segunda-feira, 4 de julho de 2011

JOÃO MARIA, O SANTO QUE O POVO CANONIZOU

                                                                

Na minha infância e adolescência, morei no interior de Santa Catarina e tive oportunidade de conhecer diversas localidades que foram cenário da famosa Guerra do Contestado, como Campos Novos, Joaçaba, Curitibanos, Porto União, Mafra e muitas outras. Ao visitar casas de caboclos da região, observava sempre a foto de um personagem exótico, de longas barbas, semblante humilde, sentado com as mãos cruzadas envolvendo as pernas, calçando sandálias rústicas. A foto que aqui publicamos  estava sempre colocada no oratório da família, ao lado do crucifixo e de imagens de santos diversos. Ao perguntar de quem se tratava, as pessoas explicavam que era São João Maria, venerado pelo povo em razão das muitas curas e milagres que, em vida, realizou. Em certa ocasião, viajando com um amigo de infância para a localidade de Santo Antônio, observei em determinado ponto da estrada uma pequena construção de madeira  que lembrava um oratório. Perguntei ao amigo o que aquilo significava e ele esclareceu que se tratava de lugar sagrado, onde um dia São João Maria dormira. No local onde ele passava a noite, sempre deixava plantada uma cruz. E foi essa a razão da construção do oratório à beira da estrada, um sinal da devoção do povo pelo santo milagreiro.
Mas quem foi esse São João Maria? Na virada do século XIX  para o século XX, diversos monges surgiram em localidades do Paraná e Santa Catarina. Foram eles: João Maria Agostini, João Maria de Jesus e José Maria. Esse último liderou contingentes de caboclos na chamada Guerra do Contestado na qual morreram mais de 20 mil pessoas.

A figura dos dois primeiros monges se confundem, pela semelhança de atuação. João Maria Agostini era italiano e percorreu a região, realizando curas e milagres. João Maria de Jesus adotou os dois primeiros nomes do primeiro monge e tinha atuação semelhante a dele o que levou a população a considerá-los uma só pessoa.
João Maria de Jesus realizava curas e milagres, fazia profecias e confortava as pessoas por onde passava. Contam as lendas que, nos lugares onde ele dormia, surgiam olhos d´água e que suas águas eram milagrosas. Fez várias profecias que se cumpriram, segundo a voz do povo. Estava em determinado local e disse que ali surgiria uma cidade com o nome da Santa Cruz. Na verdade, a cidade foi depois fundada com o nome de Cruzeiro, hoje município de Joaçaba, Santa Catarina.Teria previsto, alguns anos antes, o advento da República, a chegada do trem de ferro que ele definiu  como “Linhas de burros pretos, de ferro, carregando o pessoal”.  Previu a derrota dos sertanejos na Guerra do Contestado e a chegada dos aviões que ele chamou de “gafanhotos de asas de ferro que seriam os mais perigosos porque destruiriam  as cidades ”. Certamente era uma referência aos aviões que seriam usados pelo governo brasileiro para derrotar os rebeldes na referida guerra, com o bombardeio de suas povoações, sendo que essa foi a primeira vez em que a aviação foi usada no Brasil  com tal objetivo.  As lendas dizem que o santo tinha o poder da bilocação, ou seja, estar em dois lugares ao mesmo tempo: rezando em sua gruta e ao lado de um doente que precisasse de sua ajuda. Quando perseguido, podia se tornar invisível  ou andar sobre as águas de um rio, como fez Jesus Cristo no Mar da Galileia. As cruzes que ele plantava no solo se transformavam em árvores com o mesmo formato da cruz.
Essas e outras lendas são transmitidas pelos contemporâneos do monge João Maria, o santo que o povo canonizou. Ele é venerado até hoje em regiões do Paraná e em todo o Estado de Santa Catarina, onde logradouros levam  o seu nome e até estátuas são erguidas em sua homenagem.
São João Maria, rogai por nós!




        

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