São Francisco de Assis (1182-1226) compôs o Cântico do Irmão Sol no fim da vida, quando se encontrava muito doente, quase cego, sofrendo dores atrozes pelo corpo, em razão dos estigmas.
Existem muitas traduções para o português do Cântico do Irmão Sol, mas aquela que eu considero uma das melhores, foi feita pelo padre Francisco Siqueira há mais de 60 anos. Ele fez uma tradução livre e até tomou algumas liberdades poéticas, mantendo-se, entretanto, fiel ao espírito do poema. São Francisco de Assis é hoje considerado o padroeiro da ecologia. Eis a tradução:
Senhor Onipotente! Ó eterno Senhor!
Toda honra Te pertence, a vida, a luz e o amor!
Bênçãos e aclamações para Ti, ó meu Deus.
Supremo Criador dos luminosos céus.
O homem não foi jamais digno de nomear
Teu nome soberano; este é maior que o mal.
Por toda a criatura, onde quer que ela esteja,
Bendito seja Deus: louvado sempre seja
Do meu grande Senhor o nome sacrossanto,
Que revigora o fraco e dulcifica o santo.
Que lhe dê glória o sol, tão forte e corruscante,
Fonte de vida e luz, tão belo e radiante,
Que dissipa da noite a sombra do terror,
Inundando a amplidão de límpido fulgor.
Bendito seja sempre o meu Deus pela lua,
Que à noite na amplidão dos espaços flutua,
Espargindo uma luz tão doce e maviosa
Como um hino celeste e o aroma de uma rosa...
Por esses mil milhões de estrelas cintilantes,
Tão lindas lá nos céus, tão altas e distantes.
Entoe o Teu louvor o vento, nosso irmão,
Que faz rugir o oceano em fúrias de leão.
Que tudo Te glorie – tempo, nuvens e ar
Num hino triunfal, sublime e sem cessar!
Louvado sejais sempre ó divino Senhor,
Pela água, nossa irmã, a qual, com seu frescor,
Pura como cristal, fecundante e preciosa,
Nos suavisa a sede e faz florir a rosa.
Ó supremo Poder, glorifique-te o fogo,
O qual seja onde for, apenas surge, logo
Dissipa a escuridão e é alegre e formoso,
Robustíssimo e doce, altivo e esplendoroso.
Louvado sejais tu pela terra, Senhor,
Pois ela nos sustenta e produz fruto e flor;
Flor dum fino matiz com que nós Te adoramos,
Fruto diverso e bom com que nos sustentamos.
Bendito sejais sempre, inefável Senhor,
Por quem, de coração, pelo Teu santo amor,
Perdoa a quem odeia e tem resignação
Oh! Bendito e feliz o que conserva a paz
Que sempre flui de Ti; venturoso o que traz
Teu nome – grande e bom! Em sua alma [guardado],
Porque ele, lá no céu será glorificado.
Obs. Antes de morrer, São Francisco acrescentou mais uma estrofe ao Cântico do Irmão Sol, falando sobre a morte, mas esse texto não consta da tradução feita pelo padre Francisco Siqueira.
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