–
Então, Abdel, foi você o único que se salvou do ataque à fazenda?
– Eu
e Mara. Khaled e Fuad foram metralhados ao se dirigirem para o helicóptero e
fomos forçados a levantar voo sem eles, para não colocar a operação toda a
perder.
– De
nada adiantaria, mesmo, pois pelo que vi na televisão, eles viraram uma peneira
de tanto tiro que levaram e estavam irreconhecíveis. Mas como vão as coisas por
aqui?
–
Está tudo pronto para a partida. O avião sairá hoje à noite de uma pista perto
de Caaguazú. Dentro de duas horas iremos para lá.
–
Recebi ordens do chefe para dar toda a cobertura a vocês. Mas, agora, vou até o
refeitório para comer alguma coisa, enquanto vocês fazem os últimos
preparativos.
Ao
entrar na casa principal, Bob se encontrou com Mara que preparava as malas para
a viagem e lhe dirigiu um galanteio:
–
Então, a nossa odalisca vai embora?
Esses árabes não sabem o que se pode fazer com uma mulher bonita como
você. Eles não conhecem aquele preceito da Bíblia que diz: “não se jogam
pérolas aos porcos”.
A
jovem sorriu constrangida e continuou o trabalho de preparação da bagagem para
a longa viagem.
Já
estava tudo pronto para o embarque, quando os empre-gados acenderam as luzes do
pátio da fortaleza, porque a noite se aproximava. Alguns deles ajudavam a
carregar as malas até a aeronave. Abdel trazia, pessoalmente, as armas que
sempre acompanhavam os terroristas e as colocou dentro de sacolas, junto aos
assentos que lhes estavam reservados. O helicóptero tinha dois assentos largos
para os passageiros, um voltado para o outro. O papa foi o primeiro a entrar.
Sentou-se do lado esquerdo do banco de trás. Mara ficou no mesmo assento,
próximo à porta. Abdel viajaria sentado de frente para ela.
Os
guardas que faziam a proteção da propriedade se aproximaram do helicóptero para
assistirem à decolagem, enquanto Bob Müller ficava próximo à porta da aeronave.
Quando viu que Abdel saiu da casa e vinha para o embarque, virou-se para os
guardas e disse:
– O
que é isso, amigos? Todos armados perante S. Santidade, o Papa Pedro Paulo ?
Não acham que é falta de respeito? Por favor, coloquem suas armas no chão e
batam continência para o Sumo Pontífice.
Os
guardas, meio confusos, pois não sabiam que estavam diante do papa, obedeceram
e colocaram no chão as suas metralhadoras portáteis. Afinal, era uma ordem do
comandante e devia ser cumprida. Nesse momento, Abdel se aproximou de Bob
Müller para as despedidas, quando o americano sacou uma pistola 45 e apontou-a
para o terrorista, dizendo, com um sorriso sarcástico:
– Um
momento, amigo, nada de despedidas, pois houve uma mudança radical nos planos.
Depois de muito pensar, resolvi mudar de lado e ficar com o Sumo Pontífice,
pois, afinal de contas, ele vale um milhão de dólares e vou levá-lo ao Brasil,
enquanto você, meu amigo, não vale nada.
Mal
acabou de proferir as últimas palavras, disparou dois tiros à
queima roupa, projetando para trás o corpo do jovem terrorista, enquanto Bob
Müller ordenava aos guardas que recuassem e se afastassem das armas, o que eles
fizeram prontamente. Neste momento, Mara, que já desconfiava de Bob Müller,
quando ele mandou os guardas arriarem as armas no chão, saltou do helicóptero
e, com as mãos nos quadris, se colocou, atrevidamente, bem em frente ao
americano.
–
Agora – gritou ela – é a minha vez! Pode atirar!
–
Não, para você eu tenho planos bem melhores, minha odalisca, desde que se
comporte bem.
Mara
vestia uma calça jeans, com um largo cinturão, que tinha no lugar da fivela um
enfeite de metal, em relevo, bem destacado. Num movimento imperceptível, ela
pressionou com a mão direita uma placa de metal de uns dez centímetros como se
fosse um adorno aplicado ao cinto. A peça saltou para a posição perpendicular
ao cinto e, preso a ela, surgiu um pequeno cilindro. Ela acionou um botão do
lado esquerdo e um projétil partiu do cilindro, provocando pequena explosão e
acertou em cheio a barriga de Bob Müller, distante a menos de um metro da
jovem. Enquanto caía, ele ainda fez graça.
– O
que é isso, odalisca...logo eu que gostava tanto do teu cinto...
Toda
a operação demorou alguns segundos. Tratava-se, na verdade, de uma engenhosa
arma usada por algumas mulheres guerrilheiras. Era uma espécie de mini míssil,
com projétil que se fragmentava ao penetrar o corpo da vítima e lhe causava
queimação e hemorragia instantânea, deixando-a completamente sem ação. As
coisas se sucederam tão rapidamente, deixando todos paralisados diante da cena.
O papa levou um grande susto e ficou extremamente pálido e foi preciso algum
tempo para se restabelecer.
Mara
tirou sua metralhadora da sacola e ficou atenta, enquanto o americano
agonizava, dizendo coisas incompreensíveis. Abdel jazia morto, numa poça de
sangue. Os guardas recuperaram as próprias armas e ficaram de prontidão, pois
não sabiam se Bob Müller lhes tinha preparado outras surpresas. Mara
voltou-se para eles e pediu que sepultassem os mortos. O papa, já recuperado do
susto, pediu um tempo a Mara, desceu do helicóptero e se aproximou dos corpos
de Abdel e Bob Müller e fez uma oração, sendo acompanhado por todos. Depois,
retornou ao helicóptero.
Mara,
já recuperada do susto, caiu na realidade. Como, sozinha, iria, agora,
conduzir o prisioneiro até seu destino final. Aproximou-se de Domingos
Ignácio Rodrigues, o administrador da fortaleza, e lhe expôs o problema. Este
falou:
- A
solução para isso é formarmos uma pequena escolta para acompanhá-la até o final
da viagem.
-
Acho que é a solução mais acertada, pois as forças armadas brasileiras vão
tentar libertar o prisioneiro, agora sob minha responsabilidade, pois os meus
companheiros estão todos mortos.
-
Vou telefonar para o D. Herrera e pedir autorização. Tenho um grupo de homens
muito competentes para desempenhar essa tarefa.
Domingos
se dirigiu a seu escritório e telefonou para o chefão da CIN e retornou com sua
aprovação para o envio da escolta de ajuda a Mara na difícil missão de conduzir
o papa até o seu destino final.
A
seguir, Domingos escolheu três de seu melhores homens e mandou que se
preparassem para uma longa jornada, pois iriam acompanhar a jovem guerrilheira
até o Oriente Médio, conduzindo seu valioso prisioneiro. Os homens foram
instruídos como agir, no caso de um confronto com as forças legais para
libertação de Juliano Monteverde.
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