos e em muitos países do mundo. Estátuas de antigos traficantes de escravos foram arrancadas de seus  pedestais e lançadas aos rios. O filme E o Ventou Levou foi retirado do serviço de streaming em meio a protestos antirracistas.


Tela do pintor Vitor Meireles sobre o momento
da entrega da Lei Áurea
 ao parlamento brasileiro pela Princesa Isabel.

O momento é oportuno para lembrarmos a figura da Princesa Isabel que, através da Lei Áurea, libertou os escravos brasileiros no dia 13 de maio de 1888. Ao entregar a lei com sua assinatura ao Barão de Cotegipe, este teria lhe dito:" Vossa Alteza imperial ganhou a aposta, redimiu uma raça, mas perdeu o trono". Na verdade, um ano depois era proclamada a república e a família imperial enviada ao exílio.

O ato da princesa teve repercussão internacional, pois o Brasil era um dos últimos países do mundo a se livrar da escravatura.O papa Leão XIII, outro defensor dos direitos humanos , através da encíclica Rerum Novarum, enviou à princesa brasileira a rosa de ouro (foto) com a qual o Vaticano homenageava pessoas no mundo, que se destacavam em prol dos direitos humanos. Junto com a rosa ele também lhe enviou uma carta na qual exalta a grandeza de seu ato. 


"Leão XIII, Papa

 

À muita amada em Cristo Filha Nossa, Saúde e Benção Apostólica.

 

As preclaras virtudes que adornam Tua pessoa e as brilhantes demonstrações de singular dedicação que Nos deste a Nós e a esta Sé Apostólica, pareceu-nos merecer sem dúvida um testemunho particular e insigne de Nosso Apreço e paternal afeto para contigo.

 

Para te apresentarmos porém esse testemunho, nenhuma oportunidade mais favorável podia dar-se, conforme entendemos, do que a atual. Com efeito, novo esplendor acaba de realçar ainda mais os Teus louvores por ocasião da Lei que aí foi recentemente decretada e por Tua Alteza Imperial sancionada, relativa àqueles que, achando-se nesse Império Brasileiro, sujeitos à condição servil, adquiriram em virtude da mesma lei a dignidade e os direitos de homens livres.

 

Assim, pois, muito amada em Cristo Filha Nossa, Nós te enviamos de mimo a Rosa de Ouro que, ao pé do altar, consagramos com a prece apostólica e os demais ritos sagrados, consoante a usança antiga de Nossos Predecessores.

 

Por esta razão investimos do caráter de Nosso Delegado apostólico ao amado Filho Francisco Spolverini, Nosso Prelado Doméstico e Protonotário Apostólico, que exerce as funções de Internúncio e de Enviado extraordinário Nosso e desta Santa Sé, junto ao muito amado em Cristo Filho Nosso Pedro II Imperador do Brasil, e na ausência dele junto à Tua Alteza Imperial, com o fim de levar-Te a referida Rosa e de exercer o honrosíssimo ministério de fazer-Te a tradição dela, observando as sagradas cerimônias do estilo.

 

Nesse mimo, porém, que Te ofertamos, é desejo Nosso que Tua Alteza Imperial não olhe para o preço do objeto e seu valor, mas atenda aos mais sagrados mistérios por ele significados. Assim é que nessa flor e no esplendor do ouro se manifesta Jesus Cristo e sua suprema Majestade. É Ele que se denomina a flor do campo e o lírio dos vales. Na fragrância da mesma flor se exibe um símbolo do bom odor de Cristo, que ao longe reascendem todos os que cuidadosamente imitam as suas virtudes.

 

Daí é impossível que o aspecto deste mimo não inflame cada vez mais o Teu zelo em respeitar a religião e em trilhar a vereda árdua, sim, mas esplêndida da virtude.

 

No entanto, implorando toda a sorte de prosperidades e venturas para Ti, e todo o Império Brasileiro, muito afetuosamente no Senhor outorgamos a Benção Apostólica a Ti, muito amada em Cristo Filha Nossa, e à Tua Imperial Família.

 

Dado em Roma, junto a São Pedro, sob o anel do Pescador, no dia 29 de maio do ano de 1888, IIº no Nosso Pontificado.

 




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