sábado, 6 de agosto de 2011

AS LOUCURAS INCRÍVEIS DE CHOTÔ, O REI DO BRASIL

                 


Chatô, o Rei do Brasil é o  livro do escritor Fernando Morais sobre uma das personalidades mais controvertidas da vida brasileira, o paraibano Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo, mais conhecido como Chatô. O livro, resultado de uma alentada pesquisa, narra episódios pitorescos da vida do jornalista, criador de um dos maiores impérios de mídia da América Latina – o conglomerado dos Diários Associados - que incluía 100 jornais, Emissoras de Rádio e TV, além da famosa revista O Cruzeiro, que teve destacada influência na vida brasileira. 

Vou narrar três episódios da vida de Assis Chateaubriand que não estão no livro de Fernando Morais, mas que me foram relatados por pessoas próximas ao controvertido jornalista e que bem demonstram seus métodos de atuação empresarial.

Chateaubriand estava em reunião, no Rio de Janeiro, com um grupo de empresários alemães, na sede d´O Jornal, órgão líder dos Diários Associados. Estava fechando com eles um grande contrato para compra de moderno maquinário para equipar aquele importante órgão associado, apelidado por ele  de a nossa gazua, pois era através dele que  forçava algumas portas em busca da ”bufunfa” para seus empreendimentos.
Após assinar o contrato com os empresários alemães, Chateaubriand chamou o diretor financeiro da empresa, cujo nome não recordo,  e falou:
- Fulano,  veja como está o nosso crédito na Confeitaria Colombo, pois quero oferecer um coquetel aos empresários alemães, para comemorar a compra do novo maquinário para O Jornal.
- Não temos crédito, Dr. Assis, pois estamos devendo os três últimos coquetéis que o Sr. ofereceu ...
- Converse com eles e vê se consegue o fornecimento para mais um... diga que é um acontecimento importante para as nossas empresas...
- Dr. Assis – retrucou o gerente -, se nós não temos dinheiro nem para pagar um mísero coquetel da Colombo,  como o Sr. irá pagar essa fortuna que acaba de assinar com os alemães. Estou muito preocupado.
- Fulano, você não está à altura do cargo de diretor financeiro d´O Jornal. Falta-lhe visão dos negócios. Veja bem: comprar o maquinário é a nossa função, agora... receber o pagamento, não é problema nosso...  é problema dos alemães.

Quando Assis Chateaubriand montou a TV Tupi de São Paulo, comprou equipamentos de várias multinacionais americanas, entre elas, a General Electric. Fechou o negócio diretamente com o presidente da empresa no Brasil que lhe abriu um crédito bem expressivo. Quando venceu a primeira prestação, o dinheiro não chegou à conta da General Electric, nem o da segunda e da terceira prestação. Então, o presidente da empresa pediu uma entrevista com o Dr. Assis que explicou ao americano a impossibilidade de quitar as referidas prestações (passadas e futuras), pois os investimentos com a nova TV tinha sido muito grandes.
- Nesse caso, Dr. Assis – disse-lhe o americano –, tenho que protestar os títulos que o sr. pessoalmente assinou.
Chateubriand olhou fixamente o gringo e falou:
- Protestar o Sr. até pode, mas me diga uma coisa: será que a General Electric suportaria uma campanha negativa dos Diários Associados em todo o Brasil? Sei que os senhores têm negócios com o Governo Federal e com alguns governos estaduais... Podemos botar areia nessas turbinas. (A GE, à época, era fornecedora, entre outros equipamentos,  de turbinas para as grandes hidrelétricas que eram construídas no país, com contratos milionários).
Resumo da ópera: o poderoso Chatô negociou com a GE o pagamento de sua dívida em espaço publicitário em seus veículos de comunicação em todo o Brasil, com exceção da TV Tupi e da revista o Cruzeiro, os únicos que, naquele momento,  interessavam à empresa.

Anos mais tarde, quando fui trabalhar no departamento de propaganda da GE do Rio de Janeiro (setor de lâmpadas e iluminação) estava lá o crédito à nossa disposição, que não usávamos, porque a maioria dos veículos associados era de circulação local e as campanhas da empresa eram de âmbito nacional. Assim sendo, acho que a dívida nunca foi quitada.


A vida de Assis Chateaubriand era um torvelinho incrível de atividades. Cuidava de suas empresas, de política, diplomacia, conseguiu montar o Museu de Arte de São Paulo (MASP), arrancando doações do empresariado nacional.

Mantinha um trato cordial com seus empregados.Um
dia – segundo me contaram – um funcionário da revista O Cruzeiro prestou um serviço ao patrão que o deixou muito satisfeito. À saída do trabalho, Chateaubriand convidou o colaborador para jantar em sua residência. O rapaz, bastante constrangido, aceitou o convite, pois não estava acostumado a tais mordomias. Chegando ao apartamento do poderoso empresário, esse o acomodou na sala da residência, dizendo-lhe para aguardar ali a hora do jantar, enquanto ele iria dar um telefonema. Transcorrido um longo tempo, o rapaz achou que havia alguma coisa fora do normal. Entrou pela casa a dentro até encontrar uma empregada que lhe disse:

- Para mim, você já tinha ido embora há muito tempo.

- Ora - falou o rapaz – estou à espera do Dr. Assis. Ele me chamou para jantar...Disse para aguardá-lo na sala, mas já estou aqui  há mais de uma hora.

A empregada deu uma gargalhada e retrucou:

- O Dr. Assis, a essa hora já deve estar em São Paulo, meu amigo. Chegou aqui, deu um telefonema, pegou a mala e se mandou correndo para o aeroporto.

- Ele podia ter me avisado.
- Isso acontece sempre com ele. Sua vida é um rodamoinho. Amanhã, nem se lembrará que te convidou para jantar. Mas não se preocupe que vou lhe ajeitar um prato de comida. Assim, você não perde a viagem.


 

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