O texto que segue foi extraído do livro Menino Tropeiro, de autoria do autor deste blog e mostra as discrepâncias alimentares entre o campo e a cidade, na década de trinta, no Planalto catarinense. Para ler O MENINO TROPEIRO, acesse amazon.com.br
"Ainda
com relação a carnes, meu pai foi protagonista de outra história curiosa. Ele
estava numa fazenda próxima, onde o fazendeiro e alguns peões carneavam um boi,
como se falava na região. Ao término da tarefa, pegaram o fígado do animal,
cortaram-no em pedaços e deram tudo para os cachorros. Meu pai, um homem da
cidade, não entendeu a razão daquela extravagância e falou para o fazendeiro:
–
Por que deram o fígado do boi para os cachorros, seu Libório? De onde eu vim,
dele se fazem bons bifes.
–
Professor, aqui, nós só comemos a carne do boi. Ninguém come fígado...ele só
serve mesmo para os cachorros.
Algum
tempo depois, minha mãe estendia roupas no varal, no quintal da casa, quando
uma pequena carreta parou no portão e o homem da boleia gritou para ela:
– O
professor Heitor está?
–
Está sim. Quem quer falar com ele?
–
Eu trouxe um presente para ele, lá da fazenda do seu Libório.
Minha mãe entrou em casa e chamou meu pai, que veio falar com o visitante. O homem desceu da carreta e arriou dela um saco manchado de sangue. Era o fígado inteiro de um boi, pesando alguns quilos e dava para se fazer dele uma centena de bifes. Comentando com minha mãe o episódio, seu Heitor resumiu o assunto com o provérbio: “Cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso."
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