sábado, 6 de agosto de 2011

ESTÓRIAS DE BRASÍLIA: O PENICO DO GENERAL E A CURIOSIDADE DO ENGENHEIRO

Na foto, Oscar Niemeyer, Israel Pinheiro, Lúcio Costa e Juscelino Kubitschek (www.portalbrasil.eti.br)
    










                  




O PENICO DO GENERAL 
Em certa oportunidade, ainda nos primórdios de Brasília, lá estive  e conheci um funcionário federal que participou do governo desde o início da construção da cidade, tendo servido aos presidentes Juscelino, Jânio Quadros e João Goulart. Acompanhava o presidente Juscelino para todo canto durante a construção de Brasília. JK, muitas vezes, chegava  de madrugada para vistoriar as numerosas obras em curso.  Foi esse funcionário (vou chamá-lo aqui pelo nome fictício de João) quem me narrou o seguinte episódio:
Em junho de 1957, visitou o Brasil o presidente de Portugal, general Craveiro Lopes que veio acompanhado da esposa, dona Berta da Costa Ribeiro Artur. O ilustre visitante visitou Brasília, ainda em construção, acompanhado do presidente Juscelino Kubitschek e se hospedou no chamado Catetinho onde Juscelino ficava em suas idas e vindas à futura capital do Brasil.
Depois de um dia de intensa movimentação, Juscelino levou seus hóspedes para o pequeno palácio de madeira que tinha   todos os equipamentos necessários para o conforto de seus moradores. E foi nessa noite que o general Craveiro Lopes, depois de entrar em seus aposentos com a mulher, voltou a procurar o anfitrião, dizendo-lhe:
- Sr. presidente, desculpe o incômodo, mas tenho que lhe fazer um pedido especial. Será que haveria a possibilidade de seus auxiliares  me arrumarem  um penico, pois procurei um no quarto e não encontrei... Sabe, são os velhos hábitos.
Juscelino, surpreso com o pedido, respondeu:
- Aqui no Catetinho não devemos ter penicos, mas vou pedir a meu pessoal que lhe arrumem um, general.
A seguir, Juscelino chamou João, funcionário de sua absoluta  confiança e o encarregou da difícil missão. O rapaz, surpreso com o pedido, respondeu?
- Mas onde vou conseguir um penico a essa hora da noite, presidente. O pouco comércio da cidade já está fechado.
- Vire-se, meu amigo, pois não posso deixar de atender a um pedido de meu ilustre convidado. Trata-se de problema de segurança nacional.
O homem, atarantado, reuniu-se com outro companheiro, embarcaram num jipe e saíram em direção ao  Núcleo Bandeirantes, à época conhecido como “cidade livre”, que abrigava os milhares de trabalhadores da construção da cidade, os chamados candangos. O local tinha uma  vida noturna movimentada e ali talvez fosse possível encontrar um penico. Percorreram lojas àquela hora fechadas, pararam em botecos, armazéns e restaurantes à cata do precioso vaso. Já estavam quase desistindo da empreitada, quando o dono de um botequim lhes deu uma ideia:
- Procurem na zona que ali, em qualquer puteiro, vão encontrar um penico.
Foi a salvação dos aturdidos funcionários. No primeiro bordel que chegaram, a proprietária, uma senhora simpática,  falou:
- Sim, aqui temos penicos, mas são para uso das meninas.
- Pagamos o preço que a sra. quiser... É para atender a um convidado do presidente Juscelino, hospedado no Catetinho.
A mulher, diante das explicações dos nervosos funcionários sobre o destino do vaso noturno, resolveu atende-los. Mandou uma empregada buscar um penico em boas condições, lavá-lo bem e o entregou aos emissários da presidência sem lhes cobrar nada. Na despedida, acrescentou:
- Levem isso – disse com um sorriso maroto - como um presente das meninas da casa  ao Juscelino  como agradecimento pelo aumento dos negócios aqui na zona por causa da construção de Brasília. O nosso movimento tem duplicado a cada mês.
Já era noite avançada quando S. Excelência, o Presidente da República do Brasil atendeu os colaboradores que voltavam aliviados ao Catetinho trazendo o objeto de desejo do ilustre Presidente de Portugal, General Francisco Higino Craveiro Lopes. Afinal, um penico poderia se transformar num incidente diplomático de graves consequências.

João tinha muitas histórias pitorescas. Sobre Jânio Quadros dizia que ele não se acostumava com o isolamento de Brasília e que muitas vezes descarregava na bebida o seu dissabor. Aos sábados, costumava assistir filmes,  de preferência faroestes, no cinema do palácio, enquanto esvaziava um litro de uísque. No final das sessões, já embriagado, circulava entre as poltronas do cinema, imitando os mocinhos da tela, disparando tiros fictícios contra um inimigo invisível.
Sobre a bebida, existia uma frase famosa de Jânio Quadros: ”Bebo porque é líquido. Se sólido fosse, come-lo-ia.”
João também participou do curto governo e Jango Goulart e foi testemunha do drama vivido por Dona Maria Thereza Goulart, considerada a mais bonita primeira dama do Brasil, à época com apenas 23 anos de idade. Foi testemunha de seu sofrimento diante da situação política do marido, deposto pelos militares e exilando-se com a família no Uruguai.

O ENGENHEIRO CURIOSO
Outra história inusitada que me contaram em Brasília foi a de um engenheiro de uma empresa de material de iluminação que morava na cidade para atender aos numerosos clientes do setor.  Como funcionários de outras empresas, ele residia no único hotel da cidade, o Brasília Palace Hotel. À noite, a cidade virava um deserto, pois não tinha vida noturna, a menos que as pessoas quisessem se deslocar para a “cidade livre”, onde havia distrações de todo o tipo.
Uma noite, depois de uma árduo dia de trabalho, o nosso engenheiro chegou ao hotel, quando percebeu na recepção um jovem casal preenchendo a ficha de hospedagem. Perguntando a um funcionário quem eram os novos hóspedes (coisa rara no hotel), esse informou que se tratava de um casal  em lua de mel. Ao subir para seu apartamento que ficava no segundo andar, o nosso engenheiro percebeu pela movimentação dos funcionários, que os novos hóspedes seriam seus vizinhos, separados apenas por um quarto.
Ele entrou em seus aposentos, tomou um banho e depois descansou um pouco, quando lhe entrou cabeça a dentro uma ideia de girico, como diriam os nordestinos. Olhando para o forro do quarto percebeu que era formado por placas de material isolante, algumas com pequeninas frestas entre elas. E, para completar o quadro, no forro de seu quarto tinha um alçapão. Ele, então, colocou uma cadeira em cima de uma cômoda onde guardava seu material de trabalho, subiu na cadeira e alcançou com facilidade o alçapão e pôde sentir que a armação de madeira que sustentava as placas era bem resistente, suportando perfeitamente o peso de um homem. Aliás, já vira um operário trabalhando na colocação das referidas placas em outro quarto, aboletado sobre a tal estrutura.
Voltou a se deitar e quando achou que as coisas ferviam do quarto do casal em lua de mel, voltou a subir na cadeira sobre a cômoda, pendurando-se na armação. Em poucos segundos, estava  sobre a estrutura de madeira que prendia as placas acústicas a quase um metro abaixo da laje da construção. Andando de gatinhas, percebeu que poderia chegar até  o quarto do casal,  sem fazer  barulho, espiar os dois e ouvir os ruídos pertinentes... Assim, vagarosamente foi se deslocando, passando para o quarto ao lado que separava o seu daquele do casal. Quando estava bem no meio do recinto, ouviu um estalo na estrutura de madeira. Ficou um momento sem fôlego e resolveu retornar, mas ao virar-se com todo o cuidado, ouviu um estalo mais forte, quando a estrutura toda desabou e veio a cair sobre a cama do aposento sem hóspede naquele noite, para sorte sua. Passado o susto, com dores nas costas, nosso amigo saltou da cama e correu em direção à porta para fugir, mas, para sua desgraça, ela estava fechada a chave. Foi, então,  que ouviu os gritos do casal no quarto vizinho chamando os funcionários do hotel para verificarem o que estava acontecendo. Dali a instantes chegou o gerente com dois funcionários, abriram a porta do aposento e acenderam a luz. Aproximou-se também o marido em lua de mel e quando viu o estrago feito no forro do quarto, se deu conta da realidade. Ele e a mulher estavam sendo vítimas de um maldito vouyer que pretendia espiá-los em seus momentos de intimidade. Vermelho de raiva e aos gritos, o  homem correu para seu quarto  e voltou com um revólver, disposto a estourar os miolos do nosso apavorado aventureiro. Para sua salvação, os funcionários do hotel conseguiram conter o marido revoltado e evitar, assim, uma tragédia.
O gerente foi categórico: o infrator seria expulso imediatamente das dependências do hotel. Assim dito, assim foi feito.





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