No final dos anos 60, eu dirigia uma pequena agência de propaganda no Rio de Janeiro, quando fui procurado por um empresário do Paraná de nome Celso Garcia Cid (foto). Era dono de uma grande empresa de ônibus – a Viação Garcia – e também um próspero fazendeiro da região de Londrina. Numa longa conversa, ele narrou um pouco de sua vida: era natural da Espanha e nos anos 30 veio para o Brasil e se radicou no norte do Paraná, onde fundou uma empresa transportadora. Para começar, transformou um velho caminhão numa jardineira que ele mesmo dirigia, levando as pessoas pelas estradas do interior. Essa jardineira foi o embrião de uma grande empresa – a Viação Garcia – que se tornou uma das maiores do Brasil.
Depois desse preâmbulo, ele expôs o objetivo da visita. Era dono de uma grande fazenda no Paraná – a Fazenda Cachoeira - onde criava gado zebu com um trabalho intenso para melhoria da raça no Brasil. Tinha ido muitas vezes à Índia de onde importara numerosos animais, pois eles estavam lá em estado puro com extraordinária qualidade genética. Disse que compartilhava com outros fazendeiros da região os animais que trouxera, pois achava que o zebu seria o futuro da pecuária brasileira, pois se adaptava muito bem ao clima tropical.
Depois desse preâmbulo, ele expôs o objetivo da visita. Era dono de uma grande fazenda no Paraná – a Fazenda Cachoeira - onde criava gado zebu com um trabalho intenso para melhoria da raça no Brasil. Tinha ido muitas vezes à Índia de onde importara numerosos animais, pois eles estavam lá em estado puro com extraordinária qualidade genética. Disse que compartilhava com outros fazendeiros da região os animais que trouxera, pois achava que o zebu seria o futuro da pecuária brasileira, pois se adaptava muito bem ao clima tropical.
Mas o Sr. Garcia estava, naquele momento, com um grave problema. Na Índia, ele fizera amizade com o marajá de Bhavnagar de quem comprara belos exemplares da raça zebuína. O marajá tinha falecido e deixara para ele, Garcia, um grande plantel de animais da mais alta linhagem, animais esses que iriam injetar sangue novo no rebanho brasileiro. Mas havia um obstáculo: a partir do ano de 1964, o governo do Brasil proibira, por razões sanitárias, a importação de gado da Ásia e da África. Era preciso, então, esclarecer as autoridades e motivar o congresso nacional para que votasse uma lei permitindo a entrada de animais da Índia, originários de fazendas onde as condições sanitárias fossem condizentes. Ele já tinha conquistado para sua tese o senador Carvalho Pinto que iria apresentar um projeto de lei, abrindo as importações de gado zebu. Para esclarecer os membros do Congresso Nacional, Garcia enviara à Índia uma caravana de veterinários e zootecnistas que foram observar in loco as condições do rebanho indiano. O resultado dessa viagem foi um longo relatório que foi transformado num livro intitulado Animais e Trópicos de cuja edição eu fui encarregado. Nele, a equipe fazia uma análise muito positiva das condições do rebanho indiano e recomendava que fossem abertas as importações, pois dariam uma grande contribuição para a melhoria do rebanho brasileiro. Os animais importados deveriam permanecer em quarentena na Ilha de Fernando de Noronha sob severa vigilância sanitária e, só então, depois de pareceres técnicos positivos, introduzidos no território nacional
Cada congressista recebeu um exemplar do livro Animais e Trópicos, o projeto foi à votação e aprovado por quase unanimidade, mas quando foi enviado à sanção presidencial, o Presidente Médici chamou seu Ministro da Agricultura, Cirne Lima, gaúcho como o presidente, e esse, sob forte pressão dos pecuaristas do Rio Grande do Sul (que não criavam gado zebu), aconselhou o presidente a vetá-lo. Assim foi feito e o Sr. Celso Garcia perdeu um grande investimento, pois tudo fora financiado por ele: viagem dos técnicos à Índia, impressão do livro e outras despesas. Mas a perda maior foi do Brasil em razão da visão canhestra de seus governantes. Mais tarde, ele desabafava:
Cada congressista recebeu um exemplar do livro Animais e Trópicos, o projeto foi à votação e aprovado por quase unanimidade, mas quando foi enviado à sanção presidencial, o Presidente Médici chamou seu Ministro da Agricultura, Cirne Lima, gaúcho como o presidente, e esse, sob forte pressão dos pecuaristas do Rio Grande do Sul (que não criavam gado zebu), aconselhou o presidente a vetá-lo. Assim foi feito e o Sr. Celso Garcia perdeu um grande investimento, pois tudo fora financiado por ele: viagem dos técnicos à Índia, impressão do livro e outras despesas. Mas a perda maior foi do Brasil em razão da visão canhestra de seus governantes. Mais tarde, ele desabafava:
- Eu queria trazer esses animais com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento da pecuária brasileira. Eu não estava interessado em ganhos pecuniários, pois, na minha idade, o dinheiro tem pouca importância. Já ganhei muito dinheiro no Brasil e essa seria uma maneira de retribuir ao país a acolhida e as oportunidades que me deu. E também, porque carne é a proteína do pobre.
Quando Celso Garcia, tempos depois, retornou ao Rio de Janeiro, perguntei a ele o que fizera com o presente do marajá e ele me disse:
- O rebanho, no momento, está numa fazenda no Paraguai à espera de um momento oportuno para trazê-lo para o Brasil. Percorri o caminho da legalidade e quebrei a cara.
Não sei se o Sr. Celso Garcia trouxe para o Brasil aquele
gado zebu , mas, se o trouxe, esses animais, hoje, devem fazer parte do sucesso da pecuária nacional, uma das mais importantes do mundo, pois, aqui, o zebu encontrou o ambiente ideal para se desenvolver, além de ser o boi verde, que se alimenta de capim.
gado zebu , mas, se o trouxe, esses animais, hoje, devem fazer parte do sucesso da pecuária nacional, uma das mais importantes do mundo, pois, aqui, o zebu encontrou o ambiente ideal para se desenvolver, além de ser o boi verde, que se alimenta de capim.
Celso Garcia Cid, já falecido, é hoje uma lenda nacional. Dizem que ele era tão entusiasmado pela pecuária que, ao morrer um dos melhores reprodutores de sua fazenda, um touro zebu, naturalmente, mandou empalhar o animal e exibi-lo no salão de sua propriedade. Não sei se é verdade ou lenda, mas ouvi essa história de uma pessoa que sabia das coisas.
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